sábado, 19 de maio de 2012

Excertos de uma vida


"Aqui ficam algumas marcas de uma vida que vale a pena recordar e avivar, e que pode servir de exemplo para os mais novos"
Norberto
 


É já com alguma saudade que recordo excertos de como foi o começo das nossas vidas.

 Nascidos numa aldeia bem do interior, eu e mais três irmãos, cedo começámos a saber o que era a dureza da vida. O nosso pai agarrava-se a tudo, desde tratar o campo, barbeiro, talhante, etc. para nos sustentar..

Um dia apareceu-lhe a oportunidade de ir trabalhar para Angola, mas, passados seis anos, uma doença fê-lo regressar. Nós estávamos a crescer e tinha que arranjar algo para nos sustentar..

Foi na década de 50 do século passado. Surgiu então a possibilidade de comprar um negócio na Guarda, a nossa cidade que nos viu crescer para a vida. O que seriamos hoje se não tivéssemos vindo da aldeia para a Guarda? Talvez agricultores, pastores ou pedreiros..

Fomos vindo para a Guarda às prestações e, na cidade, quase tudo para nós era atractivo, desde o movimento dos carros, autocarros, comércio, polícia, bombeiros e muito mais coisas. Até a alimentação era diferente (lembro-me dos papossecos com mamilos da padaria do Sr. Lucas, eram tão bons!) .

O tempo corria e, nós os filhos, tínhamos que ter alguma ocupação. Passado algum tempo o António, eu e o Armando começamos por frequentar a escola dos Gaiatos, que era nocturna e tinha a D. Dores como mestra. A dona Dores era como uma segunda mãe dos gaiatos, fazia tudo por eles, até lhes arranjava emprego..

Um dia, arranjado pela D. Dores, surgiu então um emprego para a casa de electrodomésticos "F. Gião".  O felizardo desta vez foi o Armando, e lá foi todo contente. Tinha como colegas os Srs. Flores, Zé, Álvaro, Amílcar e na técnica o Sr. Nascimento..

Certo dia alguém pensando que eu era o Armando, encontrou-me na "Casa dos Sumos" e perguntou-me: “Oiça lá, o meu ferro eléctrico nunca mais está pronto?”. E toca a pagar-me o lanche. Tive sorte..

Entretanto, o tempo passou e chegou a altura do Armando ir para a tropa, e quase como todos os mancebos foi parar ao ultramar.

Após o serviço militar cumprido era apanágio as pessoas mudar de profissão, uns para a PSP, outros para a GNR ou Guarda Fiscal, etc...

Regressava o Armando de Cabinda e , ainda ele vinha no paquete, surgiu então um concurso para o Banco Lisboa & Açores, onde eu já trabalhava. Inscrevi-o no concurso, que foi algum tempo depois de desembarcar, e, como já era espertalhão, ficou aprovado, e lá foi desempenhar com relevo a profissão de bancário..

Durante largos anos, bastante novo, o Armando facilmente arranjava amigos, desde os bancos de escola. O Zé Ruivo, o Zé Fonseca na Guarda, o Mendonça, o Carlos Santos, o Barrigana, o Manuel Cerdeira, entre outros. Alguns já não estão entre nós. Na tropa também alguns, entre os quais destaco o Santarém da Covilhã, que quando nos encontramos pergunta sempre pelo meu irmão. E no banco devem ter sido amigos sem conto..

Em traços largos assim se passou a vida activa do meu irmão..

O Armando sempre foi bom filho, é um excelente marido e pai, é um bom irmão e até já é avô..

Decorridos os anos do activo, o Armando nunca parou de se dedicar a toda a família, com destaque especial a unir gerações..

Aqui ficam algumas marcas de uma vida que vale a pena recordar e avivar, e que pode servir de exemplo para os mais novos

Norberto Teixeira Queirós

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