sábado, 30 de junho de 2012

Dois Anos Perdidos (1) - A Viagem



"...aí vamos nós em direcção ao nosso quadrado de arame farpado, onde logo começámos a contar quantos dias faltavam para a viagem em sentido inverso."
Armando


O meu amigo Diogo, através da sua participação neste blog que os Administradores acharam por bem dividir em cinco Histórias de Guerra, descreve de forma brilhante e de memória, vários dos episódios do tempo que passámos “…naquele quadrado de arme farpado … num fim de mundo, a defender aquilo que nos não pertencia e para que nada contribuímos”.
 O Diogo optou por não comentar “episódios de guerra, patrulhas e quejandos” tal como os outros amigos da tropa que também participaram neste blog. Estamos todos de acordo. Por alguma razão ficámos amigos. Temos outras passagens, bem menos doentias, para recordar.

O embarque em Alcântara, depois de uma noite num comboio, ainda zonzos pelas farras dos últimos dias, terá ficado, por certo, gravado na memória de todos.
 Tínhamos organizado uma grande jantarada de despedida e acabámos por ir parar ao monte de um latifundiário alentejano, onde o nosso amigo David Coelho da Rocha achou por bem encher os bolsos das diversas variedades de enchidos que secavam numa cozinha. Ganhou chouriços mas perdeu um fato. Provavelmente a troca valeu a pena. Do fato não iria precisar nos dois anos que se seguiram.

Ou pela ressaca ou pelos balanços do Vera Cruz, brevemente começámos a sentir os primeiros enjoos. Quando comecei a sentir forças para sair do camarote e ir até ao convés já não havia terra à vista.

No quinto dia de viagem, algures no Atlântico, fiz 22 anos. Era mesmo novo. Mas ia já a caminho de uma guerra. A festa de aniversário não deve ter passado de uma garrafa extra, dividida com os companheiros de mesa. Nem se comia mal no Vera Cruz e percebemos isso bem, logo após o desembarque.

A paragem ao largo de S. Tomé, para deixar uma companhia, deu para perceber que já estávamos em África. Deu também para distribuir muitos dos maços de tabaco do Movimento Nacional Feminino, atirados para os diversos pequenos barcos que se aproximavam do navio.

A chegada a Cabinda, já bem descrita pelo Diogo, nem é bom lembrar. O salto para um batelão a baloiçar, a afastar-se e a aproximar-se do navio, conforme a ondulação, assustava os mais afoitos.
Penso que nunca fiz nada com semelhante risco. Na recruta ensinavam a saltar de camionetas, mas era em terra firme, aquilo era mais para fuzileiros.
No meio daquilo tudo aparece o “Pássaro Azul” (1º Sargento), homem com uma idade já pouco própria para aqueles saltos e mais batido naquelas andanças, agarrado à corda de um guindaste que descia as bagagens para o batelão. A antiguidade é, de facto, um posto, como eles diziam.

Atingido aquilo a que se chamava o Porto de Cabinda, um vasto campo pejado de troncos do Maiombe à espera de embarque, estávamos, enfim, na guerra.
 Entregue a cada um a arma que havia de o acompanhar durante dois anos e uma caixa de cartão com uma ração para 24 horas, aí vamos nós em direcção ao nosso quadrado de arame farpado, onde logo começámos a contar quantos dias faltavam para a viagem em sentido inverso.

(continua)

sexta-feira, 22 de junho de 2012

Ainda não Terminou!

"...o que verdadeiramente incentiva a fazer este esforço, são as fortes perspectivas de crescimento que se auguram..."
Armando

Está tudo dito. Não há nada a acrescentar. Num blog, criado a pretexto de um simples aniversário, com participação de 80 pessoas e mais de 3300 visitas durante um mês, o que é que se poderia dizer mais?

De qualquer maneira, como naquela carta que se escrevia à prima distante, lá tínhamos que pôr um P.S. quando, quase a fechar o envelope, nos lembrávamos que faltavam as saudações para a vizinha do lado, também aqui nos parece que terão ficado algumas pontas soltas, um ou outro ponto mal esclarecido ou, até, alguma conta para acertar.

A partir de agora e já sem a pressão de procurar comentar as três surpresas que nos apareciam diariamente, vamos tentar responder àqueles pontos, sem ordem cronológica, sem periodicidade, em jeito de comentário ou de esclarecimento e, em alguns casos, remetendo para textos anteriores.

É evidente que só me proponho fazer isto porque sei, à partida, que terei leitores que garantidamente não falharão uma vírgula. Para já, está assegurado o acompanhamento assíduo e atento de quatro cidadãos. Serei, obviamente, eu próprio que não poderei deixar de ler o que escrevo, não vá o corrector de texto indicar erros e não dar por eles.O Administrador encarregado de inserir os textos e fazer os destaques, sem o que a qualidade dos mesmos ficaria muito por baixo.

Uma leitora permanente que vai adorar tudo o que vier a ser escrito, ainda antes de ler já gostou e teria gostado também se tivesse dito o contrário. Até já me quis convencer que seria capaz de escrever um livro, só que não teve em conta que a D. Lia ensinou-me muita coisa mas não chegou a tanto.

A minha cabeleireira pessoal e exclusiva que adopta aquele velho princípio de que o freguês tem sempre razão e, portanto, o que ele escreve está certo. Temos, assim, um conjunto de leitores tanto em quantidade como em qualidade que justifica a iniciativa.

Mas o que verdadeiramente incentiva a fazer este esforço, são as fortes perspectivas de crescimento que se auguram. Podemos, desde já, garantir um aumento de 25% do número de leitores, a breve prazo, logo que um cidadão que já vai conhecendo algumas letras consiga juntá-las e formar palavras.

A partir daí, é só manter a velocidade de cruzeiro.

Armando

domingo, 17 de junho de 2012

(3) Não Tenho Defesa Possivel

"concedo-lhes uma oportunidade de se redimirem, repondo a minha imagem de pessoa respeitável, quando participarem no próximo blog: 
 Dez anos passam depressa."
Armando



 Mas quem diabo se lembrou de convidar os meus camaradas da tropa, para falar do meu passado? Com estes, era óbvio. Já um pouco gagás e como vergonha já não lhes resta muita, tinha que ficar completamente em pelota.

Há obrigações mínimas de camaradagem que deviam ser respeitadas. Ou porque os neurónios activos já não são muitos ou por falta de pudor, não tiveram o mínimo pejo de revelar ao mundo que eu era “o Belga”. Já agora, perdido por cem perdidos por mil, poderiam ter acrescentado que também havia quem me chamasse “o Valvulinas”.

Mas o pior nem foi revelarem a alcunha. Quando eu já tinha preparadas umas quantas histórias para contar ao meu neto sobre os meus actos heróicos durante a guerra, aparece agora, preto no branco, que afinal o meu papel se resumiu a manter em andamento uns carros podres que por lá andavam e a aturar uns reguilas que os conduziam. O que é que o meu neto vai pensar de um avô que andou numa guerra e nem a uma G 3 teve direito? Uma FBP para defesa pessoal e nem sei se funcionava.

Ainda bem que se esqueceram de dizer que naquilo a que os militares chamam “Aprumo”, fui o mais bandalho até ao último minuto, de tal forma que até para o desembarque tive que pedir uma camisa emprestada.

E quando só já me restavam as cuecas, ainda com uma leve esperança de não ficar completamente encoiro, lá vêm colegas do Banco lançar-me a acusação de ter assumido a função de representante do inimigo, ou seja, dos exploradores da sua força de trabalho. Lá se foi a reputação profissional que levei anos a fabricar e a fama de activista sindical em defesa do proletariado.

E já completamente despido, com tudo à mostra, surgem de todo lado, como setas contra S. Sebastião, declarações, aparentemente ingénuas, que deixam qualquer cidadão sem a mínima possibilidade de conviver em sociedade Desde a denúncia de ter dado guarida a gente que não acatava os sagrados princípios da ordem estabelecida e, como tal, permanentemente procurada pela polícia.

Os furtos praticados em pinhais de vizinhos. As viagens de pé-descalço “de campismo em campismo, de sandocha atrás de sandocha” e não aquelas viagens fantásticas que, em certos círculos, costumava relatar. O bife pedido por um convidado depois de uma refeição lá em casa; denunciando como eram recebidas as visitas no Monte Abraão. Até, forreta, chatinho e machista me chamaram.

Não tenho defesa possível.

Tudo serviu para que, a partir de agora, tenha que me manter numa espécie de prisão domiciliária e não tenha mais cara para pôr os pés na rua (nem pés nem o resto). Valha-me ao menos a frontalidade daquele indígena de Pedrógão Grande (de uma terra que aqui não digo o nome) que sem subterfúgios foi directo ao assunto, ao proclamar: “ O gajo não presta”.

Muitos ficarão desiludidos, esperariam que lhes agradecesse as amáveis palavras que me dirigiram. Estou, de facto, muito grato pelo esforço que fizeram, apesar de, a não terem medido as consequências, me terem deixado neste estado deplorável. De qualquer maneira e como prova que não estou ressentido, concedo-lhes uma oportunidade de se redimirem, repondo a minha imagem de pessoa respeitável, quando participarem no próximo blog:

80aindacaandas.blogspot.com

 Dez anos passam depressa.

Armando

sábado, 16 de junho de 2012

(2) A Minha Defesa - Destruiram o Meu Curriculo

"Só lhes faltou dizer que nos primeiros tempos trabalhei de borla e que o primeiro salário (também se dizia pré) era de 5 escudos por dia."
Armando


Espero que este não leia blogs
Todos sabiam que eu sou “do norte”, o que até dá um certo estatuto. Mas não precisavam de dizer, dando a conhecer a toda a gente, que venho lá duma terra que nem consta nos mapas ou, quando muito, só lá está uma pintinha, e que o curso de água que lhe deu o nome é um rio seco..

Mas não se ficaram por aqui. Quando dizia a alguém que tinha nascido na Casa da Varanda, uma casa que até deu nome a um jornal, via logo as pessoas a imaginarem-me, em pequeno, à janela de um solar beirão ou a brincar nos jardins anexos. Mostrada a fotografia e descrita a casa, ninguém diz nada mas pensam: “Afinal….”

Nem os da Escola Primária me pouparam. Como é que alguém ia descobrir que para conseguir fazer a quarta classe tive que suportar as bordoadas da D. Lia e aguentar aulas do nascer ao pôr-do-sol? E como se não chegasse, acrescentam ainda que nem um carrinho de corda tínhamos, só brincávamos à Chona, ao Beti, ao Picachão, ao Rilha…. Alguém minimamente civilizado, sabe o que isto é? Vá lá que não se lembraram de dizer que batemos numa colega porque nos denunciou à professora. Uma espécie de fura greves. (Agora que o crime já prescreveu já posso dizer: acho que fizemos bem)

A história da cabra também me incomodou um bocado. Ainda se fosse um rebanho, ainda vá que não vá, agora só uma cabra…Dizer que um indivíduo, em pequeno, foi pastor, já seria razão suficiente para o afastar de qualquer evento social. Quando, afinal, não passou de guardador de uma única cabra, o que é que se espera?

Os anos na Guarda “onde os pais tinham uma pensão” era o que toda a gente pensava e continuaria a pensar, não fossem uns “imprudentes” vir agora a alardear que afinal não passava de uma tasca, onde até ajudei a servir uns copos, nem sempre de boa vontade, diga-se.

Então quando chegamos à história do primeiro emprego, já não tenho dúvidas, estou aqui estou todo encarrapato. O assunto poderia ter sido abordado com outra dignidade; “foi convidado para integrar os quadros da Casa F. Gião, uma prestigiada firma da área da electrónica, onde conseguiu atingir cargos de alta responsabilidade na Divisão Comercial daquela empresa”. Assim, sim. Agora dizer:”foi para a Guarda e a D.Dores arranjou-lhe emprego, como marçano, no F. Gião”. Ao menos, ajudante de caixeiro, também não custava muito, era só uma pequena promoção.

Só lhes faltou dizer que nos primeiros tempos trabalhei de borla e que o primeiro salário (também se dizia pré) era de 5 escudos por dia. Para os que pensam que naquele tempo nem devia ser mau, digo-lhes que 5 escudos chegavam para duas sandes ou, mais ou menos, para três cafés.Não fosse o Ti Zé Queirós e a Ti Aida, lá teria que ir para o Centro comer e dormir, entregando os 5 escudos à D. Dores, como faziam os meus colegas que não tinham família na Guarda.

Armando
(segue)


(1) A Minha Defesa - Deixaram-me encarrapato


"Deixaram-me em pelota. Não precisavam de me ter feito isto."
Armando




Quando aqui há um mês me ofereceram um blog, a pretexto do meu 70º aniversário, fiquei todo contente. E o caso não era para menos, de repente vejo-me com um brinquedo na mão a que nem é preciso dar corda, alguém dá por nós, que é como quem diz; o blog é meu mas os outros é que escrevem.

 Também fiquei entusiasmado ao admitir que todos iriam falar bem de mim. E não me enganei muito, tirando para aí um gentio que disse: “o gajo não presta” o balanço até é positivo.O pior foi o que estava para vir. Ninguém contava. Os administradores não o fizeram por mal, os amigos também não, mas o que é verdade é que ninguém mediu as consequências.

Eu que tinha uma versão das minhas origens e do meu passado, das minhas histórias e da descrição das minhas viagens, conforme o estatuto do interlocutor, agora que foi posto tudo a limpo só me resta meter a viola no saco e não aparecer mais à frente de ninguém.Deixaram-me completamente encarrapato, nu, encoiro, despido, em pelota, demplão. E só não digo descascado, porque não se utiliza no masculino. Formas do verbo descascar é só para mulheres e é quando são novas e boas.

E agora? Como é que vou passar o resto da vida em pelota? Ainda se tivesse para aí uns 40 ou 50 anos a menos, ainda vá que não vá. Quem é que vai ligar a um velho, encoiro?Não sei o que hei-de fazer. Já me lembrei de seguir as orientações governamentais e pisgar-me daqui para fora, mas também não resolve. Em qualquer canto do mundo, no lugar mais remoto, qualquer cidadão, através do Google, teria acesso à minha nudez.

Como é que os vizinhos, a empregada do café, os antigos colegas, os companheiros de viagens, os adeptos do Benfica, os confrades do Bucho, os consórcios de todos os clubes e associações de que faço parte e até os amigos dos meus amigos, vão olhar para mim a partir de agora?

E logo eu, que tudo fiz e inventei para ganhar um ar mais ou menos respeitável e que se ia consolidando à medida que a cabeça ficava mais branca. Era respeitado por toda a gente, para uns era o “Senhor Armando”, para outros o “Senhor Queirós” e os que não sabiam o meu nome diziam simplesmente “O Senhor”. E havia até quem, com nome ou sem nome, acrescentasse “Senhor Doutor”, como a tia Carolina da Seramena.

A partir de agora, em termos de tratamento, devo passar a ser conhecido simplesmente por: “O Armando”. E já me dou por satisfeito, se não me arranjarem alguma alcunha pejorativa, derivada de encarrapato, de demplão ou de encoiro ou, sabe-se lá, se não inventam outra pior. Há gente para tudo.

Não precisavam de me ter feito isto.

(Segue)

sexta-feira, 15 de junho de 2012

Levante-se o Réu

Vai ser dada a palavra ao acusado para as alegações finais."
Administração


Armando com 2 anos
O blog está a chegar ao fim. Cumpriu a sua missão. Os amigos do Armando vieram testemunhar e disseram de sua justiça. O homem foi revelado em todos os seus aspetos, a sua vida foi passada a pente fino. É certo que alguns amigos aproveitaram este forúm para fazer ajustes de velhas contas. No entanto, foram feitas algumas acusações pertinentes que obrigam a esperar pelo veridito final.

 O Armando foi acusado de :

  • Ser amigo do seu amigo quando a amizade parece já não ter o valor de antigamente.

  •  Manter as amizades quando tudo se troca por um punhado de lentilhas.

  •  Ser humilde quando a humildade já não rende juros, e a ambição é que leva à promoção e ao sucesso, que são os valores dos tempos de hoje.

  •  Ser um marido, um pai e um avô exemplar quando as famílias são cada vez menos o cimento da sociedade em que vivemos.

  •  Não ter usado a sua inteligência e as suas capacidades para se afirmar na busca do poder, da glória ou da riqueza.

  • Nunca usar gravata, revelando-se contrário aos bons costumes e numa clara atitude de afronta aos valores da economia de mercado.

  • Ser forreta, não contribuindo assim para estimular o consumo, o crescimento e o emprego.

  • Revelar arrogância relativamente a certos povos do sul, nomeadamente Algarvios e Alentejanos.

Temos, pois, de dar a palavra ao acusado para as alegações finais. É esse o tempo que se segue.

A administração

Cada um Dá o Que Tem

(...) 
Daniel

Daniel

Cultivar e Manter as Amizades


"Pelos teus 70 anos, encontrámos esta forma de falar um pouco sobre ti. Agora vê lá….. não mudes, se não, nos próximos 70 anos, teremos que fazer as devidas erratas!"
Raquel e António José

A_ AVÔ - Já tens um neto…o maior privilégio que a natureza oferece ao homem: a descoberta de todas as descobertas, a simbiose entre o saber e o aprender. Depois… um, já não vive sem o outro!

R_ RESPONSÁVEL – Ao que sabemos desde muito novo e até hoje. Responsável como cidadão, como trabalhador, como filho e sobretudo como pai. Incondicionalmente

M_MARIDO – Companheiro, colaborante, maridão. Sempre pronto a ajudar a Fátima, que não te dispensa. Pudera, desempenhas na perfeição o papel que te cabe!

A_AMIGO - Dos velhos e bons. Sempre presente nos bons e maus momentos. Prudente, como todo o beirão que se preza, cultivas e manténs as amizades ao longo da vida

N_NORMAL – Alguém te perguntou um dia: “Também és algarvio?” E tu, pronta e rapidamente: “Não, eu sou normal!” (Que nos perdoe algum algarvio!)

D_DEMOCRATA – Bom, não és um democrata cá dos nossos, mas nos dias que correm…já não é nada mau. Antes assim.

O_OBSERVADOR – Característica que se interliga com o inteligente sentido de humor que te caracteriza.



Q_QUEIROS - O teu nome de guerra. Forte como o teu signo, persistente, leal, um verdadeiro “ touro”.

U_ ÚNICO director do Totta a dispensar a gravata.

E_ ECONOMISTA - Foi o curso que escolheste para ganhar a vida. Lembras-te do Palladium? A nossa “sala de estudo”, onde permanecíamos sentados, estudando, mesmo depois do empregado nos retirar a mesa, após várias horas, consumindo apenas 1 bica… Bons tempos!

I_ INVESTIDOR – Para comprar e vender imobiliário não há como tu. E sempre com sucesso!!!

R_REFORMADO – Apenas do Totta!

O_ ORGANIZADOR - Que o digamos nós quando gozamos as óptimas viagens que já realizámos contigo e organizadas ao pormenor. A propósito: Já pensaste na próxima?

S_SIMPÁTICO - q.b. e tens dias! Estamos a brincar. És simpático sim senhor. E além disso: Tu és um bom companheiro!

 Raquel

quinta-feira, 14 de junho de 2012

Velhos São os Trapos



"Estou um pouco baralhada, são 70 ou 80?"
Zezinha
Zézinha

Especialidade Militar Explicada

 "teria sido na rua Malpique que ele adquiriu o seu “know-how” sobre veículos..."
Inácio Neves

Tenho vindo a seguir com muita curiosidade o Blog do Armando Queirós. Em reconhecimento da digna família que são os Queiróses, e dado que com quase todos eles mantenho uma relação de amizade, gostaria de acrescentar ao que já foi dito alguns episódios passados nas décadas de 60 e 70 do século passado e dos quais eu fui, como amigo, testemunha.

 De José Queirós, pai dos quatro filhos, relembro uma personalidade muito justa que exigia ser amigo ao primeiro contacto. Personalidade que logo na primeira conversa estabelecia um modo de convivência que deixava refém o seu interlocutor, e tínhamos, assim, um amigo para a vida. O mesmo se passa com os seus filhos e de que o próprio blog do Armando é testemunha.

Mas dado só agora saber que o Armando foi, no serviço militar, o estratega dos veículos militares na defesa da soberania nacional em Cabinda, interrogo-me a mim próprio se não teria sido na rua Malpique que ele adquiriu o seu “know-how” sobre veículos vindo, mais tarde, o exército a reconhecer-lhe tais predicados.

Teria ele observado enquanto vivia nesta rua um DKW a dois tempos, de alta tecnologia, propriedade de Moisés Covita cujas avarias eram constantes; e um Volkswagen Carocha propriedade de Agostinho Gonçalves que era o orgulho do seu proprietário, e um Citroen, tipo Diana, do Sr Borges, e que era uma referência do seu restaurante.

Alem destes veículos, estacionava, por vezes, na rua Malpique, um automóvel de cor branca, com motor na retaguarda, de marca Fiat, classe 600 D, que se poderia considerar um táxi por fazer a rota Lisboa-Caparica e vice-versa transportando amigos do proprietário de nome Miguel Neves com tarifário de acordo com a época.

Penso, por outro lado, que o coração do Armando acelerava as suas pulsações quando lhe era anunciado que o seu irmão António tinha tido mais um acidente no seu VW carocha já adquirido enquanto residia na Estrada da Torre, acidentes normalmente ocorridos em curvas para a esquerda que o condutor não conseguia desfazer! Penso que o António deixou de ter carta, e,  como não sou informado de mais acidentes, presumo que ele já deixou de conduzir!

Muitas outras coisas poderiam ser contadas, mas isso fica para outra oportunidade.

Bem hajas, Armando

Inácio Neves

Saudades de Montesouros


"Recordo com nostalgia
Esses felizes momentos"
Júlia Silva

                
                     Horizontes de memória
                     A Montesouros ligados
                     Ainda contam histórias
                     Desses anos já passados


                     Recordo com nostalgia
                     Esses felizes momentos
                     Que dia, após outro dia
                     Aprofundou sentimentos


                     Crianças soltam risadas
                     Brincando, até escurecer
                     Descendo, subindo escadas
                     Até o sono as vencer


                    Os anos foram passando
                    Dando lugar à saudade
                    E a vida continuou
                    Longe vai a mocidade
                    Mas o nosso amigo ARMANDO
                    Aos 70 já chegou


Um abraço Júlia

quarta-feira, 13 de junho de 2012

Acontecimento do Ano em Portugal


"Elogio as tuas qualidades de Marido, Pai, e, especialmente, Avô e, ainda, amigo do seu amigo"
Vitor Machado



Vindima na Seramena

"fomos utópicos, idealizamos que era possível construir uma sociedade democrática, onde prevalecesse a justiça social. "
Eduardo João



Falar do meu amigo Armando Queirós é ao mesmo tempo um enorme prazer, mas também uma dificuldade. Não cabe num pequeno texto, como se pretende que seja esta minha breve intervenção, tudo quanto havia para dizer sobre este nosso particular amigo.

Conheci o Queirós em 1969 ou 1970, não posso precisar exactamente, também não recordo o local onde o conheci, provavelmente em Económicas ou no nosso Sindicato. Mas tenho a certeza de que já tinha ouvido falar no seu nome. Talvez através de um seu conterrâneo, filho da sua professora de instrução primária, que conheci, quando fui trabalhar para a Banca, ou, eventualmente, do nosso amigo “nabo acrílico” conhecidos dos tempos do Instituto Comercial de Lisboa, que falava do Queirós com grande admiração pelos seus vastos conhecimentos de matemática.

Não nos foi difícil consolidar uma amizade sólida, após nos conhecermos pessoalmente e contactarmos com frequência em Económicas, já na presença da nossa querida Fátima, ou no Banco onde trabalhamos durante muitos anos.

Temos origens semelhantes, nascemos em pequenas aldeias, embora distantes no espaço, ele na Beira Alta Raiana eu na Região Oeste. Somos filhos de famílias modestas, mas que, no entanto, nos transmitiram os ideais democráticos, a consciencialização política e o gosto pela aprendizagem e pelo conhecimento.

Vivemos intensamente o 25 de Abril de 1974, fomos utópicos, idealizamos que era possível construir uma sociedade democrática, onde prevalecesse a justiça social. Julgamos que essa sociedade estava já ali ao virar da esquina. Tivemos vitórias pessoais, discutimos algumas vezes esses pequenos êxitos e apesar da nossa frustração de vermos cada vez mais distante aquela sociedade que idealizávamos, foi um tempo muito gratificante, que valeu a pena viver. Embora na mesma empresa nunca trabalhamos juntos, mas encontrávamo-nos com frequência, almoçamos muitas vezes com outros amigos comuns e o tema das nossas conversas andava por norma à volta dos nossos ideais, como não podia deixar de ser.

Não poderei esquecer uma tarefa que desempenhávamos anualmente com outros amigos, diria quase uma “peregrinação”, a vindima na Seramena, um dia pleno de festa e de convívio, hoje impossível de repetir. Os anos passaram, perguntamos a nós próprios, como foi possível que o nosso País tenha chegado onde chegou? Preocupa-nos designadamente o futuro dos nossos netos. Mas estamos de consciência tranquila, porque em nada contribuímos para esta situação.

Resta-nos aproveitar o melhor possível, as nossas disponibilidades e o nosso tempo, embora dispersos podemos e devemos encontrar-mo-nos mais vezes para almoçar e conversar um bocado. “Recordar é Viver” Um grande abraço caro amigo Armando Queirós.

Eduardo João

Lições a uma Jovem Retornada

"disseste que, nas passadeiras,  quando o boneco estava vermelho podiam atravessar as mulheres e quando estava verde atravessavam os homens! eu pensei: “são bastante conservadores”!"
Luísa Queiroz


Quando recordo os primeiros tempos da nossa convivência quando vim de África, sem nunca antes de ela ter saído, sempre me vem um sorriso aos lábios e um certo prazer à memória! Após pouco tempo em São Pedro, o Armando e a Fátima convidaram-me para passar uns dias com eles na sua casa em Lisboa!

Comecei a sentir que a Europa e África apresentavam francas diferenças entre si!

Na altura já tinha sido informada que pelo facto de não deixar de ver casas durante uns bons Km, entre Lisboa e Santarém não significava que Lisboa não tivesse já ficado para trás e estivesse noutra cidade. Mas muito ainda tinha que aprender!

O Armando sempre solícito não deixou de esclarecer algumas das minhas dúvidas. Quando após uma semana em Lisboa, finalmente reparei que junto aos semáforos havia uns “bonecos de pessoas” que ora eram vermelhos ora eram verdes e perguntei para que serviam aquelas imagens, rapidamente, e com alarmismo me disseste que provavelmente andava a atravessar as passadeiras contra a lei, porque quando o boneco estava vermelho podiam atravessar as mulheres e quando estava verde atravessavam os homens! Estranhei esta separação entre homens e mulheres, mas pensei, “são bastante conservadores”!

Mas tu confiavas na minha capacidade de aprendizagem! Quando andávamos de carro por Lisboa por vezes dizias: – Se te deixar agora aqui, já consegues ir para casa sozinha! Nem te conto a quanto subia o meu ritmo cardíaco após essas afirmações.

E quando vi a praia da Costa da Caparica do local do restaurante do Barbas, nem queria querer que tantas pessoas pudessem caber naquele espaço de areia e água, nunca tal tinha visto, mas sei que também me deste uma boa explicação porque apesar de não me lembrar o que foi sempre que recordo essa imagem tenho vontade de rir (no meu inconsciente ainda persiste a tua explicação) doutra forma só poderia chorar, com saudades das praias da minha terra.

Mas também recordo muito bem a tua imagem com uma camisola velha com decote em “V”, no qual a Patrícia era metida com o corpo dentro e os bracitos fora do decote (um marsupial humano). Uma alegria para vós e para mim, só de apreciar o vosso prazer.

Mas tínhamos algo em comum! O amor pelos livros. Ainda me lembro de ler alguns dos teus nessa altura: Capitães da Areia, O Valente Soldado Chveik e mais alguns!

Obrigada Armando! Por tudo o que fizeste por mim e por esse teu sentido de humor único, que eu muito aprecio.
Luísa

terça-feira, 12 de junho de 2012

Sabedoria e Paciência

"Recordo-te como um velho companheiro de guerra e com uma sabedoria e infinita paciência para aturar quem comandavas!"
 António Galamba de Almeida

 Belga

 Soube pela Patrícia que a 13 de Maio de 1942, não na Cova de Iria mas sim na Guarda, viste á luz do dia.

Ou seja 70 aninhos e já só faltam 30 para os 100!

Recordo-te como um velho companheiro de guerra e com uma sabedoria e infinita paciência para aturar quem comandavas! Alguns deles muito pouco recomendáveis...

E com isto já lá vão 48 anos meu amigo! Espero continuar a encontrar-te no Estádio Universitário, com boa disposição e saude! É bom para os dois...
Um grande abraço.

Almeida

Quando Bater Diz !

"tens que me dizer quando é que finalmente vemos um museu do princípio ao fim."
Hugo Camacho

 Caro Queirós,

"QUANDO BATER DIZ"

Contigo exploramos o continente de lés a lés. De campismo em campismo, de sandocha atrás de sandocha.

Atrás do Pompidou e da torre Eiffel sempre à procura de um desconto no farnel. Companheiro de muitas aventuras, a gente a todas ia, de carrinha ou a pé...desde que houvesse um kebab ali ao pé.

Setenta aninhos, és o dobro de mim, mas tens que me dizer quando é que finalmente vemos um museu do princípio ao fim.

Com a furgoneta e o malhão levamos Portugal lá fora, mas os escudos, esses trouxemo-los quase todos de volta

"PRONTOS JÁ BATEU!"

Muitos parabéns e um grande abraço

Hugo

Pessoas Especiais não se Esquecem!

Achavas que me tinha esquecido de ti!? nem pensar!
Mónica Abreu



As pessoas especiais são como um bom livro. Numas páginas são companhia, noutras surpreendem, aconselham e ensinam. No final são maravilhosas e jamais se esquecem .

Achavas que me tinha esquecido de ti!? nem pensar! Um feliz ANIVERSÁRIO, Cheio de alegria! E que venham muitos mais!

Mónica Abreu,
madeirense. bjs

segunda-feira, 11 de junho de 2012

Ladrões de Pinhas

"aparece o dono, com uma espingarda ao ombro e pronto a disparar contra os "ladrões"..."
Helena Proença


Patrícia: Tenho muito gosto em partilhar convosco a festa do aniversário do teu pai. Muito obrigada por me possibilitarem a entrada nesse grande dia, 13 de Maio.

Tenho gravado na minha memória ó(p)timas recordações ao longo das nossas vivências. O seu humor tão castiço, a sua boa disposição e o estar sempre pronto para toda e qualquer eventualidade tem sido uma constante ao longo da sua vida.

Poderia, com efeito, enumerar um número infinitamente grande de situações bem caricatas que nos proporcionaram momentos inesquecíveis, gargalhadas que tão bem desopilram nossos fígados! Estou, neste preciso momento, a lembrar-me do seguinte episódio, vê lá se te lembras, óh Armando: Há, pelo menos, 26 anos, pois o meu Miguel, ainda não era nascido, logo no início da nossa entrada em Montesouros, fomos às pinhas, a um pinhal bem próximo da aldeia, era o que diz "2 em 1", pois, ao mesmo tempo que arrecadávamos pinhas para a lareira, estávamos a contribuir para a limpeza do pinhal, não é verdade?

Ora bem, acontece que, quando já estávamos de saída, aparece o dono, com uma espingarda ao ombro e pronto a disparar contra os "ladrões" que estavam tão descaradamente a ususupar-lhe algumas das imensas pinhas que proliferavam no pinhal. O homem estava mesmo "bravo", houve necessidade de chamá-lo à "razão", serenando-lhe os ânimos tão empolgados. Mais tarde, já em casa, riamo-nos que nem "uns perdidos" com a história. Convém sublinhar que nos tornámos, posteriormente, amicíssimos do Sr. António, dono do pinhal.

Mas, atenção, não ganhámos para o susto!!!!

Querido Armando, poderia, na verdade, divagar para tantas outras histórias tão bem vividas por todos nós, mas, para que? A nossa memória irá procurá-las, sempre, sempre que for oportuno. Obrigada por todos estes belos momentos e faz favor de continuar assim, nosso querido "malucão" e claro, parabéns pelas tuas lindas 70 Primaveras. Continuação de muitas e muitas felicidades.

Um sacão enorme de beijinhos Lena

Nâo Brinquem com a Terceira Idade!

"O que é preciso agora é agarrar o presente, encarar o futuro absorvendo um momento de cada vez"
António de Almeida


Corria o mês de Fevereiro do ano do Senhor de 1982, tínhamos menos 30 anos, mais cabelo e menos cãs. Enfim … outros e melhores tempos.

Cidade da Praia, hotel do Mar. Estirados nas cadeiras contemplávamos o movimento da praia, que se estendia à nossa frente, com aquele ventinho sempre a soprar na mesma direcção, colocando as árvores todas com a inclinação para o mesmo lado.

Igualmente íamos contemplando a azáfama que por trás de nós se desenvolvia no hotel, com todas aquelas mulatinhas achocolatadas seringando de um lado para o outro, a aprender a arte da restauração, sob a batuta de uma equipe francesa, de que fazia parte uma anafada francesa, mulheraça grande e gorda, a vender saúde, que de quando em quando, pela calada do crepúsculo, lá passava enroscando sob o seu forte braço um engenheiro português das Construções Técnicas. O nosso ar embevecido e com água a assomar ao canto (ou seria aos cantos…) da boca quando passava aquela linda mulatinha de cabelos loiros e olhos verdes, parecendo surgir do Éden. Não recordo o nome. A miúda era mesmo um espanto sobressaindo do resto do pessoal, pelo seu exotismo. Como será hoje passados estes 30 anos? Certamente que se transformou numa lontra rodeada de filhos. Terão igualmente olhos verdes e cabelo loiro?

Quando te chamávamos a atenção para aquela linda cabo-verdiana, tu invariavelmente respondias: “cuidado não brinquem com a terceira idade”. Tinhas 40 anos. Terceira idade! O tanas. Nem agora, com 70 anos, os cabelos mais ralos, mais brancos e a barriguinha a mostrar alguma protuberância.

Os fins de semana com os seus bailaricos de sábado à noite ao som dos Bolimundo ou dos Tubarões, connosco a apreciar o ar dançarino dos autóctones, ou ainda as idas aquele bar a céu aberto, onde se bebia whisky a 35$00 cabo-verdianos e, não raras vezes, a noite acabava com algum, do parco mobiliário existente, qual animal alado, voando pelo ar, encontrando, por vezes, alguma cabeça mais distraída, antes de cair no chão.

Os azafamados chineses, que agora se instalaram em África e querem comprar a Europa, tendo assentado arraias em Portugal, já naquele tempo andavam por terras de Cabo-Verde, na construção da Assembleia Popular.
 
Meu Caro Armando. Com ou sem terceira idade no horizonte, o passado é passado. O que é preciso agora é agarrar o presente, encarar o futuro absorvendo um momento de cada vez e, para não amocharmos muito, temos de pegar a troika pelos cornos … da desgraça, como o Tordo agarrou o touro, na cantiga do Ary.

Desejo-te um óptimo 70.º aniversário.

António de Almeida

Retrato em Dois Tempos - Segundo


"...vou lembrar o Armando que conheço:"
José Ribeiro

O Armando bem disposto, que tem sempre uma estória oportuna (É interessante que nas muitas horas de conversa, nas muitas peripécias que contaste nunca entrava a deslealdade, a vingança, a incompetência a traição), o Armando que tem gosto e jeito para tudo arranjar: o que pinta a casa, o que até chegou a arranjar sapatos…

Voltando ao princípio: O desafio que a Fátima me fez foi sobre o pretexto de que fazias anos (não me disse quantos…) e que queria oferecer-te os textos dos amigos como prenda… (é inteligente a Fátima…dá trabalho aos amigos, põe a nu as suas insuficiências e ainda por cima dá uma prenda original).

Mas com a idade que tens, pode-se dizer que entraste na idade filosófica. (Já tinhas ouvido esta?), a idade da observação, da reflexão, da ponderação da análise e distanciamento críticos (e, talvez, nostálgicos,) de a tudo dar sentido, de tudo ligar e relacionar como o tecelão que unindo criativamente retalhos que já tiveram uma outra função em um outro contexto, nos mostra e revela uma nova, única, bela, e original obra de arte.

É este poder de reflexão, potenciado pelo ócio que nos é permitido viver, que nos possibilita e permite relativizar, julgar da verdadeira importância das coisas que no momento em que ocorrem parecem ser de uma importância descomunal e que à distância do tempo ganham a sua real dimensão: coisas que são significativas porque e na medida em que contribuíram para o evoluir da nossa vida, para fazer de nós o que nós somos. E o que somos?

Contaste a história do miúdo de 12 anos que um dia toca à porta a perguntar se tens sapatos para engraxar. E perguntaste: O que é que isto significa? O que faz com que ele em vez de ir pedir esmolas prefira receber em troco da prestação de um serviço? Em vez de andar a tocar às portas não anda pura e simplesmente a brincar ou, então, porque não se junta a outros e tenta roubar? O que faz com que uma criança queira mais, não se contente com o que tem, aceite o sacrifício de um caminho difícil e, ainda, o que fará com que escolha o caminho certo? (haverá o caminho certo?). O que fará com que mesmo insatisfeito com a situação que tem não enverede por caminhos mais fáceis?

Na tua vida conviveste, de certeza, com a deslealdade, com as máscaras de indivíduos sem princípios que, por ambição pessoal ou estupidez, ou mau carácter, atropelavam os outros, cultivavam a inveja, o ódio, tentavam espezinhar os outros para subir. Porque não contas destes casos?- Talvez porque só reténs o essencial: a justiça, a inteligência, o sentido de humor, a sensatez, a coragem… Traços que aprecias e cultivas e transmites. Talvez porque só recordamos aquilo que verdadeiramente nos construiu e o que nós construímos na relação com os outros e com as coisas que nos envolveram.

Um abraço do Zé Ribeiro

P.S. Não queres responder às questões que coloquei

domingo, 10 de junho de 2012

A Poda ou "O Tomás já Passou por Aqui!"

"Um dia, o gajinho, sabendo das minhas grandes aptidões para a Agricultura convidou-me para almoçar em sua casa e lhe podar as bastas árvores em volta da casa"
Tomás Rodrigues



O Armando nada percebe de agricultura: tinha umas luzes de manjericos, brincos de princesa e roseiras de Sta. Teresinha e pouco mais; desconfio até que o Meco acreditava que o vinho e o vinagre tinto tinham origem na tinta da China deixada secar ao sol!

Um dia, o gajinho, sabendo das minhas grandes aptidões para a Agricultura convidou-me para almoçar em sua casa e lhe podar as bastas árvores em volta da casa. Ora, como pessoa de boa índole, acedi! Embora desconfiasse que tanta amabilidade trazia agua no bico!

Podei as árvores como manda o figurino e de acordo com 2 ou 3 livros de bolso que tinha comprado para me ilustrar sobre o assunto. No entretanto, ele e o dito comandante de lata de sardinhas em azeite, divertiam-se, sentados na varanda e emborcando bejeca sobre bejeca! Por este pequeno episódio se pode ver por que é que o país não anda para a frente: um a trabalhar que nem um Cabinda e dois a curtir a dureza da preguiça!

Adiante que esta parte aqui pode ser entendida como política reacionária!

Nessa altura e, dadas as minhas grandes aptidões para a poda, estava a pensar expandir esta actividade, eis senão quando começo a notar o abaixamento da procura pelos meus serviços e uns rizinhos sacripantas por parte dos suspeitos do costume sempre que se referiam às minhas aptidões agrícolas. Juntou-se, por esta altura ao grupo o Quim, jóia de moço, entretanto desaparecido e que os energúmenos trataram de industriar contra as minhas habilidades.

Eu andava tão achacado com este comportamento do marrano da raia e do moçárabe de Silves, que se ainda existisse a Inquisição, tinha-os denunciado pelo prazer de os ver reduzidos a torresmos na fogueira.

Um dia, talvez condoída deste meu sofrimento atroz, a Fátima confidenciou-me, em surdina, que o Armando e também o Popeye de pacotilha sempre que viam uma árvore reduzida a dois ou três ramos ou degolada comentavam e cito: “o Tomás já passou por aqui!” Se a árvore se apresentava farfalhuda de ramos: “ o Tomás ainda aqui não esteve!”

E diziam isto a toda a hora e momento, até numa célebre viagem que fizeram a França, usaram a minha pessoa e as amplas aptidões de poda demonstradas para, mesmo além fronteiras, se encarregarem de emporcalhar as minhas qualidades laborais.

E, deste modo estes dois trastes arruinaram a perspectiva que eu tinha de criar um negócio lucrativo com hipótese de criação de um ou mesmo um posto de trabalho e meio.

Assim se vê como a capacidade empreendedora pode morrer vítima da maledicência e de espíritos menos abertos às grandes ideias.

Mesmo que tivesse feito publicidade para reverter esta situação a ruína era por demais evidente: o facínora e o amigo acabaram com a minha reputação de podador. Não lhe posso perdoar!

Daí continuar a afirmar aos 4 ventos: o gajo não presta! Dele quero distância, próxima!

T`arrenego Satanás! Vade rectro!

Tomás

Singular Recordação Africana


"Recordo o Armando Queirós como uma pessoa simples e despretensiosa, sempre bem disposto e bom conversador..."
António Ambrósio

 Ao longo da minha actividade profissional, como consultor e formador desde 1982, foi-me grato cruzar-me com imensas pessoas – desde clientes a colegas de trabalho.

De alguns já pouco ou nada me recordo, seja pelo efeito erosivo do tempo ou pelas poucas marcas que deixaram. Não foi este o caso de Armando Queirós, que apesar dos trinta anos passados e do curto período em que profissionalmente convivemos, mantenho ainda com razoável nitidez esse tempo na memória.

Efectivamente, em 1982 numa das minhas frequentes deslocações profissionais a África, fui realizar um trabalho durante cerca de três meses ao Lubango (antiga Sá da Bandeira), Angola. Durante essas estadias, deslocados e longe do nosso meio habitual (família, amigos, lugares, etc.), os dias passam lentos e a data do regresso tarda sempre em chegar. Nestas circunstâncias, as boas companhias constituem sempre um óptimo antídoto para esse efeito. Na verdade, tive a sorte de mais ou menos a meio dessa minha estadia, ver chegar ao mesmo Hotel onde eu me hospedava (Grande Hotel da Huíla) um novo colega de trabalho, consultor externo convidado pontualmente para um projecto no Lubango.

Não o conhecia, mas rapidamente me apercebi que seria uma óptima companhia, o tal antídoto! O Armando Queirós não esteve lá muito tempo (cerca de três semanas talvez), mas naquelas circunstâncias eramos quase sempre “obrigados” a conviver em permanência com os vários colegas que nos encontrássemos a trabalhar nas mesmas cidades (daí também as companhias menos agradáveis se tornarem por vezes mais pesadas e desgastantes) – fazer as refeições juntos, dar umas voltas a pé pela cidade, ver um filme no cinema local (cujos bilhetes eram adquiridos mediante sofisticadas estratégias) e pouco mais, já que dada a situação de guerra que se vivia, não era seguro sair das cidades.

Recordo o Armando Queirós como uma pessoa simples e despretensiosa, sempre bem disposto e bom conversador, de óptimo trato e com a característica marcante de ser beirão e do meu distrito ainda por cima (a Guarda!) – óptimos ingredientes para uma sã e descongestionante convivência. Lembro-me também que levava a incumbência e grande preocupação extra profissional (que cumpriu!) de apresentar cumprimentos ao então Governador da Província da Huíla – Kundy Paiama, da parte de uma pessoa amiga a viver em Lisboa.

Já em Lisboa, trabalhando eu na Av. 5 de Outubro, algumas vezes o fui ainda visitar às instalações do Banco onde trabalhava na Av. da República. Entretanto julgo ter mudado de local de trabalho, perdendo o contacto a partir daí.

Alguns anos mais tarde, há cerca de quatro anos e através de um amigo comum e hobbies igualmente comuns (a vela), vim a conhecer o Luís Queirós, o qual logo no início da conversa me pareceu estar na presença de alguém que me era familiar.

Não me enganei totalmente. Bastaram dois ou três indícios e rapidamente concluí que embora nunca o tendo visto, ele me avivou a memória para alguém com características muito próximas (fisionómicas e essencialmente relacionais) – o Armando Queirós.

Nos nossos percursos mais diversos é sempre grato conhecermos e relacionarmo-nos com os outros, particularmente se os outros forem pessoas assim – ainda que estejamos trinta anos sem contacto!

Um grande abraço Armando, neste teu septuagésimo aniversário, desejando que tenhamos a oportunidade de o voltar a fazer daqui a outros trinta anos!

António Manuel Ambrósio

O Prémio


 "Felizmente, o destino reservou-lhe a melhor prenda que poderia ter nesta fase da vida: o seu Netinho."
Anselmo Cavaleiro

- O Regresso à Família e ao Lar: o Prémio

E como tudo o que é material tem início e fim, também a carreira profissional do Armando Queirós terminou um dia, creio que em 2001, ainda com muito para dar ao Banco. Se o contexto fosse outro tudo deveria ser feito para que tivesse continuado e estou certo que aceitaria. Mas acima de tudo é justo que, quem trabalhou durante tantas décadas, tenha o direito de regressar ao lar em boas condições físicas e de saúde, para usufruir de um descanso merecido. Felizmente, o destino reservou-lhe a melhor prenda que poderia ter nesta fase da vida: o seu Netinho. Netinho de que ele, aliás, não se cansa de falar nos habituais almoços com os seus antigos Colegas da DEP, a 15 de Junho e de Dezembro de cada ano.

Como antigo Colega aqui deixo estas notas, como testemunho da minha amizade e admiração pelo Armando Queirós, formulando os melhores votos de um Feliz Aniversário e de muitos anos de vida, plenos de saúde, na companhia da Fátima, da Patrícia e do Netinho.

Um grande abraço.

Anselmo Cavaleiro

sábado, 9 de junho de 2012

Na Forma Falada Diria Muito...

"Não queiras passar à disponibilidade da nossa amizade"
António Neves (Ramon)
 
Falar de um amigo na forma escrita não é assim tão fácil quanto parece. Na forma falada diria muito.

Um grande e particular amigo que fez uma comissão militar comigo, chega aos 70 depois de mim, e está linchado porque ainda terá pelo menos mais 50% da comissão por cumprir nuns tantos restaurantes em almoços do grupo.

Não queiras passar à disponibilidade da nossa amizade, continuemos a marchar

A. S. Neves (Ramon)

Histórias do Banco - Da Vitória à Derrota


"O Queirós fez um trabalho enorme na dinamização do segmento de Particulares e da Rede de Balcões do Banco"
Anselmo Cavaleiro


Com o ano de 1985 e a nomeação de um novo Conselho de Administração, presidido pelo Dr. Raul Capela, chegou a mudança, com o início do processo de reestruturação profunda do Banco, que haveria de conduzir à sua privatização, a partir de 1989, já sob a liderança do Dr. Alípio Dias. Foi neste âmbito que as nossas carreiras tomaram finalmente um novo rumo, com a criação da Direcção de Estudos e Planeamento, em 1986, sob a liderança do Dr. Deus Vieira, como Director Coordenador, com quem tivemos o prazer e o privilégio de trabalhar durante cerca de 13 anos. O Dr. Deus Vieira foi um Quadro Bancário de craveira superior e é um Homem de qualidade ímpar, quer como cidadão, quer nos planos intelectual e cívico.

O Armando Queirós foi designado, nesse ano, Responsável pelo Departamento de Marketing do Banco, primeiro com a categoria profissional de Director Adjunto, e mais tarde com a de Director, função que desempenhou com grande competência e profissionalismo até ao fim da DEP, em 2000.

Foi um período de ouro, que correspondeu ao apogeu do Banco Totta & Açores nos seus mais de 160 anos de história.

O Queirós fez um trabalho enorme na dinamização do segmento de Particulares e da Rede de Balcões do Banco, e relativamente ao qual, estou certo, toda a organização Totta ficou reconhecida.

Com poucos meios, foi extremamente criativo no lançamento de produtos competitivos na captação de recursos e no crédito para Particulares, sem dúvida uma área de negócio fundamental, à época, para a recuperação e projecção do Totta para os primeiros lugares do ranking da Banca Privada Portuguesa, em meados da década de 90.

Mas o progresso sem paralelo do Totta, em toda a sua história, viria a ser interrompido, por arranjos políticos ao serviço de um Partido e de interesses particulares, com alguma incompetência técnica e estreiteza estratégica pelo meio.

Foi assim que a venda do Totta, pelo Governo de então, não aos seus accionistas originários, mas sim a um Grupo Financeiro rival e inimigo da sua história, veio a determinar o início, em 1995, de um percurso de cinco anos que havia de conduzir ao seu desaparecimento, enquanto Grupo Financeiro e Instituição de Crédito autónoma.

Esta foi sem dúvida uma derrota muito pesada, e sobretudo injusta, para todos os Colaboradores do Grupo Totta, com implicações graves nas vidas de muitos e das suas famílias, e com prejuízo grave para a economia nacional.

Anselmo Cavaleiro

(continua)

Retrato em Dois Tempos - Primeiro

 "A Fátima telefonou-me a dizer que eu tinha de escrever qualquer coisa acerca de ti."
J. Ribeiro


"A vida não é a que cada um viveu, mas a que recorda, 
e como a recorda para contá-la."
G. Garcia Marquez

 A Fátima telefonou-me a dizer que eu tinha de escrever qualquer coisa acerca de ti. Coisa difícil mas, mais delicada se torna quando nas entrelinhas da encomenda está “falar de ti mas bem” Este bem pode ter uma dupla aceção: ou bem quanto à forma, quanto ao estilo... o que para mim, dadas as minhas capacidades, é impossível: (Fátima, tinhas logo de pôr em evidência as minhas limitações…foi de propósito…) ou dizer bem de um modo substancial, verdadeiro, objetivo, isto é, que corresponda ao que tu és, ao teu ser e estar. Tarefa também impossível porque ou te elogiava a propósito de tudo e de nada e tu dizias logo: aquele tipo dececionou-me, (agora escreve-se assim…) falou de mim sem me conhecer bem, quem pensa que é? E sorrindo, (parece que te estou a ver) abanando a cabeça com um ar de condescendência dirias entre dentes: sempre disse que este gajo era parvo.

Ainda para aumentar a dificuldade, (será possível?) tenho consciência que esta espécie de texto vai passar pela censura da tua esposa e da tua filha… e elas não brincam em serviço… vão pegar num lápis azul e lá começam os cortes, a princípio, de algumas letras; depois, como quem não quer a coisa, de algumas palavras e, se calhar, se estiverem num dia de mais exigência, vão frases, períodos e parágrafos para o lixo (do computador, claro) e só não vai (se não for) o texto todo porque … (já agora, pergunta-lhes)

Em conclusão: não vou falar de ti, não vou dizer como tu és bom, exemplar, inteligente, honesto, habilidoso, etc. (apesar de pensar que és tudo isso e muito mais), mas vou lembrar o Armando que conheço.

José Ribeiro

(Segue no segundo tempo)

sexta-feira, 8 de junho de 2012

Justo e Pedagógico

"fomos obrigados a prometer que caso nos divorciássemos, devolveríamos a prenda de casamento"
Conceição Carvalho

 Armando Teixeira Queirós, nascido a 13 de Maio de há muito pouco tempo....

Sou uma pessoa que, tenho poucas recordações de pequenina, uma das poucas que tenho e penso que teria 4 ou 5 anos é com o Armando.... muito zangada com ele, dizendo: "já não gosto de ti, já não namoro contigo" e foi assim que acabei o namoro, das razões não lembro, mas ainda me lembro da ruptura...

Acompanhava-os, para as longas tarde de estudo, no parque de campismo de Monsanto, em que me lembro de grandes, mas muito grandes máquinas de calcular com longos rolos de papel caindo da mesa abaixo e que se estendiam pelo chão.... ainda hoje me pergunto como é que tinham coragem de me levar com eles, sabendo de que de certeza eu os ia interromper e incomodar....uns queridos.

Embora o Armando tivesse uma cara séria, mesmo quando eu fazia alguma.... não ficava com cara de mau ou de zangado, nunca tive medo dele, era justo, sempre muito pedagógico, uma vez fomos de férias e eu deixava tudo pelos cantos, quando dei pela falta das coisas estavam no lixo....(dentro dum saco de plástico, tudo limpinho...claro!!!!).

Foi o Armando, que me ensinou a boiar, da maneira mais difícil de cara para baixo, as minhas primeiras braçadas foram debaixo da sua orientação. Também fazia castelos de areia.

Lembro-me de uma situação caricata, estávamos no Algarve e a Fátima a fazer topless, era uma praia solitária sem gente, eis senão quando aparece um cabo do mar, a Fátima foge para um lado, o Armando foge para outro levando os sacos com a roupa, e no meio da roupa levando a parte de cima do biquini, tão necessária à Fátima para se compor.

Enfim, a imagem que tenho do Armando é a dum pai, afectuoso e preocupado em formar para o futuro, para a autonomia.

É esse o sentimento que sentia e sinto por ele, o meu pai era mais avô, com todas as consequências daí inerentes.

Não sei se alguém vai falar nisso, mas em termos de coragem e lealdade, o Armando tem a sua quota parte de herói, foi para à guerra e regressou vivo e saudável, que já é um feito mas também, politicamente activo, chegou a ir à Maternidade buscar mulheres e bebés, fazendo-se passar pelos maridos, arriscando-se a ser preso, para que os verdadeiros maridos não corressem o risco de serem presos pela PIDE.

Penas, só de não ter convivido mais com ele, conhecer melhor a sua vida, crescido mais à sua sombra, mas as vidas são assim...mas ainda estou a tempo...

No dia do nosso casamento, fomos obrigados a prometer que caso nos divorciássemos, devolveríamos a prenda de casamento, razão pela qual já estamos casados há 24 anos, lá devolver a prenda é que não...

Sinto-me muito feliz por o conhecer, poder dizer que sou sua amiga e mana. E agradecer à minha mana não ter deixado que este HOMEM, saísse das nossas vidas (apesar do meu mau génio em criança).

Para ti Armando

o nosso obrigado, por teres sido quem fostes (na família e no país), por seres quem és, importante para todos nós, só pelo facto de te sabermos connosco, és valioso e se possível para os nossos filhotes, sê o avô que precisam e não têm....

Beijocas da São, Adolfo, João, André e Sérgio

Ser Benfiquista

 "...só poderia pertencer ao Glorioso Benfica. "
 Eduardo Mendes
 
Numa frase defino o "Chefe" como um indivíduo de mente aberta, simples, de convicções, que gosta do debate de ideias, com sentido de humor, afável, honesto, orgulhoso da sua cabeleira, solidário, amigo do seu amigo, e com estas características só poderia pertencer ao Glorioso Benfica.

Há frases que nunca irei esquecer como "isso dá direito a despedimento com justa causa". Ao meu filho mais novo "baptizou" de Sebastião por ter nascido numa manhã de nevoeiro.

Muito para além da relação profissional ficou a amizade. Um grande abraço e muito obrigado por tudo… até sempre.

Eduardo Mendes.

Então Pá! T’ás bom?!,

"...percorremos as mesmas calçadas, subimos os mesmos eléctricos, frequentámos as mesmas tascas e aturámos (ou nem por isso…) os mesmos professores no Instituto Comercial."
António Pina

 Então Pá! T’ás bom?!,

É assim a saudação que me recordas. Ou talvez nem fosse bem assim que a formulasses, mas é nela que te revejo: intimo e próximo mas, ao mesmo tempo, aparentando à superfície um vago distanciamento de quem é pouco dado à manifestação plena da afectividade.

Então Pá! T’ás bom?!

Conhecendo-te as raízes, tendo já pisado as ruas de S. Pedro do Rio Seco e partilhando a mesma origem beirã, sei que esse é um disfarce que tu usas. Uma espécie de carapaça que vais tecendo com malhas de ironia, sempre bem-intencionada e quase sempre de elegante e de fina subtileza. Mas conheço-te também porque recebi de ti o amparo de amigo mais velho que, de certa forma adoptou o “puto” que, mal chegado da aldeia, menino e moço de 12 anos acabados de fazer, de repente se vê a tentar adaptar-se ao estudo nocturno na Escola Académica, ali para os lados do Conde Barão. Lembras-te? Não te vou recordar o “nickname” com que na altura o professor de português me rebaptizou e que, tenho uma vaga ideia tu também terás alimentado…Deixo-te este desafio para o teu “brain training”.

Conheço-te porque percorremos as mesmas calçadas, subimos os mesmos eléctricos, frequentámos as mesmas tascas e aturámos (ou nem por isso…) os mesmos professores no Instituto Comercial. Que saudades dos tempos dos bons copianços a filosofia e da fogueira feita no Largo do Camões com os livros de “Organização Corporativa” (já não me lembra se era este o nome da disciplina) depois de termos passado no respectivo exame!

Conheço-te porque bastas vezes me saciaste a sede e preencheste o apetite pelos “pitéus” que fazias em tua casa. Monte Abraão foi uma referência. E não só pelo entusiasmo que foi a vossa (agora passo a introduzir a Fátima) instalação. Não só pelos bons vinhos e boas comidas, pelo esforçado estudo (ai, as matemáticas…), não só pela amizade fraterna mas também pela solidariedade com a luta pela liberdade e pela democracia.

Julgo que nunca te disse o que agora te revelo. Numa das vezes em que pedi o teu apoio logístico, a tua casa no Monte Abraão, foi o local de reunião com uma das pessoas na altura mais procurada pela PIDE: o dirigente comunista Carlos Brito, na altura membro do secretariado do comité central do PCP e responsável máximo pela coordenação da luta estudantil. Felizmente tudo correu bem…e também por aqui tu contribuíste para a liberdade e a democracia.

Nesse tempo eu corria atrás do sonho e da utopia. Tu sempre foste bem mais sensato e realista do que eu. Hoje, à distância já de tantos anos, continuo a assumir a generosidade da nossa entrega e não lamento nada do que nesse tempo fiz, mas já não comungo da utopia e já não sou capaz de sonhar. A realidade transformou-me, porventura para pior…

Conheço-te também porque partilhámos estórias e vivemos episódios mais ou menos anedóticos mas sempre reconfortantes na nostalgia da sua lembrança: lembras-te de termos apanhado uma galinha viva em plena auto-estrada (ou terá sido na EN1?) quando íamos a caminho da Guarda? E lembras-te dos farinheiros que em casa dos meus Pais tiveram que esperar, por respeito à minha Mãe, pela meia-noite de sexta-feira santa para irem para as brasas, podendo assim ser comidos sem ser em pecado?

Mas conheço-te também porque sempre testemunhei a forma carinhosa, protectora e presente com que te relacionas com a Fátima, tua mulher e companheira de sempre, única que eu tenha conhecido. E depois, com a Patrícia, o teu (o vosso) enlevo. Já nos encontramos em Telheiras. Somos quase vizinhos. Eu também já tenho família. A Pilar, a Joana e a Inês são o meu mundo e o meu destino. Somos quase vizinhos e, no entanto, vamo-nos vendo poucas vezes. A vida vai começando a traçar-nos caminhos que nos afastam. Parto para Angola. São seis anos de desterro. E nas vindas cá, certamente nos encontrámos uma ou outra vez, mas sem cimentar o relacionamento. Amigos comuns vão ficando distantes. Lembro-me do Camacho. Há muitos, muitos anos que o não vejo.

Os anos vão passando. À tua estabilidade no Banco, eu ía contrapondo uma vida profissional mais instável. Saltitando de experiência em experiência à medida dos mandatos e das Assembleias Gerais. Vida de cão sempre a correr. Inércia e descuido no restabelecer das relações de amizade. Mas os amigos, os que o são, perduram mesmo que ausentes. E de vez em quando encontram-se. No supermercado das Telheiras:

Então Pá! T’ás bom?!

- O que fazes?

- As compras da semana? E tu como vais? A Fátima tá boa? E a Patrícia?

- Porreiras. Mudámos para Lagos? Reformei-me e a Fátima também. Então e tu?

…….

Passam-se meses, anos. Noticias? Nenhumas.

Mas guardam-se as memórias e os números de telefone.

E que tal uma ida até Lagos? E que tal uma sardinhada com o Armando Queiroz?

Então Pá! T’ás bom?!

Também te conheço porque te vi embevecido com o teu neto. Avô babado que nem eu. Coração grande, que destila amizade, ternura e amor pelos poros da malha que vai tecendo para o tentar esconder.

Então Pá! T’ás bom?!

Recebe um grande e forte abraço deste teu amigo, pouco presente mas verdadeiramente amigo pela ternura com que te lembro.

Pina

quinta-feira, 7 de junho de 2012

Sem Dúvida, Merece um Blog

"Com a minha idade começo a perceber 
o tão grande valor que é a família"
Miguel

São setenta anos de histórias para contar.
Eu tenho hoje vinte e dois e penso que já tenho algumas portanto é fácil depreender que o meu Tio Armando tem muito para ensinar.

Com a minha idade começo a perceber o tão grande valor que é a família e noto, hoje, ao olhar para pessoas como o meu tio a importância que tem a família para criar valores. Olhando para o Armando consigo perceber de imediato o espírito humilde em que vive e a forma como tenta passar isso para os que lhe são queridos.

É a felicidade de estarmos todos juntos, de ver o Daniel a crescer, de ver todas estas mutações que constantemente alteram a nossa família e a tornam mais forte, que fazem deste meu tio um exemplo para a posteridade e que, sem dúvida, merece um blog!

Um forte abraço e que os setenta sejam ainda melhores que todos os outros.

 Miguel

O Belga

  "não tinha hábito de utilizar linguagem de caserna
 (entre tanta malta, devia ser o único!)"
Isidro Rodrigues

Conheci o nosso amigo Belga em terras de Maiombe-Cabinda, em cumprimento do serviço militar obrigatório.

O Belga era o responsável na Compª 679 pela manutenção de viaturas, sendo estas de origem americanas, já cansadas, pela muita utilização numa outra guerra, a 2ª mundial.

Nestas condições, era muito difícil manter um parque de carros operacional, nomeadamente por falta de sobressalentes. As exigências de quem mandava eram por vezes transmitidas aos berros, com a utilização de uma linguagem vicentina, da qual o Gil teria com certeza muita inveja.

Admirava o Queirós, que se revelava preocupado por não poder resolver o exigido, mas sempre muito calmo, não tinha hábito de utilizar linguagem de caserna (entre tanta malta, devia ser o único). O meu amigo, levou de certeza a carta a Garcia. Observei outro aspecto curioso no Queirós: o humor irónico.

Tirava sempre partido das incoerências de toda a gente, tímido, mas interessante.


Isidro A. M. Rodrigues