"O sucesso do Armando na carreira profissional ... conseguido sem apoios,
sem favores, mas a pulso com a sua vontade própria".
Luís Rodrigues
É na infância e juventude que se forjam mais facilmente as amizades, em regra, as mais duradouras, mas ao longo da vida também se consegue fazer novos amigos, nos locais de trabalho, na vida militar ou nos convívios familiares.
Relembro que já devia frequentar o 5.º ano ou talvez o 6.º quando o Queirós (Luís) me apresentou aos irmãos Armando e Norberto que eu já conhecia de vista. Numa cidade como a Guarda e naquele tempo a casa F. Gião era o principal distribuidor de electrodomésticos, a televisão nascera havia poucos anos e os frigoríficos, os fogões e outros maravilhosos produtos de consumo começavam a entrar nas casas dos mais remediados e na carrinha (ou seria uma furgoneta?) lá andava o Armando a correr as ruas da cidade e arredores.
No liceu da Guarda, cidade para onde fui desterrado aos onze anos, havia de me calhar na turma G o n.º 18, ao Veiga o n.º 19 e ao Queirós o 20. Essa proximidade havia de manter-se até ao 7.º ano, seguindo depois cada um a sua própria vida por caminhos distintos, mas conservando sempre as ligações afectivas que aí tínhamos criado e que soubemos manter ao longo da nossa existência. A amizade com o Armando é pois uma extensão natural derivada da ligação familiar que começou na taberna/pensão do Zé Queirós; aqui nos sentávamos à mesa de vez em quando para saborear o repasto que a Dona Aida tão bem sabia preparar. Foi aí que o Luís Queirós me fez entrar na sua roda familiar.
Os tempos foram passando, muda-se de cidade, vem o serviço militar, o curso e por fim o emprego em Lisboa. Para os contactos e o conhecimento de uns e outros o referencial é o Luís Queirós. Agora os encontros com o Armando passam a ser mais frequentes e acontecem quer em casa do irmão Luís, quer na festa do “bucho” propiciada pelo casal Veiga. Nas sardinhadas, em Rio de Mel só tive a sorte de o apanhar e à Fátima três vezes. Espero vê-lo por cá mais vezes. Nas manifestações do 25 de Abril os encontros com o Armando e a Fátima tinham um carácter mais fortuito mas davam alegria aliando sentimentos de ideais e de amizade.
Mas foi aquando das homenagens realizadas em Almeida, primeiro à mãe e depois ao pai pelos irmãos Queirós, para que foram convidados os amigos, que a estatura da personalidade do Armando ficou para mim mais definida.
Da Guarda recebera do Armando a mensagem sobre a importância do trabalho no incentivo à confiança para os desafios da vida. Nos convívios em Lisboa, quando ele recordava com manifesto orgulho os tempos do primeiro emprego para saborear a importância da sua independência económica, o contraste da minha vida de estudante parasitário daquela cidade saltava-me à memória. Que nos podia ensinar o burgesso do Zé Vilhena, o incompetente do Chicharrão (Agostinho de nome) ou aquele bacoco do Tónio Pinto para o qual eu não soube ser indulgente, pois naquele tempo ninguém me tinha avisado que aquele ser, era um representante próximo do Homem de Neanderthal. Eles foram directamente responsáveis pelo não conhecimento atempado que devíamos ter tido da história, da matemática e da físico-química.
Nas festas do “bucho” apercebi-me que na criação de cenários construídos para animar o pessoal, lá estava a criatividade e o humor do Armando a emparelhar ou mesmo a sobreporem-se aos do irmão Luís.
Foi durante as homenagens aos pais que pude confirmar que o repositório das memórias da casa da aldeia estava integralmente gravado naquela cabeça. Vale a pena ler a rica prosa desses textos que o Armando aí soube registar. Bons momentos de vida com o clã Queirós.
Devo confessar que sinto alguma inveja do amigo Luís Queirós, ao não ter tido como ele um irmão Armando, mais velho, que fosse acompanhando os meus passos e me tivesse ensinado a vencer as múltiplas barreiras que a vida me foi colocando.
O sucesso do Armando na carreira profissional tem mais valor acrescentado e merece mais respeito por ter sido conseguido sem apoios, sem favores, mas a pulso com a sua vontade própria, o que se impõe como referência.
No âmbito familiar, como marido, como pai e como avô podemos ver como os afectos, a generosidade e o amor sustentam a felicidade da Fátima, da Patrícia e do Daniel.
Agora nos setenta, só queremos que nos próximos dez, ou seus múltiplos, possamos continuar a cultivar neste nosso círculo de amizades, um amigo como o Armando Queirós.
Um abraço
Luís Rodrigues
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