"Depois de conhecer São Pedro do Rio Seco e tendo o Armando Queirós vivido nesta Aldeia os anos intensos da infância, período rico de vivências, emoções e formação da personalidade, compreender-se-á melhor as características que moldaram o seu carácter que apreciamos."
Abreu
Em Julho de 1993 fiz um pequeno giro turístico pela região da Guarda. A caminho de Almeida, aparece-me a indicação São Pedro do Rio Seco. Em conversa ocasional com o Armando Queirós, haviamos falado da sua terra, já não posso precisar se foi por ele ser conterrâneo de Eduardo Lourenço ou o contrário. Era a oportunidade para uma visita.
Entro na Aldeia com o sol a pino. Talvez por isso não se via vivalma. O silêncio era quase absoluto. Meto-me pelas ruas de terra batida, com as suas casas predominantemente construidas em pedra irregular sem reboco, algumas com os telhados a ameaçar ruína, outras com paredes rebocadas total ou parcialmente e telhados reconstruidos, onde as antenas de televisão deixavam uma marca insólita.
No meu passeio, seres viventes encontrei numa esquina um cão parecendo estranhar ver alguém ali àquela hora; num largo, outro cão defendendo-se do sol debaixo de uma carroça com rodas de pneu e, como que a provar que pelo menos havia uma pessoa na Aldeia, passa um habitante montado numa carroça.
A Igreja Matriz imponente com a sua torre sineira, onde uma cegonha se lembrou de construir um majestoso ninho, parece receber especial carinho dos paroquianos pelo seu aspecto cuidado. Infelizmente estava fechada. Descobrimos a pessoa que tinha a chave e com grande simpatia nos falou do templo. Interior cuidado, altares bonitos, chão em laje abrigando sepulturas e a pia baptismal. Acudiu-me que certamente o Armando Queiroz teria tido contacto com aquela pia baptismal e não deve ter achado grande graça quando o padre lhe despejou água na cabeça e lhe pôs sal na boca. Fiz algumas fotografias da Aldeia.
Numa das ruas chamou-me a atenção uma casa. Em pedra, não rebocada, como as da maioria da Aldeia, mas com uma particularidade, o acesso à habitação fazia-se por uma escada exterior que terminava num patamar e daí se alcançava a porta de entrada. Ao nível do chão, havia uma porta, possivelmente dando para uma divisão de arrumos. Quando, na sua casa de S. Gião, mostrei as fotografias ao Queiroz, não foi sem surpresa que o ouço dizer que foi naquela casa onde viveu a sua infância.
O homem transforma o meio ambiente mas este por sua vez também exerce acção sobre o homem, nomeadamente influenciando o seu carácter. Depois de conhecer São Pedro do Rio Seco e tendo o Armando Queirós vivido nesta Aldeia os anos intensos da infância, período rico de vivências, emoções e formação da personalidade, compreender-se-á melhor as características que moldaram o seu carácter que apreciamos.
Fazer anos! A partir de certa idade, sem querer generalizar, adoptamos uma atitude ambivalente perante o acontecimento. Por um lado é bom fazer anos, e isso deixa-nos alegres, mas, por outro lado, também significa que estamos mais velhos, o que causa algum desconforto.
Abreu
Penso que o Abreu foi o primeiro turista em S. Pedro do Rio Seco.
ResponderEliminarLembro-me bem do entusiasmo com que me queria mostrar uma fotografia que, afinal, era da casa onde eu tinha nascido.
Conhecia as aptidões do Abreu para a fotografia, desde os velhos tempos, quando ainda era preciso meter o rolo nas máquinas para tirarem fotografias, mas não sabia que também tinha jeito para escrever.
O texto que enviou poderia muito bem ser aproveitado para um folheto promocional das potencialidades turísticas de S. Pedro do Rio Seco.
Ao ler “…não se via vivalma. O silêncio era quase absoluto”, lembrei-me de uma história que Eduardo Lourenço conta, de quando se deslocou a S. Pedro com Vergílio Ferreira, para lhe mostrar a terra onde tinha nascido.
Estavam na Praça, em situação idêntica à descrita pelo Abreu e quando, de repente, aparece uma criança a correr, Vergílio Ferreira grita: “Olhe um ser vivo”.
Fui mesmo baptizado naquele sítio que está na fotografia, a pia é que já não é aquela. Quem sabe se um dia, a antiga não volta ao devido lugar, donde nunca devia ter saído.
Não vale a pena lembrar-nos que “…fazer anos, …, também significa que estamos mais velhos, o que causa algum desconforto”. A ferrugem de algumas articulações já é suficiente para nos fazer sentir isso, de vez em quando. Mas acreditemos que a indústria farmacêutica vá encontrando soluções para nos fazer esquecer.
Armando
Mais um "turista"
ResponderEliminarMatraqueando as teclas, fiz um comentário sugerido pelo escrito do Abreu que, ao que parece, não chegou a ver a luz do dia. "É bem feita!" (expressão muito usada na região que traduz uma concordância com uma punição, uma desgraça ou um castigo !); na verdade, eu não mereceria muito mais ! Quem me manda a mim meter-me em "cavalarias altas" pretendendo ombrear com estes ilustres amigos que "tratam por tu" estas novas tecnologias ?! Para o Queirós, isto não é novidade nenhuma porque ele sabe que eu tenho o "pé pesado" para estas danças. Claro que ele já se desembrulha bem com estas coisas,como o prova o seu comentário à "Pia Baptismal". Outro galo cantaria, se eu tivesse a idade dele e uma assessora chamada Patrícia como ele tem !
Tenho pena porque nem sequer guardei o escrevinhado que , saindo,saíu mesmo e já não serei capaz de o repetir na sua originalidade.
Tenhamos fé ...vou tentar , com estas linhas ! Algum dia hei-de acertar.
Se for bem sucedido, os meus cumprimentos para quem me aturar.
Sobral Dias