"Só um homem de grande abertura de espírito como o Queirós, poderá
entender este meu atrevimento pelas referências feitas a este dia do
calendário que é o dia seu nascimento."
Sobral Dias
Por meados de Agosto de 1941, José Queirós e sua amada e solidária companheira conjugaram a sua fé com vista ao enriquecimento da sua prole e o resultado não os desiludiu, antes pelo contrário. Todas as divindades, conhecidas e desconhecidas, mas especialmente Deus Nosso Senhor, Jesus Cristo e sua mãe Maria Santíssima, em 1917 alcunhada de Senhora de Fátima, se empenharam para que a população de S. Pedro do Rio Seco visse o seu efectivo aumentado de mais um varão, a quem foi dado o nome de Armando Teixeira Queirós, exactamente no dia 13 de Maio do ano da graça de 1942, dia grande segundo o calendário litúrgico Português.
Aquele nobre e distinto burgo, paredes meias com a Praça Forte de Almeida que tão altos serviços prestou na resistência ao convencido imperador Napoleão, merecia aumentar a sua lista de notáveis onde pontuavam já distintos nomes como o de Eduardo Lourenço cujos méritos são reconhecidos não só pelas lusas gentes mas também pela intelectualidade internacional que tanto lhe admira a enorme cultura como a reconhecida independência de pensamento. Creio que foi o tratado de Alcanizes que no século XIII conferiu e garantiu a pertença definitiva ao Reino de Portugal de uma faixa fronteiriça onde se inseria S. Pedro do Rio Seco e, até aí, sempre disputada entre Portugal e Espanha.
Claro que aquelas gentes sofreram as influências dessas contingências e que durante e no pós-segunda guerra se viram entalados entre as prepotências do ditador de Ferrol e o seu amigo de Santa Comba Dão apadrinhados pelo “grande humanista!” Adolfo nascido lá para os lados de outra fronteira entre a Alemanha e a Áustria. Com ou sem as bênçãos das divindades oficiosas, uma coisa é certa, o pimpolho viria a revelar virtudes e qualidades invejáveis. Como “invejoso compulsivo “ que me reconheço, algumas delas lhe invejo, pecado que confesso pois como tal é considerado pelo catecismo da Santa Madre Igreja. Haverá alguma relação entre a data do seu nascimento, 13 de Maio, dia da senhora de Fátima, e aqueles predicados? De pouco vale a minha opinião como resposta, dada a minha condição de ateu.
Relembro aqui um episódio verídico. Um dia, já crescidote, confrontei a minha mãe com a seguinte pergunta: - sei que esteve em Fátima no dia 13 de Outubro de 1917 (dia em que os três pastorinhos tinham anunciado que a Senhora aparecia e se revelaria em milagres que sossegariam os incrédulos); o que é que a mãe viu? A pronta resposta veio de uma mulher honesta, independente e verdadeira : não vi nada mas muita gente apontava para o céu e afirmavam que a viam. Perguntava onde ela estava e diziam-me que a tinham visto passar por trás das nuvens. Eu bem espreitava mas nada via; não estaria na graça de Deus e não mereci vê-la. Foi também esta a explicação oficial da igreja perante os que não viram a Senhora empoleirada em cima duma azinheira e só aceitava, como interlocutores, os inocentes e humildes pastorinhos.
Todos os dias 13 de cada mês são dias de grande destaque mas o 13 de Maio é o dia maior do calendário litúrgico da Igreja Portuguesa. A Cova da Iria, outrora campo de pastagens de ovelhas e cabras é agora local sagrado de peregrinação obrigatória para quantos almejam a vida eterna; local também de visita obrigatória dos embaixadores de Deus na Terra com residência oficial no Vaticano e muitos dos bem-sucedidos homens de negócios que ali vão agradecer as graças recebidas. Nos referidos dias 13 as visitas assumem proporção de grandes multidões de pagadores de promessas, de infelizes doentes que palmilham léguas e léguas na esperança de merecerem a graça duma cura para os seus males e, misturados com todos, proliferam os profissionais do rapinanço que se ocupam em aliviar o mais possível os bolsos de tanta gente de boa-fé.
Só um homem de grande abertura de espírito como o Queirós, poderá entender este meu atrevimento pelas referências feitas a este dia do calendário que é o dia seu nascimento. Não lhe vou pedir desculpas por isso porque, isso sim, ele poderia considerar uma ofensa. Pura coincidência, Fátima foi também o nome dado à mulher da sua vida, mãe de sua muito querida Patrícia e avó do neto Daniel a quem incumbe o desígnio de continuar, respeitar e engrandecer o nome dos avós. Sei que para este, o materno, é a luz dos seus olhos e à avó Fátima fará esquecer a partida que os seus olhos lhe pregaram. Calculo a satisfação com que o Queirós recebeu a vinda do Daniel. Por todas as razões que dispensam especulação mas mais uma que quero aqui referenciar: passou a ter a quem legar a mais significativa herança do seu pai. Falo do último chapéu que cobriu a cabeça do seu pai e que, para ele significa muito e tem um valor inestimável. Que o Daniel saiba, um dia, compreender isso .
(continua)
Sobral Dias
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