"Pediu 50 escudos por cada garrafa, eu ofereci 20 e o fulano aceitou sem mais discussão...percebi que o Armando já estava arrependido de também não ter feito negócio."
Amílcar Camacho …
Situamo-nos nos anos 1965/6, por aí. Frequentávamos na altura o Externato Pitágoras, a fazer a Secção Preparatória para ingressar no Instituto Comercial.
Uma noite fomos ao Cinema Monumental ver o filme as “ Sandálias do Pescador”, com o Anthony Quinn. Depois do filme, na rua, fomos abordados por um individuo com um saco na mão cheio de garrafas, dizendo ser tripulante de um navio que tinha chegado nessa noite a Lisboa e tinha umas garrafas de whisky para vender baratinhas. Pediu 50 escudos por cada uma, eu ofereci 20 e o fulano aceitou sem mais discussão.
Era Jonhy Walker, com boa aparência, produto de qualidade, do melhor que havia na Escócia. O Armando não quis nenhuma com o argumento que devia ser vigarice.
Fomos descendo a Fontes Pereira de Melo falando no negócio, seria bom…não seria. Se fosse bom tinha sido uma pechincha, na altura uma garrafa de whisky deveria custar mais de 100 escudos, se fosse mau eram menos 20 escudos no bolso. Mas eu percebi que o Armando já estava arrependido de também não ter feito negócio.
Então propus-lhe a cedência de metade do negócio, dava-me 10 escudos e tinha direito a metade da garrafa… o que aceitou de imediato dando-me logo os 10 paus.
Fomos até à Alsaciana, na Escola Politécnica, em grande expectativa para abrirmos a garrafa. Retiramos o invólucro e sob a rolha metálica havia uma rolha de cortiça ainda a cheirar a azeite. O conteúdo não era mais do que chá a imitar whisky.
Volta-se o feitiço contra o feiticeiro…se no início era o Armando a gozar comigo por ter feito o negócio, agora era eu a gozar com ele por não ter resistido à oportunidade da pechincha. Esta garrafa foi parar a Messines, e numa noite de copos, antes de embarcar para o Ultramar… foi servido no Romeu como whisky que parecia, depois do Manel ter trocado parte do chá por medronho.
Amílcar
O Camacho é o meu primeiro amigo algarvio. Apresentou-me muitos dos seus amigos de infância que se tornaram e mantêm meus grandes amigos.
ResponderEliminarEsta é uma das dívidas que tenho para com o Amílcar Camacho.
Tornei-me oficiosamente padrinho do seu primeiro filho a quem ofereci uma garrafa de Whisky, do verdadeiro (custou-me mais de 300 escudos), quando nasceu. Acho que é a única prenda que ainda mantém.
Tornamo-nos, assim, compadres sem interferências alheias e sem necessidade de submeter a criança ao sacrifício da pia baptismal.
Em regime de reciprocidade e nas mesmas condições, reforçámos o compadrio quando a minha filha nasceu. O Camacho passou, assim, a padrinho da Patrícia.
Com a confiança que adquirimos permitíamo-nos tratar mutuamente por nomes pouco normais, para gente civilizada, que chegavam a pôr em causa o bom nome das nossas mulheres.
Nesse contexto, um dia o Camacho telefona para a minha casa e perguntou à Patrícia: Quem fala? É a filha do chifrudo? Tendo como resposta: Não daqui fala a afilhada.
Nas minhas viagens ao Algarve conheci os pais do Camacho e aproveitei-me bem da sua hospitalidade (nem pareciam algarvios).
A D. Ermelinda foi a mulher mais sincera que já conheci. Sempre que me encontrava e logo depois dos cumprimentos, dizia-me em tom crítico: Está tão gooordo!...
Ena cum escamartilhão!!!
ResponderEliminarQuem é que se punha agora a adivinhar que a Patrícia era assim imediata e repentista, no ricochete perfeito!!!
No que toca a defender os Queiroses não há tempo a perder!
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