domingo, 20 de maio de 2012

A Paz da Inteligência

  "...tem convicções muito fortes (a de nunca ter usado gravata lá no banco é uma prova evidente!), é bom conversador e bom amigo."
Jacinto



Em 1956, eu, Jacinto, fiz o exame de admissão ao liceu no Liceu Nacional da Guarda, tendo depois pedido a transferência para o Liceu Nacional de Passos Manuel, em Lisboa, regressando novamente ao Liceu Nacional da Guarda em 1962, onde fiz o 7º ano nesse ano lectivo de 1962/1963.

Durante esse ano lectivo fui integrado num grupo constituído pelos Luíses Queirós, Veiga e Rodrigues e pelo Armindo Carvalheira o que me permitiu conhecer os pais do Luís Queirós, não tendo ideia de ter conhecido os irmãos, que, por serem mais velhos, eventualmente já não estariam na Guarda.

Com o 7º ano feito há o ingresso na Universidade, mas o grupo acaba por se dispersar devido às opções de curso e ao local da Universidade (Lisboa, Porto, Coimbra). De qualquer modo havia contactos entre nós com alguma assiduidade, até que, com o fim dos cursos , o serviço militar e a designada guerra colonial, a rapaziada perdeu um pouco os contactos (salvo uma ou outra excepção), agravando-se esta situação com o início da actividade profissional.

É após o 25 de Abril que a rapaziada se volta a encontrar com alguma assiduidade, graças, essencialmente, ao esforço do Luís Veiga, que nos mantém em contacto uns com os outros servindo de elo de ligação entre nós. Em determinado ano (não consigo lembrar qual) inicia-se um ciclo de “patuscadas” entre o grupo e respectivas famílias, alargadas a outros camaradas e amigos e que se realizam essencialmente em casa dos Luises (Veiga, Queirós, Rodrigues).

Tanto quanto me lembro é neste ciclo de patuscadas que conheço o Armando Queirós já com a sua Fátima e a sua Patrícia e uns anos a esta parte com o seu neto Daniel.

Toda esta conversa para quê?, apenas para justificar alguma gafe que no seguimento deste escrito venha a cometer. Por exemplo se eu disser que o Armando é um sacana, os leitores que o conhecem têm toda a liberdade de dizer que é só agora e é da idade, porque não era.

Acontece que há uns anos atrás mudei de casa e vim morar para perto do Armando o que tem permitido, agora, em que os dois temos o estatuto de “aposentado”, nos encontremos, sem ser só nas patuscadas, com alguma frequência: é a passear os netos (eu) e o neto Daniel(ele), é às compras , é na piscina.

É curioso como pessoas nascidas na Beira Alta lá para trás do sol posto, como habitualmente dizemos, depois de seguirem um circuito mais ou menos idêntico, escola e liceu na Beira (aldeia ou Guarda), universidade em locais diferenciados, estadas em África e não só, se vêem encontrar num pequeno canto desta Grande Lisboa! E provavelmente haverá mais pessoas nestas condições, o que me leva a pensar que este assunto devia merecer uma atenção especial a quem anda à procura de temas, que parece que já começam a escassear (os temas) para doutoramentos, pois não ficaria nada admirado se um doutoramento sobre este tema concluísse que a importação da batata diminuiria bastante se a malta das Beiras não se tivesse agasalhado tanto nestes cantos de Lisboa!

Agora que dizer do Armando, para além de lhe reconhecer uma excepcional aptidão para não usar gravata, aptidão que utiliza até ao extremo, negando-se mesmo a não a usar seja em que circunstância fôr, o Armando é um conversador nato e lembra sempre situações reais que se foram passando na sua vivência e que nos fazem pensar e muitas vezes nos levam a tirar conclusões para as situações que se vão vivendo. Pois em tempos actuais é difícil desenvolver uma conversa sem relacionar o estilo de vida actual, nossa, dos nossos filhos e dos nossos netos com o tipo de vida que nós tivemos e com o que tiveram os nossos pais e os nossos avós. Sendo o Armando uma pessoa sensata, com qualidades para analisar e sintetizar correctamente as situações reais, é sempre um prazer dialogar com ele e discutir a problemática do mundo actual, na qual nem sempre se conseguem vislumbrar horizontes com céu limpo, especialmente para as gerações dos nossos filhos e seguintes, sabe-se lá até quando. E esta preocupação não deixa de ser notória no Armando (aliás penso que o é em todos aqueles da nossa geração que temos filhos e netos) que vive intensamente a sua situação de Pai e Avô/Pai.

Mas não penso que o Armando seja uma pessoa angustiada. A sua inteligência ajuda-o a viver em paz, cumprindo metodicamente as tarefas correspondentes às suas obrigações familiares, fazendo os seus exercícios de manutenção na piscina, aproveitando a ida à padaria ou ao supermercado para dar os seus passeios a pé, optimizando o tempo e espairecendo o espírito (ou não tivesse ele sido um bancário, ao que consta, bastante eficiente, razão aliás porque estava, excepcionalmente, dispensado de usar gravata).

Claro que o Armando, como todo o jovem da sua idade vai passando por situações que necessitam ser medicamente controladas. Acontece que há uns dias atrás, quando o encontrava lá pela piscina, parecia-me mais introspectivo do que habitualmente, a sua expressão facial mostrava como que uma “pequena diminuição de juventude” que me andava a deixar intrigado/preocupado. É certo que ia fazer um cateterismo, mas pensava eu, qual o jovem da nossa idade que mais dia menos dia não vai fazer um cataterismo? Finalmente o Armando fez o cataterismo, tudo correu bem, felizmente e ele apareceu na piscina com ar rejuvenescido. Tudo não passava, afinal, de uma certa apreensão relativamente ao exame que ia fazer: É natural. É humano. Como diz o povo, quem tem cu tem medo!

Do que conheço do Armando, e em resumo, sou levado a concluir que é uma pessoa que vive intensamente a família, é muito metódico (embora, penso eu, que gosta de fazer as coisas quando lhe apetece, sem ser pressionado), tem um poder de análise muito realista das situações, tem convicções muito fortes (a de nunca ter usado gravata lá no banco é uma prova evidente!), é bom conversador e bom amigo.

Quanto aos defeitos, lamento não os vou listar senão nunca mais acabo isto e além disso eu não sou queixinhas, ponto final, parágrafo!

Não sei se, com estas minhas tretas, contribuo, um pouco que seja, para que aos vindouros, o Armando seja dado a conhecer, através do testemunho que a Fátima, a Patrícia e o Daniel lhe querem oferecer no seu aniversário e para o qual tive o prazer de ser convidado a dar um pequeno contributo. Mas fiz o possível (dentro do razoável, para a idade).

E termino desejando ao Armando e a toda a sua família as maiores felicidades e por muitos e bons anos. E quando digo bons anos é sem más companhias tipo aquele Alzeimer de que por aí se fala, que é tão malvado que até nos leva a fazer xixi fora do penico e outras coisas ainda menos ortodoxas.

Jacinto Saraiva Baptista

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