quinta-feira, 31 de maio de 2012

Histórias de Guerra 4 - Férias Em Angola

"Tu foste o principal estratega. Estabeleceste o percurso, as paragens os tempos de estadia, tudo certinho."
Diogo Gomes


Já não sei muito bem como nasceu o nosso propósito de fazermos as férias por lá. Uma parte da rapaziada, os mais afortunados ou nem por isso, mas talvez mais saudosos, iam para casa matar saudades. Nós decidimos gastar o dinheiro equivalente fazendo férias lá dentro uma vez que, estando naquelas lonjuras onde provavelmente nunca mais voltaríamos, seria de aproveitar e conhecer melhor a outra parte do território onde não havia lutas nem ânimos alterados. Juntou-se o Coelho, morteiral mais sisudo que na altura estava connosco no Dinge, delineou-se a estratégia e a ideia foi amadurecendo e ganhando forma.

Tu foste o principal estratega. Estabeleceste o percurso, as paragens os tempos de estadia, tudo certinho. E foi. Já nem me lembro como foi das estadias, se marcámos ou fomos à aventura. Claro que não marcámos. Não havia telemóveis, nem faxes nem nada que se parecesse. Bendita juventude que não tem medo do abismo. Nada nos metia medo. Nem a minha carta, novinha em folha. Teríamos que nos revezar na condução e um condutor mais daria descanso aos outros. Ainda hoje me espanto com a vossa coragem de admitir que um tipo que nunca antes tinha conduzido pegasse no volante para uma viagem daquelas. Há almas boas!!!

Tudo começou, em Luanda, pelo aluguer do carro. Acho que foi um Ford Cortina ou estou enganado? A primeira paragem julgo que foi em Benguela. Ainda hoje recordo o por de sol, na praia morena, que me marcou pela serenidade que o anseio de paz agudizava. A sessão de cinema ao ar livre, no Kalunga, acho que era assim que se chamava. Depois o Lobito, penso que ficávamos um dia ou dois em cada cidade já não me consigo recordar. Mais estrada e Sá da Bandeira, ou Nova Lisboa? Não tenho o mapa já não sei onde se situam as cidades. Não, acho que primeiro foi Malange, com a imponência das quedas do Duque de Bragança.

 Únicos visitantes, enchemos os olhos e a alma com tanta beleza selvagem e liberdade que já tínhamos esquecido que existia. O fragor da água a cair daquelas alturas fica para sempre nos nossos ouvidos. Paisagem indescritível para três almas que em cima do penedo contemplavam embevecidamente tal maravilha com que a natureza nos brinda. Mais uma vez as fotografias aqui eram fundamentais. Em Sá da Bandeira, seria, estivemos na fenda da Tundavala, fenómeno natural de clivagem vertical na rocha, uma elevação imensa a solicitar respeito pela natureza. Paisagem única a bendizer a decisão das férias para sul Também foi por aí que estivemos com uma tribo de nativos que usavam bosta de vaca nos cabelos em vez de brilcream. Qual era a étnia? A memória prega-nos partidas, não é ainda o senhor alemão que nos faz esquecer as coisas, não. Talvez amanhã quando voltar a escrever me recorde.

Agora me lembro que acho que preparámos melhor a viagem e escrevemos para o Turismo a pedir informações e mapas. Tenho lá por casa mapas, fotografias e demais informação que nos serviu para a viagem. Lembro-me de ter escrito para Lisboa, para um centro de turismo que havia ali na avenida da Liberdade, palácio não sei das quantas. Isto já está a ficar muito baralhado e fora de cronologia mas tu entendes porque na nossa memória está cá tudo. O itinerário que estabeleceste levava-nos até ao fundo de Angola, Moçâmedes e Baía dos Tigres. Em Moçâmedes, no deserto, tirámos fotografias em cima da planta carnívora, única no mundo, como de costume, a Welvitchia Mirabilis. Desta lembras-te de certeza.

Depois fomos à procura duma madrinha de guerra que eu por ali tinha. Trabalhava numa papelaria ou livraria e lá demos com ela. Era um bocadinho feiosa coitadinha. Coisas da guerra. Acho que na Baía dos Tigres comemos uma mariscada ou um peixe qualquer especial, já não me lembro bem. É engraçado como não tenho a mínima ideia daquilo que comemos pelo caminho. Hoje as minha papilas não perdoavam e de certeza que só comeríamos coisa muito boas. Como os tempos mudam. E também as vontades. Esta viagem durou o exacto tempo das nossas férias. Andámos um mês inteirinho a viajar.

(Continua)

Diogo

Aula de inglês: Óleo Nid


"E foi assim que a Tia Carolina passou a falar estrangeiro." 
Cila

Tia Carolina
Ao mais rápido e eficaz professor de inglês que já mais conheci.

 A história é a seguinte: A tia Carolina, saloia de gema, à altura senhora dos seus 60 e tal anos, que sempre teve grande estima pelo Sr. Dr. Queirós, seguia muito interessada um programa de televisão chamado “All you need is love”!

Numa vindima em que o título do programa veio à baila, fazia esforços inauditos para dizer o nome do mesmo em inglês, sem o menor resultado, informando o sr. Dr. que solicitamente lhe pedia para repetir após ele, que isso de falar estrangeiro era muito complicado, assaz impossível de alcançar.

“Nada mais fácil! Ó Tia Carolina diga lá: óleo Fula”, o que a interessada repetiu sem a mínima dificuldade. “Agora repita: óleo Nid”, o que a Tia Carolina disse de imediato. E foi assim que a Tia Carolina passou a falar estrangeiro.

Com votos das maiores felicidades.
Cila

Vidas - Avé, 13 de Maio


"Só um homem de grande abertura de espírito como o Queirós, poderá entender este meu atrevimento pelas referências feitas a este dia do calendário que é o dia seu nascimento."
Sobral Dias

Por meados de Agosto de 1941, José Queirós e sua amada e solidária companheira conjugaram a sua fé com vista ao enriquecimento da sua prole e o resultado não os desiludiu, antes pelo contrário. Todas as divindades, conhecidas e desconhecidas, mas especialmente Deus Nosso Senhor, Jesus Cristo e sua mãe Maria Santíssima, em 1917 alcunhada de Senhora de Fátima, se empenharam para que a população de S. Pedro do Rio Seco visse o seu efectivo aumentado de mais um varão, a quem foi dado o nome de Armando Teixeira Queirós, exactamente no dia 13 de Maio do ano da graça de 1942, dia grande segundo o calendário litúrgico Português.

 Aquele nobre e distinto burgo, paredes meias com a Praça Forte de Almeida que tão altos serviços prestou na resistência ao convencido imperador Napoleão, merecia aumentar a sua lista de notáveis onde pontuavam já distintos nomes como o de Eduardo Lourenço cujos méritos são reconhecidos não só pelas lusas gentes mas também pela intelectualidade internacional que tanto lhe admira a enorme cultura como a reconhecida independência de pensamento. Creio que foi o tratado de Alcanizes que no século XIII conferiu e garantiu a pertença definitiva ao Reino de Portugal de uma faixa fronteiriça onde se inseria S. Pedro do Rio Seco e, até aí, sempre disputada entre Portugal e Espanha.

Claro que aquelas gentes sofreram as influências dessas contingências e que durante e no pós-segunda guerra se viram entalados entre as prepotências do ditador de Ferrol e o seu amigo de Santa Comba Dão apadrinhados pelo “grande humanista!” Adolfo nascido lá para os lados de outra fronteira entre a Alemanha e a Áustria. Com ou sem as bênçãos das divindades oficiosas, uma coisa é certa, o pimpolho viria a revelar virtudes e qualidades invejáveis. Como “invejoso compulsivo “ que me reconheço, algumas delas lhe invejo, pecado que confesso pois como tal é considerado pelo catecismo da Santa Madre Igreja. Haverá alguma relação entre a data do seu nascimento, 13 de Maio, dia da senhora de Fátima, e aqueles predicados? De pouco vale a minha opinião como resposta, dada a minha condição de ateu.

Relembro aqui um episódio verídico. Um dia, já crescidote, confrontei a minha mãe com a seguinte pergunta: - sei que esteve em Fátima no dia 13 de Outubro de 1917 (dia em que os três pastorinhos tinham anunciado que a Senhora aparecia e se revelaria em milagres que sossegariam os incrédulos); o que é que a mãe viu? A pronta resposta veio de uma mulher honesta, independente e verdadeira : não vi nada mas muita gente apontava para o céu e afirmavam que a viam. Perguntava onde ela estava e diziam-me que a tinham visto passar por trás das nuvens. Eu bem espreitava mas nada via; não estaria na graça de Deus e não mereci vê-la. Foi também esta a explicação oficial da igreja perante os que não viram a Senhora empoleirada em cima duma azinheira e só aceitava, como interlocutores, os inocentes e humildes pastorinhos.

Todos os dias 13 de cada mês são dias de grande destaque mas o 13 de Maio é o dia maior do calendário litúrgico da Igreja Portuguesa. A Cova da Iria, outrora campo de pastagens de ovelhas e cabras é agora local sagrado de peregrinação obrigatória para quantos almejam a vida eterna; local também de visita obrigatória dos embaixadores de Deus na Terra com residência oficial no Vaticano e muitos dos bem-sucedidos homens de negócios que ali vão agradecer as graças recebidas. Nos referidos dias 13 as visitas assumem proporção de grandes multidões de pagadores de promessas, de infelizes doentes que palmilham léguas e léguas na esperança de merecerem a graça duma cura para os seus males e, misturados com todos, proliferam os profissionais do rapinanço que se ocupam em aliviar o mais possível os bolsos de tanta gente de boa-fé.

 Só um homem de grande abertura de espírito como o Queirós, poderá entender este meu atrevimento pelas referências feitas a este dia do calendário que é o dia seu nascimento. Não lhe vou pedir desculpas por isso porque, isso sim, ele poderia considerar uma ofensa. Pura coincidência, Fátima foi também o nome dado à mulher da sua vida, mãe de sua muito querida Patrícia e avó do neto Daniel a quem incumbe o desígnio de continuar, respeitar e engrandecer o nome dos avós. Sei que para este, o materno, é a luz dos seus olhos e à avó Fátima fará esquecer a partida que os seus olhos lhe pregaram. Calculo a satisfação com que o Queirós recebeu a vinda do Daniel. Por todas as razões que dispensam especulação mas mais uma que quero aqui referenciar: passou a ter a quem legar a mais significativa herança do seu pai. Falo do último chapéu que cobriu a cabeça do seu pai e que, para ele significa muito e tem um valor inestimável. Que o Daniel saiba, um dia, compreender isso .

(continua)

Sobral Dias

quarta-feira, 30 de maio de 2012

Bife com Ovo a Cavalo

"Mais históricos que as antas do Monte Abraão, só os bifes do Armando."
António Godinho Ferreira 

Nota explicativa a esta dedicatória (de autoria de um dos protagonistas)

Em 1970, a Fátima e o Armando foram os primeiros a ter uma casa de família, um T3 no Monte Abraão em Queluz.
Num fim de semana o casal convidou meia dúzia de amigos para almoçar. O repasto começou com berbigões num molho tão apreciado que os convivas foram molhando nele o pão até esgotarem o pão, o molho e a fome.Então resolveram ir jogar matraquilhos e comprar mais pão e quando o apetite voltasse davam conta do coelho, e assim fizeram.

Pelas quatro da tarde voltaram todos à mesa e apreciaram o coelho que desapareceu rapidamente naquelas bocas mais habituadas às refeições na Cantina da associação de Económicas. A Fátima perguntou se estavam satisfeitos ou queriam comer mais alguma coisa, embora convencida de estaria a fazer uma pergunta desnecessária. O Godinho remexeu-se na cadeira e disse que marchava algo mais.
- Eu tenho bifes no congelador, queres mesmo?
- Sim, respondeu o Godinho.
- Com batatas fritas?
- É boa ideia, retorquiu ele.
- Com ovo a cavalo?
- Sim, sim. Mas tu comes tudo?
- Como, claro! rematou ele.

Veio o bife com batatas fritas e ovo a cavalo, todos os olhos estavam suspensos no novo prato do Godinho e ele calmamente comeu tudo até à última batata. Vieram as farófias e o Godinho repetiu. Foi um dia que ficou para a história.

E viva a Juventude!  Hoje isto já não se passaria assim com os mesmos actores.


Amigo Presente e Disponível

"...cá estaremos à espera de poder dar-lhe os parabéns por este e por muitos outros aniversários. "
Telma Machado 


Quando pensamos no amigo Queirós, pensamos em quê?

• Pensamos no amigo presente e disponível
• Pensamos no marido amigo e companheiro
• Pensamos no pai galinha e dedicado
• Pensamos no avô extremoso e amoroso

Nesta data marcante e respeitável, em que se comemora o seu 70.º aniversário, quisemos participar nesta iniciativa de justa homenagem porque gostamos e temos gostado de participar no círculo de amigos chegados que acompanha o seu percurso de vida.

Muitas Felicidades na entrada para a nova década, e cá estaremos à espera de poder dar-lhe os parabéns por este e por muitos outros aniversários.

Beijinhos da Telma e Abraços dos meninos Manuel e António

Do Quelhas à Rua do Ouro


"...deixar correr a memória armazenada e permitir que as recordações façam o trabalho..."
Anselmo Cavaleiro



Nota Prévia

Ribeiro dos Santos, assassinado pela Pide no Quelhas

É com muito prazer que vou tentar escrever algumas notas sobre a minha vivência de muitos anos com o antigo Colega e Amigo Armando Queirós, associando-me, desta forma, à feliz iniciativa da sua querida filha de homenagear a vida do Pai na passagem do seu 70º Aniversário, com a edição de um conjunto de depoimentos de amigos.

À Patrícia quero aqui manifestar a minha profunda admiração por um gesto tão bonito quão pleno de significado, naquilo que a vida tem de mais belo: o amor. Desejo também agradecer-lhe ter-me distinguido com tão honroso convite.

Devo entretanto prevenir a Patrícia para a dificuldade que já hoje sinto em estruturar as ideias e, mais ainda, de lhe dar forma escrita, após uma paragem já tão longa no exercício de pensar e de comunicar. Assim, o método que mais se adequa às minhas limitações actuais será o de deixar correr a memória armazenada e permitir que as recordações façam o trabalho de preencher este depoimento.

- Do Quelhas à Rua do Ouro e da Rua do Ouro ao Quelhas

Já não sei bem se conheci o Armando Queirós no I.S.E., no nosso inolvidável Quelhas, ou na Rua do Ouro, no também nosso inesquecível Totta, ou no caminho entre estes dois mundos que preencheram e tanto determinaram as nossas vidas e as das nossas famílias.

Estávamos em 1971, creio. Eu tinha deixado o Serviço Militar e ingressado no Banco Totta & Açores, em 1970, onde o Queirós já estava há algum tempo, em resultado da fusão entre o Banco Lisboa e Açores e o Banco Totta Aliança ocorrida no início do ano.

Depois de muitos anos na Província e de mais três anos e meio de serviço militar, período este apenas interrompido por um ano no Quelhas, em 1965/66, eu era antes de mais uma pessoa pouco sintonizada com o modo de vida e os padrões da capital, adivinhando-se facilmente as minhas dificuldades, em vários domínios. Para mais era já casado e Pai, com a minha mulher e filha a viver na província, mais propriamente na Figueira da Foz.

(continua)
Anselmo Cavaleiro

terça-feira, 29 de maio de 2012

Mais um Ano de Sabedoria


 "Desde que conheci ao Armando aprendi muito mas de Portugal e da familia mesma"
Juan Carlos



Parabems Armando, habiendo alcançado mas um ano de sabiduria!

Esa sabiduría que hemos disfrutado todos na familia e que enriquece tudos os que temos a sorte de interactuar com voçe. Desde que conheci ao Armando aprendi muito mas de Portugal e da familia mesma. Neste verao estamos a planejar uma reuniao en Lagos. Otra geracao va reunirse pela primera vez, a Celeste Beatriz e o Axel Joao vam encontrarse com o Daniel.

 E vou ter de preguntar mas seguido da familia e da vida en Portugal e os relatos do Armando van ser pasados para a Beatriz e o Joao nas largas chuvosas noites das Islas Britanicas.

Juan Carlos

“I wanted to say how much I loved Armando and his beautiful wife and daughter, Fatima and Patricia. Although my Portuguese is non-existent they made me feel so welcome in their beautiful home in 2006. It was a real honour and delight for me to meet such a cheerful gentleman and I am so happy that through marriage to Juan that he is 'my' cousin too. I look forward to seeing them all soon and I have to admit, most of all wee Daniel; if he's half as handsome as his Granddad he'll melt hearts. Love”.

 Julie-Ann


E para concluir, lembra-te, o secreto de ficar novo por sempre e vivir honestamente, jantar devagar, e mentir a tua idade!

Histórias do Banco. Os Proscritos


"Pois bem, foi assim que os “ proscritos” da Av. Da República (eu, Queirós e Manuela Vicente) iniciamos um percurso de vida"
Sobral Dias


Estávamos no ano da graça de não sei quantos; já lá vão uns anos. Decorria ainda o século passado quando os estrategas do Banco decidiram remodelar a nossa Direcção. Nela pontuava gente muito qualificada mas não era esse o meu caso e, também por isso, mantive-me sempre distante desse processo. Quási todos os colegas foram rapidamente integrados noutros órgãos do Banco (suponho que de acordo com as suas competências e conveniências) e, quando olhei para o lado, vi-me fazendo parte de um trio que parecia ter peçonha (farto-me de rir, quando me lembro disto!). Os “proscritos”, além de mim próprio, eram o Dr. Armando Queirós e a Dra. Manuela Vicente (daqui para a frente, o Queirós e a Manuela Vicente).

Certo dia o Queirós quis saber se eu teria algum interesse preferencial no enquadramento em algum determinado departamento. A minha resposta foi, obviamente, a mesma que lhe daria hoje se as circunstâncias se repetissem: “ sou empregado do Banco e ao Banco incumbe saber onde eu sou mais preciso “. A curiosidade teve consequências porque me pediu para, na passagem pela Baixa, no meu regresso a casa, ir à Rua do Crucifixo falar com o Dr. Deus Vieira, responsável máximo pelo Planeamento, porque ele tinha interesse em falar comigo. Inteligente, já com grandes créditos de competência e responsabilidade, também directo e afável, recebeu-me bem.

Fiquei a saber que o Planeamento iria integrar e desenvolver o que de marketing (muito incipiente, diga-se) restava da nossa extinta (ou desmembrada) Direcção. Esse “apêndice “ iria ser liderado pelo Queirós e, entre ambos, já teriam acordado que precisariam de alguém com as competências que eu poderia desempenhar tendo em conta alguma experiência, supostamente, por mim adquirida durante a minha passagem de alguns anos pelas Informações Comerciais. Segundo eles, essas competências poderiam ajudar a “ espiolhar!” uma boa parte do que o Banco precisaria para desenvolver uma política de agressiva concorrência.

Estávamos numa altura em que as garras e a ambição do Eng.º Jardim Gonçalves pareciam querer “ abocanhar” tudo quanto era comércio bancário. O Dr. Deus Vieira não precisou de me prometer “mundos e fundos” para eu aceder ao convite. Pus uma única condição: não violaria os meus princípios éticos de respeito pela verdade para obtermos as informações que procurássemos. Algumas vezes me desrespeitei a mim próprio mas não me pesa na consciência a prática desviante de princípios básicos que prejudicasse fosse quem fosse e seja impeditivo de S. Pedro me franquear as portas do “Reino de Deus!”.

Pois bem, foi assim que os “ proscritos” da Av. Da República (eu, Queirós e Manuela Vicente) iniciamos um percurso de vida que, a partir do r/c da Rua do Crucifixo até ao 4º. Andar da Rua dos Sapateiros. Em boa verdade, a ascensão física aos andares superiores, correspondeu, quanto a mim, também ao valor e à importância que a nossa colaboração mereceu aos olhos de quem a recebeu. Humildemente, eu não passei do 2º andar. O desenvolvimento do nosso trabalho processou-se sempre harmoniosamente sempre no sentido de prevalecer o interesse do Banco e em obediência a quem em nós confiou.

Agora, à distância e tendo em conta o sucesso que, modestamente, fomos alcançando, pode parecer que esteve subjacente qualquer estratégia de tudo fazermos para nos afirmarmos, dizer que existíamos e que merecíamos ser considerados. Nada disso. Acontece até que é a primeira vez que me ocorre essa eventualidade. Já nos conhecíamos minimamente mas fomos desenvolvendo uma amizade às vezes “resmungada e rezingada” mas genuína e verdadeira. Parece estranho que personalidades tão diferentes se conjugassem tão bem sem nada abdicar de si próprios. Seria matéria de estudo para uma tese de mestrado em sociologia.
(continua)

Sobral Dias

segunda-feira, 28 de maio de 2012

A Vida Toda numa Mão

"...em cada um de nós há sempre uma criança."
Maria Emília

 A vida toda cabe na tua mão. Se olhares dedo por dedo, começando no mindinho, há espaço para a infância, para a juventude, para a idade adulta, para a meia-idade e para a velhice.

As idades da vida vão acontecendo-nos sem darmos grande conta disso e os tempos exteriores e interiores nem sempre vão a par.

Acho sempre ternurento ouvir um idoso de 70 anos referir-se a um amigo como “como um rapaz da minha idade” ou ouvir conselhos tão responsáveis da boca de uma criança que nem um adulto conseguiria proferia tão acertadamente.

Diz o senso comum que em cada um de nós há sempre uma criança.

Se souberes lidar com experiencias que já tiveste com crianças, jovens, adultos e idosos que foram relevantes para ti, de facto o convívio com as pessoas de todas as idades vai deixar a tua vida mais rica e terás, não a vida na mão, mas uma mão cheia de vida.

Um grande abraço Maria Emília

O Armando, a Quem eu Chamo Cândido

"... passei uns dias metido em casa dele, ali ao cimo do Monte Abraão. Eu não estava autorizado a vir à rua por uma razão qualquer, mas foi a semana melhor da minha vida."
Isaac


Assim esbelto e escorreito, o Cândido criou-se na casa da varanda. Quando era menino olhava lá de cima os longes da charneca, e aos poucos foi aprendendo a considerar o mundo à distância a que está. A verdade é que o sacana (o mundo, claro) não merece mais.

Eu só mais tarde vim a conhecê-lo. E guardo dele uma imagem, antiga e muito nítida, numa loja de aparatos modernos e luzidios, no rés-do-chão duma pensão burguesa. Mas nunca soube como é que ele aprendeu a manusear aquelas máquinas todas. Às vezes ainda o vejo, de livros na mão, de partida para o Centro, ao princípio da noite.

O Centro era um aljube de pedra, assim visto de fora, onde eu imaginava pontes levadiças e catacumbas sombrias. Mas nesse tempo ainda havia milagres, e o Cândido contava das aulas nocturnas onde se falava de epopeias e poetas. Muitos anos depois, tantos que já nem me lembro, passei uns dias metido em casa dele, ali ao cimo do Monte Abraão. Eu não estava autorizado a vir à rua por uma razão qualquer, mas foi a semana melhor da minha vida. Um dia fui encontrar-me com ele à Rua do Crucifixo.

Nesse dia mostrou-me um cartãozinho dourado que tirou do bolso, e que dava dinheiro a quem o não tivesse. Não sabia ele que me estava a abrir as portas da perdição e da miséria. O Cândido criou-se na casa da varanda, entre quatro galfarros, num tempo em que as mães sabiam fazer milagres. Ele escolheu a melhor parte que havia em cada um deles, reservou-a para si e assim se fez, esbelto e escorreito. É daí que vem a grande falta, sempre que o mundo se junta e ele não comparece.

Isaac

domingo, 27 de maio de 2012

Amigo e Conselheiro

"Tu personificas um bocadinho o meu pai"
Raquel


Então muitos parabéns, por este dia tão especial, que certamente ficará na tua memória.

Só uma confidência, antes de me despedir. Tu personificas um bocadinho o meu pai, na maneira como ambos pensavam e falavam sobre determinados assuntos, por isso sei que se algum dia necessitar de um conselho importante, que só um pai consegue dar, sei que posso contar com algumas palavras tuas, que para mim serão sábias (tal como eu considerava o meu pai).


Um grande beijinho de Parabéns!!!

 Raquel Pereira

Histórias de Guerra 3 - O Primeiro Natal e Um Casamento

"Depois das núpcias, mandava o ritual que se expusessem a público os lençóis para atestar a virgindade da noiva."
Diogo Gomes


Espanta-me, como quase 50 anos depois destes acontecimentos as imagens se me apresentam com estranha clarividência. A única diferença é que nos vejo com o aspecto que então tínhamos. Franzinos, escorreitos, livres, de mente sã, sem a carga emocional que depois adquirimos ao longo da vida. Acho que já estou a divagar.


O Natal, lembras-te do primeiro Natal que lá passámos? A estranheza do calor mais do que a falta da família. Lá engendrámos uma festa com ramos de palmeira em vez de pinheiro, mas lembro-me que havia muitas iguarias que as famílias mandaram, especialmente os pais do Matos, que moravam ali mais perto, em Carmona. Lembro-me até de bolo- rei! E bebida, muita bebida!!! que não conseguia afogar as mágoas nem encurtar as distâncias da separação e dos nossos sonhos. Dos episódios de guerra, patrulhas e quejandos, não estou muito a fim de comentar. Outros camaradas certamente o farão com muito mais propriedade e apetência. Por mim fiquei vacinado.

Um evento social de que participámos em plena mata não posso deixar de referir já que estes apontamentos vão ter honra de prelo. Um evento que não teve honra de convites dourados com ementa escrita no interior. Já adivinhaste que me refiro ao casamento do Alçada. O pedido, se assim se pode chamar, diria mais a negociação, decorreu na aldeia dos pais da noiva, que não teria mais de 14 anos.

Assistimos à preparação da pequena, recolhida com as mais velhas, cara enfarinhada de branco, ouvindo os conselhos e os cânticos adequados à cerimónia. O dote, ou a compra, resumia-se a dois cabritos e dois garrafões de capacete. A história do capacete intrigou-me. Era uma envoltura do gargalo em gesso, na época não havia plástico, que os tornava invioláveis e à prova de mixordeiros que na zona abundavam. Não sei do resto mas penso que envolvia também uma maquia em dinheiro. A boda, com pompa e circunstância, meteu galinha fiote e saca-folha, uma espécie de folhas de palmeira com fuba regado com dem dem e que se comia enrolando nos dedos.

Meu deus como é que me lembro disto tudo com tal detalhe!!! Depois das núpcias, mandava o ritual que se expusessem a público os lençóis para atestar a virgindade da noiva. Caso tal não se verificasse caberia ao pai devolver o dote. Barbaridades de que fomos cúmplices.

Diogo

(continua)




sábado, 26 de maio de 2012

Rita & Companhia


"Para mim o Armando é 3 em 1", 
Rita, Jorge e Inês 



 • É o meu TIO, aquele que fazia de todas as reuniões familiares uma risota quando me queria ensinar a ser uma verdadeira Miss da Linha e demonstrava no corredor da casa dos Avós exatamente como me devia movimentar: “Bates com o rabo numa parede e a seguir na outra e movimentas a cabeça ao contrário”;
• É o nosso PADRINHO, do nosso casamento, porque pela importância que tanto ele como a Fátima tiveram ao longo da minha vida, não tive dúvidas na altura de escolher;
• E é o TIO-AVÔ da nossa Inês, que quando nascer poderá gozar dos bons conselhos de que tive o privilégio de ouvir e também das dicas para se tornar a próxima Miss!!!

 Por tudo isto e muito mais, muitos beijinhos de PARABÉNS da tua sobrinha Rita Miss, do sobrinho Jorge Fotógrafo e da sobrinha-neta Inês mais linda!!!

Carta de Parabéns ao Armando Queirós


 "...esperemos que a Troika não lhe mingue demasiado a pensão"
 Emília Rodrigues 


Não resisto à tentação de enviar umas palavras de parabéns ao amigo Armando pelo seu aniversário. 
Parece que são já setenta. O tempo passa não é?

Sou muito amiga do Armando e da Fátima. Espero que eles também sejam meus.Foi um privilégio para mim ter, através do Luís (Rodrigues), conhecido a família Queirós e o seu grupo de amigos dos tempos da Guarda e do seu famoso Liceu.

Ouvi muitas histórias sobre esses tempos contadas e recontadas nos encontros (em geral gastronómicos) que costumamos ter todos os anos e que já acontecem há vinte e tal anos; os locais são a casa do Luís Veiga, em Santo Adrião, que deve estar no top de ocorrências e de participação, a casa do Luís Queirós, em Telheiras e a do Luís Rodrigues, em Rio de Mel. Para mim, estas histórias tiveram bastante impacto já que cresci e vivi sempre em Lisboa onde, mesmo nesse tempo da minha meninice, era impossível acontecerem. Foi sem dúvida uma vivência muito rica, a dos amigos da Guarda, e que deixou um cimento muito forte nas ligações afectivas que têm mantido ao longo da vida.

Não é fácil que colegas de liceu de onze anos de idade (que viriam a ser uma espécie de núcleo duro) e mais tarde, outros, fiquem amigos até serem sexagenários! Os meus parabéns e a minha admiração!

Sobre o Armando, não posso deixar de sublinhar a sua enorme simpatia e espírito de humor sempre presentes nos referidos almoços em que chegou a haver pequenas encenações teatrais, nomeadamente na Festa do Bucho.

Aqui em Rio de Mel apenas três vezes o Armando e a Fátima nos presentearam com a sua visita. Após o almoço, e depois de algum descanso, demos um passeio em grupo até ao Vale da Pereira e à Moita Redonda, propriedades próximas de nossa casa. O Armando com o seu conhecido humor logo aproveitou para brincar comigo dizendo que eu tinha casado com um grande terratenente!

Do que se tem lido e ouvido contar sobre o percurso do Armando, estou em crer que ele pode considerar-se um homem realizado, feliz, tanto no plano profissional, como no plano familiar. Num registo brincalhão e no plano profissional esperemos que a Troika não lhe mingue demasiado a pensão, e no plano mais privado esperemos que continue a ver por muitos e bons anos o bem estar da sua família querida, quer o núcleo restrito quer o mais alargado.

Que continue a ser o avô mais feliz do mundo! E que o Daniel lhe dê muitas alegrias.

Emília Rodrigues

sexta-feira, 25 de maio de 2012

Um Homem de Várias Facetas

"...grande anfitrião: recebe bem, cozinha bem, cuida bem dos seus convidados…"
Sérgio

 O meu amigo e tio Armando é seguramente um homem de várias facetas. Por ocasião do seu aniversário, vou aqui revelar algumas delas, estando seguro que existem outras.

 Tio Humorista:
No convívio, sempre agradável, que com ele mantenho, aprendi a conhecer e apreciar o sentido de humor refinado e inteligente dos Queiróses, que o tio Armando utiliza como método para amenizar as relações e até para desbloquear conversas mais geladas!

Tio Protetor:
Uma pessoa que tem um sentido de altruísmo acima da média, a ele se deve seguramente, muita da coesão familiar e do bom ambiente sempre existente nos nossos convívios familiares. O jornal “Casa da Varanda” de que ele é editor redator e dinamizador, feito sempre de forma imaginativa e informativa, é um bom exemplo disso. Considero este jornal, a melhor forma de estimular o sentimento e o orgulho de pertença à família, sem o qual, muitas coisas se iriam perdendo para as gerações mais novas.

Tio Viajante:
Os relatos das suas viagens despertaram em mim a vontade de conhecer outras paragens. E até me ajudaram a preparar as minhas. Cito, como exemplo, as preciosas informações sobre a viagem que fez à Argentina, e que me permitiram, uns anos depois, quando eu próprio fiz essa viagem, aproveitar dos seus ensinamentos.

Tio Hospitaleiro:
Ele é um grande anfitrião: recebe bem, cozinha bem, cuida bem dos seus convidados… Nunca esquecerei os bons momentos passados na sua casa em Lagos, onde aportámos um dia, e onde aprendi que uns carapaus “alimados” são o melhor aperitivo que se pode ter para abrir o apetite e as palavras a velejadores famintos e regressados de mais uma viagem agitada. Por tudo isto, e por muitas outras coisas, um grande obrigado e um forte abraço para o tio Armando E Muitos Parabéns!

Sérgio Queirós

Histórias de Guerra 2 - Quem Partiu o Pé?

"...a primeira e única lição de condução que tive na vida foste tu que ma deste no velho jeep Willys."
Diogo Gomes


E como Deus não dorme, o Picciochi, (ou seria outro!?), no salto, partiu um pé. Castigo ou acidente? Depois aquela interminável espera para distribuição das armas e rações de combate. Um grupo de jovens amontoados pelo cais, sentados em cima dos sacos cilíndricos que guardavam os nossos parcos haveres, temerosos duma guerra para a qual não concorremos.

Quem pode ultrapassar estes traumas dos 20 anos? A interminável e infernal viagem pelo escuro da noite, mata adentro, coração num aperto, 10 horas para galgar 100 quilómetros numa picada com buracos onde cabia uma GMC! Só nós, cordeirinhos inocentes prontos para uma matança anunciada.

E a chegada, lembras-te da chegada? Um aquartelamento nos confins do mundo. As comodidades da casa tinham ficado a anos luz de distância. Penetrámos uma caserna de madeira com telhado de zinco. O capim dava pelos joelhos e logo ficámos com umas perfeitas meias de pulgas famintas coladas às nossas pernas. Ninguém se acreditaria! Rendemos uma companhia comandada por um louco. Fazia rebolar granadas pelo chão da messe como bolas de ténis, em jogos de guerra de gente demente. Pobres maçaricos que logo ali levaram um susto de morrer. E a mulher desse capitão, que ali vivia com ele, de revolver à cinta como um pistoleiro de tempos idos? Os filmes de cow boys comparados com aquilo eram meras comédias.

Depois foi a limpeza e reconstrução. Tenho que concordar que ficou um brinco. A tua oficina lá ao fundo. Como é que conseguias manter aquele ferro velho que era a frota de viaturas, sempre a trabalhar? Tempos em que um arame e um alicate faziam milagres. Agora é só tecnologia e ainda bem. Havia que fazer a gerência das pequenas necessidades.

 Quem é que lavava e tratava da roupa? Dentro havia um núcleo de locais que se dedicava a essas tarefas. Contratei o Bartolomeu. Pequeno. Afável, pernas arqueadas e muito solícito. Julgo que foi também o teu governante. Camisas bem lavadas e passadas a ferro. Estava ultrapassado um problema.

Das inúmeras histórias que não ficaram para a história muito haveria que escrever. Será que alguém algum dia o fará, que não esses vendilhões do templo que se servem da guerra para enriquecerem contando patranhas fantasiosas como algumas que tenho lido sem conseguir chegar ao fim? Das coisas boas também reza a história. As comezainas de um veado apanhado distraído, assado no forno do padeiro, na messe, as idas ao Massabi comer uma terrina de camarão por dez paus, onde o Matos nos recebia bem, as conversas até altas horas da noite na companhia de uma grade de Cuca ou Nocal, os jogos de cartas e por aí..

Numa dessas noites encontrámos o capitão Vergas Rocha, perdido de bêbado, deitado na valeta que passava junto aos nossos quartos. Levámo-lo calmamente para o quarto mas já não sou capaz de dizer quem o levou. Um dia, quando fui a Luanda, pediu-me que lhe comprasse o Mein Kampf. Era um livro proibido, ou em vias disso, mas havia uma livraria em Luanda que o tinha. Comprei dois, pra matar a minha curiosidade! Nunca percebi tal encomenda.

 Lembras-te de uma noitada em que nos vestimos todo à civil, com gravata e tudo, e jogámos e bebemos até de manhã sempre com a alegria folgazã do Isidro a marrar com o Gaguinhas? Tenho fotografias dessa noite mas temo já não ir a tempo de as enviar para serem publicadas. Ficarão para o livro dos 80 anos que estou certo a Patrícia organizará e eu só espero cá estar para contribuir. Foram os momentos menos maus das agruras porque passámos.

Acabou-se-me a bateria durante a viagem e cá estou de novo. Entretanto o espaço de tempo deu-me para rememorar outras situações. Este episódio da guerra estava já enterrado bem fundo e não fossem as amizades que ali se cultivaram, num grupo restrito, tu, o Matos, o Galamba, o Neves, o Coelho da Rocha, o Isidro, o Serra Neves, o Mendes e pouco mais, por aqui me teria ficado.

Não te lembras mas no prelúdio da nossa célebre viagem de que trataremos mais adiante, decidi tirar a carta. Imagina que a primeira e única lição de condução que tive na vida foste tu que ma deste no velho jeep Willys. Tu já tinhas carta militar, por inerência de funções, e eu nunca tinha pegado num volante para conduzir um carro, ou uma viatura, como se diz em linguagem militar. Não te lembras e de facto não é caso para te recordares só que para mim passou a fazer parte da história da minha licença de condução. Claro que fiz má figura na mesma, especialmente quando o examinador me mandou fazer inversão de marcha numa subida. Correu mal mas nada que um par de whiskeys pagos ao examinador não tenha resolvido.

Bons tempos!!! Aprendi depois à minha custa e à tua que se deixaram conduzir no carro que alugámos, sem medo… digo eu. A vantagem de ir escrevendo aos poucos, nos intervalos da praia e durante as quentes noites destas paragens, é que o nevoeiro se vai dissipando e vêm à mente as imagens daquele tempo.

Afinal julgo que o tipo que partiu o pé foi o Azeredo. Lembro-me agora de o ver apoiado numa bengala. Não vale a pena alterar o que já escrevi a este respeito, se a Patrícia entender substituir o texto e colocar os personagens no seu lugar é absolutamente livre de o fazer.

Diogo

(continua)


quinta-feira, 24 de maio de 2012

As Nossas Férias no Algarve

"Tenho-te como Irmão"
 Elisa Carvalho

O horário marcado para início da viagem era bem preciso: horas, minutos e segundos!!!
A viagem era animada por cantorias, músicas que adaptavas maravilhosamente, tal como esta: “uma gaivota voava voava, filha da #%@& nunca mais parava!”

Os dias eram passados conversando, rindo, passeando e em altas pescarias. O ex-libris destas foi o “carapau maluco”. No último dia de férias o peixe caiu por distração no anzol do único pescador bem artilhado... O regresso das férias era feito com o desejo de voltar!

Cunhados há muitos!!! Tenho-te como Irmão. Obrigada Amigão!!!

Elisa  Carvalho

Parabéns ao novo septuagenário

"O Armando era simpático e algumas vezes divertido"
Rita


 Conheci o Armando no ano a seguir à Revolução por intermédio do irmão António, com qual eu namorava e me vim a casar. Eram tempos felizes do «25 de Abril» e algumas vezes fomos ver filmes nunca antes imaginados, a maioria provenientes da ex-União Soviética.

O Armando era simpático e algumas vezes divertido. Durante todos estes anos, houve uma relação afável com ele e houve duas fases da minha vida em que me sensibilizou: quando o meu pai faleceu, em que ele fez questão de estar presente no funeral com a Fátima, estando eles de férias no Algarve; quando o António esteve hospitalizado, foi o irmão que mais o acompanhou. Muitos Parabéns ao novo septuagenário.

Rita Tavares

O Caminho da Confraria do Bucho

"... um esboço, ainda que mal-ajeitado, da envolvência que o viu crescer"
Veiga



Não é um retrato do Armando Queirós que aqui faço, que o não sei fazer. É apenas um esboço, ainda que mal-ajeitado, da envolvência que o viu crescer – quando se fazia o homem que hoje é, maior ainda na grandeza de alma que no tamanhão do corpo – e que continua, esse esboço, num tempo mais tardio em que entre nós se desenvolveu um relacionamento de maior proximidade. Nesse esboço a silhueta do Armando ressalta aqui e ali por entre a pacatez do meio em que se reserva uma posição despercebida, que ele nunca foi dado às luzes da ribalta. É um esboço mal-ajeitado, já o disse, saído de mão pouco certeira, mas ditado pelo apreço que o Armando suscita e pela simpatia que derrama perdulariamente à sua volta e me não deixam indiferente.

 Nenhum dos quatro irmãos subiu a encosta da vida de elevador. Pela escada, só o mais novo, que já teve o crescimento acompanhado por uma economia familiar um pouco menos diminuída. Os outros três subiram pela corda, à força de pulso, que é como quem diz à força da vontade de aço que se impuseram em contracorrente à contrariedade dos parcos recursos da família. A aliviar um pouco a cansativa rotina do atendimento dos fregueses ao balcão da taberna, donde lhes vinha o pão, qualquer dos quatro acudia com a sua ajuda quando possível, limpando do velho mármore do balcão o vinho derramado dos copos servidos, estendendo o pratinho com o petisco que enchera o olho ao freguês e lhe havia de compor o estômago acompanhando a pingoleta, ou lavando ao jorro da torneira os utensílios dos serviços já prestados. Era uma rotina pesada essa que atravessava os dias sempre repetidos no calendário semanal onde não cabia o descanso dos domingos nem dos dias santos de guarda de que se ouvia falar no sermão do púlpito ou na simples homilia em cada missa católica, com a taberna aberta em contravenção às leis ditadas pela religião dominante mas em obediência aos ditames imperiosos das seis bocas a alimentar, que a realidade da travessia terrena urgia mais que a imaginação do além.

O mais velho, o António, fez-se adolescente e conheceu o mundo do trabalho assalariado na Junta de Energia Nuclear; o segundo, o Norberto, seguiu-lhe o exemplo e iniciou-se na mecânica automóvel numa oficina de reparações donde havia de saltar para trás do balcão dum banco, por onde viria a fazer carreira; o mais novo, o Luís, bafejado pela economia familiar já menos esticada, da 4.ª classe passou logo ao Liceu e seguiu por aí fora, sempre em boa maré. Ele, o Armando, o terceiro da ninhada, foi parar à firma Conde & Gião, onde ajudava os clientes na decisão de compra dum ou doutro electrodoméstico ou dum fogão a gás.

No alcance do trabalho remunerado que cada um dos três granjeou esteve a mão da D. Dores, a Cota, como era popularmente conhecida, embora inadequadamente, devido aos dedos defeituosos de nascença ou por acidente, já não sei dizer. A D. Dores, de quem se dizia que mandava mais que o bispo – e não era esta uma sentença assim tão despropositada, note-se! –, não esmolava aos comerciantes ou industriais instalados que dessem um empregozito àquele por quem intercedia; também não ordenaria feita patroa labrega, mas lá faria compreender aos empregadores que era seu dever social atender a pretensão exposta, sempre e só em benefício de quem precisava. E fosse por temerem ver o seu nome citado na praça pública, fosse porque a D. Dores lhes metesse a mão na consciência que ostentavam como cristã em cada domingo assistindo à missa do meio-dia na Igreja da Misericórdia, celebrada pelo Padre Freire, afamado pelas homilias de fazer chorar as pedras, ou fosse simplesmente porque a D. Dores lhes caísse no goto, o certo e sabido era que anuíam e o rapaz intercedido lá tinha onde começar a ganhar o sustento! E foi assim que o Armando começou a fazer pela vida, ao mesmo tempo que, à noite, depois dum jantar apressado, à semelhança dos dois mais velhos, apanhava os livros debaixo do braço e lá ia ouvir as lições na escola nocturna, no Centro, como era chamada, onde, mais uma vez, a D. Dores comandava a organização que permitiu a muitas dezenas de rapazes, antecedendo quantas vezes voos de maior fôlego, obterem o diploma do 2.º ciclo liceal, em muitos casos fazendo os cinco anos lectivos em apenas três, ao mesmo tempo que trabalhavam oito horas por dia para ganhar o pão que houvessem de comer.

Ao tempo, e graças ao relacionamento com o Luís, advindo do companheirismo do Liceu, era frequente a minha presença em casa deles, onde tantas vezes a Ti Aida me sentou à mesa, no reservado, e me colocou na frente um prato de sopa já com a colher a jeito, e, ainda esta não terminada, já uma travessa bem aparelhada com o que houvesse no dia descia sobre a mesa pela sua mão carinhosa. Não obstante ali ser perdido e achado frequentemente, não se desenvolveu o meu relacionamento com os três irmãos mais velhos dado regularmo-nos por relógios de padrões de vida desencontrados, já que eles trabalhavam de dia e estudavam à noite. Desse tempo, a recordação que tenho de convivência com o Armando resume-se a uma ocasião em que, vá lá alguém hoje saber dizer a que propósito (talvez a nenhum…), o Luís, eu e ainda outros, decidimos fazer uma jantarada lá em casa (mas no primeiro andar, não na taberna, que aquilo era coisa fina!) e termos convidado um professor da Escola do Magistério Primário, o Dr. Vasco, com quem simpatizávamos, conhecido por ser um bom copo. Já regados, que o Ti Queirós não deixava o jarro do vinho chegar ao fundo, o Dr. Vasco disse umas palavrinhas à laia de discurso e nós aplaudimos, comentámos, falámos pelos cotovelos, emocionámo-nos e o mais que era susceptível de suceder em tais circunstâncias. Ora aconteceu que o Armando apareceu por lá, talvez depois das aulas a que assistira, e fez súcia connosco, mas, observador atento que era, sem se embrenhar no falatório que nos animava; no dia seguinte, falando-se da jantarada, evidenciando já a queda para o dichote oportuno em que é pródigo, o Armando comentou a nossa emoção chamando à liça a abundância de vinho que o Ti Zé Queirós nos fornecera...

Correu o tempo e cada um rumou a outros azimutes. A convivência próxima com o Armando estava reservada para mais tarde. Regressado eu da Guerra Colonial em 27 de Março de 1969, poucos meses depois, em 19 de Outubro, prematuramente, sem que a natureza madrasta lhe permitisse cumprir o seu ciclo de vida, finava-se a Ti Aida, que fora um pouco minha segunda mãe. Acompanhei os quatro irmãos e o Ti Zé Queirós no funeral, em S. Pedro, e lá almocei com eles e com os padrinhos dos quatro, a Ti Lucília e o Ti Norberto, em casa destes. O falecimento da Ti Aida originou o passo significativo da minha aproximação aos três irmãos mais velhos, que em Lisboa se desenvolveria com o António e o Armando nas tertúlias do há muito desaparecido café Nova York e na Casa do Lumiar, alugada pelo António, que foi um alfobre de cultura, de vivência, de desenvolvimento e sedimentação da personalidade que os moldaria a eles e a quantos por ali tiveram assento nos anos da Universidade. Depois, em 1990, a 23 de Dezembro, foi a vez do Ti Queirós terminar o seu ciclo de vida. Este finamento veio a ser o motivo próximo para um almoço na minha casa, no início de 1991, que foi um modo de homenagear e a Ti Aida e o Ti Zé Queirós. Foi o primeiro almoço do bucho, que se tem vindo a repetir ano após ano, depois alargado a outros convivas. Participante assíduo nesses encontros da Confraria do Bucho, como o grupo veio a consagrar-se, o Armando pontuou sempre pelo bom humor permanente, o chiste no momento apropriado, a observação oportuna, a opinião que se sabe avalizada e por que se espera.

Estão a completar-se setenta anos desde que a Ti Aida o pôs no mundo. Quem quiser saber o ano desse acontecimento recorra à tabuada e faça uma simples diminuição, se souber. Mas facilito a conclusão adiantando que foi depois de 1917, o ano das famosas visões numa carrasqueira, a 13 de Maio. Talvez por ter sido a 13 de Maio – dizem algumas más-línguas! –, tenha escolhido a Fátima para companheira, sem a qual, diga-se em abono da verdade, o Armando não era a mesma coisa…

Veiga

quarta-feira, 23 de maio de 2012

Um Tio Fixe

"O Tio Armando é uma bandeira do sangue e das tradições dos Queiróses"
Pedro



Há tios chatos mas o Tio Armando não é um deles. Lembro-me quando era criança, não há muito tempo portanto, que gostava de estar com este Tio… inspirava-me confiança, afecto e diversão.

Em sua casa fui sempre bem recebido, apesar de já me terem dito que uma vez ficou a tomar conta de mim e que chorei o dia todo… pois é ossos do ofício, aproveito este texto para pedir desculpas se fui chato nesse dia!

Sempre me fascinaram as suas piadas (algumas secas), os sítios por onde viajou, a fama de bom profissional que sempre ouvi associada a ele e o bom homem de família que foi e é! De facto este senhor, é um excelente marido, pai, irmão e agora avô. O Daniel tem ali um grande exemplo para seguir no futuro e não só ele… este Tio é um exemplo para todos nós na forma como geriu e gere a sua vida… é uma bandeira do sangue e das tradições dos Queiróses!

Mais recentemente começou a fazer natação e ganhou mais uns pontos para mim, pois é o único de 4 bravos irmãos que percebeu a importância que tem cuidarmos do nosso corpo e fazermos exercício. Pelo que já percebi a nossa família não tem muita longevidade mas parece que tudo vai mudar nesta geração… este Tio Armando faz 70 anos, mas está cá para ficar pelo menos mais 30, pois cada vez que o vejo parece mais novo, saudável e perspicaz!

Por tudo isto eu gosto muito do Tio Armando e quero desejar-lhe um forte abraço de parabéns, não só por este dia mas por tudo o que já fez ao longo da sua vida e ainda vai fazer: um exemplo de rectidão, valores e boa disposição!

Abraço,

Pedro Queirós

Sábio e Bondoso


 "Para o grande amigo do coração, muitos Parabéns"
Orlanda Pereira 

 
Depois de muitas e longas viagens, surge a gastronomia, com muito requinte - maças assadas na lareira, arroz de cabidela e outras coisas de comer e chorar por mais. Tudo isto, que vem de alguém sábio e bondoso. Para o grande amigo do coração, muitos Parabéns

Orlanda

Histórias de Guerra 1 - De Estremoz a Cabinda

 "70 anos Queirós? É muito tempo, gaita. E desses 70 anos vinte e quatro meses passámo-los quase sempre juntos."
Diogo Gomes



A Patrícia pediu-me que escrevesse alguma coisa relacionada com a nossa estadia em Cabinda, para o livro com que te pretende surpreender no dia dos teus 70 anos. Boa menina. Pelos vistos tivemos a sorte de ter bons filhos. Também eu os tenho! Deu-me como prazo o dia 1 de abril. Prometi-lhe que sim e que até lhe mandaria algumas fotografias, que tenho muitas. Quem tem uma filha disposta a coligir uns escritos e fazer uma publicação pelos 70 anos do pai tem que ser muito boa filha.

 E eu sei, melhor que muitos camaradas com quem lidámos de perto, que tu és muito bom homem, embora um tanto já para o velhote, convenhamos. E teria havido outro remédio, condenados como estávamos a lidar de perto uns com os outros, circunscritos naquele quadrado de arame farpado? Mas 70 anos Queirós? É muito tempo, gaita. E desses 70 anos vinte e quatro meses passámo-los quase sempre juntos. Um lapso de tempo roubado da nossa jovem vida, completamente perdido num fim de mundo, a defender aquilo que nos não pertencia e para que nada contribuímos. Violências que a teimosia de um velho decrépito e o seu séquito de conselheiros e generais senis não souberam ultrapassar.

Acontece que por via deste meu vício do trabalho, que me tem mantido sempre ocupado, mas vivo, a agenda complicou-se. As minha boas intenções de fazer um escrito decente, circunstanciado, bem documentado e dentro do prazo proposto goraram-se. Acabei ontem uma obra para um amigo e hoje estou metido num avião rumo ao Rio de Janeiro para ver outros trabalhos misturados com férias. Aproveito as longas horas da travessia do atlântico para cumprir a promessa e ir escrevendo de memória, já que não me vejo a faltar ao compromisso que assumi com a tua filha Patrícia. Vai-me desancar por não ter anexado as prometidas fotografias. Outro dia o faremos. Aqui fica a promessa.

 Não sou capaz de escrever de carreirinha a nossa saga como se de um diário se tratasse mas alguns episódios me saltam à memória em flashes fugases. Desde a preparação para a partida, em Estremoz, onde nem sequer nos conhecíamos, até ao embarque no comboio que nos levou direitos ao cais de Alcântara como se fossemos para a camara de gás. O desfile, as senhoras do movimento nacional feminino a distribuírem uns míseros maços de cigarros, mesmo para quem não fumava. Solidariedade balofa que bem se dispensava. Os últimos beijos, o adeus dos lenços, as lágrimas, enfim a despedida que para alguns foi definitiva.

Depois o embarque no Vera Cruz que no seu vai vem carregava os pobres coitados para a incerteza. A passagem por S. Tomé, com a ilha do Príncipe à vista, apanhou-nos, já de manhã, a jogar a lerpa no camarote não recordo de quem. Episódios inesquecíveis como o desembarque ao largo de Cabinda, com direito a salto para um batelão a subir e descer de acordo com o capricho das ondas, 3 metros abaixo da escada do portaló. De batelão navegámos a parte final da viagem até ao cais, que nos conduziria a uma terra vermelha, com um cheiro característico que nunca mais nos deixaria em paz. O Vera Cruz não poderia atracar a um cais que nunca fora construído. Os futurólogos não souberam prever a guerra e o transporte massivo de tropas a necessitar de um cais de acostagem mesmo que outras necessidades o exigissem.

Diogo

(continua)


terça-feira, 22 de maio de 2012

Diversão Sempre...

"...além de apreender que não se podem colocar baldes com água na bagageira, valorizei o ensinamento que não vale a pena perder tempo com coisas sem importância."
João


Mil novecentos e oitenta e três. Início de Agosto. Destino: Fuzeta!

O tio pega na tia, na prima e em mim. Partimos para as tradicionais férias de Verão. A «catrela» transporta-nos rumo ao Sul.A rotina impera. Convinha não esquecer os objetos essenciais para uma estadia tranquila na praia: o ancinho, a pá, as formas e, claro, o balde. Tudo bem acomodado. O tio ao volante, a tia no «lugar do morto», eu e a prima atrás. Atrás, as malas, os utensílios de brincadeira e o farnel.

Toda a fase preparativa da viagem e a tarde vai longa. E o Algarve não é ali já. Só de caminho são seis horas, talvez sete, se a ponte de Alcácer do Sal permitir. Caso contrário, arriscamo-nos a demorar mesmo oito ou nove horas.Tudo vai correndo num ambiente animado desde a partida. O tio, irónico como sempre foi, diz umas piadas. A tia ria-se das graçolas e afirma: “O papá tem piada”. A prima insurge-se e grita, num tom ameaçador: “O papá é meu!”. Eu, apesar da tenra idade, registo, anoto, um dia pode ser que seja útil.

A canícula alentejana observa-se. A amargura de uma paisagem tórrida e seca, no meio de uma vasta planície, influencia o tio a parar. É hora de comer as sandes de ovo mexido, beber um Compal e ganhar forças para o resta da viagem.

O tio abre a bagageira e depara-se com um pequeno problema: havia uma ligeira inundação. Terá pensado: “Mas que raio, o que se passará?”O balde, o balde que eu carinhosamente colocara no porta-bagagens entornara água. Previra tudo, não me fosse faltar o mar e agora acontece-me esta. Quem não está a gostar muito da situação é o tio, que ruborizado diz-me: “Então tu trazes-me o balde cheio de água?” Eu fico encolhido e sem dizer nada só me ocorre um pensamento: “Será que o tio volta para trás, deixa-me em casa e já não vou para o Algarve.” Há tanto tempo que andava a planear idas à praia com a prima e agora estou lixado.O tio surpreende, passa-lhe a ira, opta pela brincadeira e goza comigo o resto das férias. Ainda conta ao meu pai, fazendo uso de toda a sua ironia.

O tio não se recorda desta história, porém eu não esqueci, até porque para além de apreender que não se podem colocar baldes com água na bagageira, valorizei o ensinamento que não vale a pena perder tempo com coisas sem importância. É a moral do episódio: ironizar, ironizar e ironizar. Por isso, o meu pai, que não vai muito à bola com as brincadeiras do tio, quando se chateia com os meus gozos, diz, enfurecido: “Lá estás tu com essas piadas à Armando!” A genética tem destas coisas. Ele afirma: “Lá estás tu…” Eu tenho piadas “à Armando”.

Parabéns «Pencas», muitas felicidades e um grande abraço do sobrinho João Queiroz.


Whisky de Sacavém

"Pediu 50 escudos por cada garrafa, eu ofereci 20 e o fulano aceitou sem mais discussão...percebi que o Armando já estava arrependido de também não ter feito negócio."
 Amílcar Camacho … 

Situamo-nos nos anos 1965/6, por aí. Frequentávamos na altura o Externato Pitágoras, a fazer a Secção Preparatória para ingressar no Instituto Comercial.

Uma noite fomos ao Cinema Monumental ver o filme as “ Sandálias do Pescador”, com o Anthony Quinn. Depois do filme, na rua, fomos abordados por um individuo com um saco na mão cheio de garrafas, dizendo ser tripulante de um navio que tinha chegado nessa noite a Lisboa e tinha umas garrafas de whisky para vender baratinhas. Pediu 50 escudos por cada uma, eu ofereci 20 e o fulano aceitou sem mais discussão.

Era Jonhy Walker, com boa aparência, produto de qualidade, do melhor que havia na Escócia. O Armando não quis nenhuma com o argumento que devia ser vigarice.

Fomos descendo a Fontes Pereira de Melo falando no negócio, seria bom…não seria. Se fosse bom tinha sido uma pechincha, na altura uma garrafa de whisky deveria custar mais de 100 escudos, se fosse mau eram menos 20 escudos no bolso. Mas eu percebi que o Armando já estava arrependido de também não ter feito negócio.

Então propus-lhe a cedência de metade do negócio, dava-me 10 escudos e tinha direito a metade da garrafa… o que aceitou de imediato dando-me logo os 10 paus.

Fomos até à Alsaciana, na Escola Politécnica, em grande expectativa para abrirmos a garrafa. Retiramos o invólucro e sob a rolha metálica havia uma rolha de cortiça ainda a cheirar a azeite. O conteúdo não era mais do que chá a imitar whisky.

Volta-se o feitiço contra o feiticeiro…se no início era o Armando a gozar comigo por ter feito o negócio, agora era eu a gozar com ele por não ter resistido à oportunidade da pechincha. Esta garrafa foi parar a Messines, e numa noite de copos, antes de embarcar para o Ultramar… foi servido no Romeu como whisky que parecia, depois do Manel ter trocado parte do chá por medronho.

Amílcar

Rua Malpique, Anos 60

 "...como forma de homenagear o Armando, que também ali viveu na mesma época, achei por bem descrever algumas curiosidades sobre essa rua."
Inácio Neves




Convidado a escrever para um velho amigo que vai festejar o seu aniversário, perguntei a mim próprio: Inácio, onde conheceste o Armando Queirós? De imediato tirei da memória a imagem do Armando e da sua mulher Fátima em frente do restaurante “O Borges”, onde, parece que os estou a ver, acompanhados de mais alguém – presumo que fosse o irmão António- e que, ali mesmo, fez as apresentações.

 E esta recordação faz-me evocar a famosa Rua Malpique, onde conheci o Armando, e onde vivi alguns anos na década de sessenta do século passado. E, como forma de homenagear o Armando, que também ali viveu na mesma época, achei por bem descrever algumas curiosidades sobre essa rua.

Como uma ilha isolada por força da nova urbanização da cidade, com os seus escassos 200 metros de comprimento (começa no numero “111” do campo Grande, junto da livraria e galeria de arte com o mesmo nome, e termina na Alameda da Universidade), a Rua Malpique podia, naquele tempo, ser considerada uma típica vila de Portugal, tal era a diversidade dos seus residentes e a vitalidade da sua atividade diária. E ali residiram e por ali passaram as mais diversas personalidades com talento e méritos reconhecidos.

No número 2 viveu João Lopes Soares, pedagogo e ministro da primeira República, e fundador do Colégio Moderno. Neste mesmo prédio vive hoje o Dr. Mário Soares e a sua mulher Maria Barroso; no prédio com o numero 13 viveu Eduardo Damas e outro compositor que compôs “Ó tempo volta p’ra trás”, uma das cantigas do nosso reportório cantadas pelos melhores fadistas da nossa praça, como foi o caso de Tony de Matos; no número 17 viveu o Sr. Jaime, um artista que trabalhava o ouro e a prata com distinção; no número 13 viveu um alfaiate que tratava a fazenda como ninguém, e a transformava em fatos distintos.

No número 8, em andares diferentes, residiam o Sr. Borges e o Sr. Dias, o primeiro proprietário do famoso restaurante “O Borges” sito no número 6A, sobre o qual o Jornal O Século escreveu que era “onde melhor se comia em Lisboa a seguir a o “Polícia” e à “Tia Matilde””, destacando o seu famoso cozido à portuguesa, que era servido aos domingos. A fama do Borges extravasava a Rua Malpique, pois era conhecido em toda a região de Lisboa. E até ali se tratavam outros negócios: quem quisesse fazer um seguro do carro ou mesmo um seguro de vida, bastava entrar no Borges e perguntar pelo Sr. Justino, e logo saia em segurança. O Sr. Justino não tinha horário mas nunca falhava à hora do almoço.

O Sr. Dias era proprietário da Leitaria Jasmim Vaz sita no Numero 8B e do restaurante Capas Negras sito no 4. O Sr. Dias contratou para empregado um algarvio, como ele, de nome Caetano, que entrou para a leitaria aos 18 anos e é hoje, com 65 anos, proprietário e cozinheiro do Capas Negras. O famoso programa televisivo Zip-Zip era visto no restaurante Capas Negras, que nessas noites enchia por completo.

No rés-do-chão do número 12 residia o digníssimo professor primário Moisés Covita que foi, depois, delegado do ministério público e, mais tarde, figura de relevo na magistratura portuguesa. E no primeiro andar do famoso número 15, no quarto independente, vivia outro digníssimo professor primário de nome Agostinho Gonçalves, que se licenciou em Ciências Geográficas e lecionou em alguns Liceus de Lisboa. E não posso deixar de referir que nos números 39 e 41 viviam o Sr. Rufino, empreiteiro de Calçadas e Passeios, e o Manuel das Bicicletas que se dedicava ao aluguer das mesmas no Campo Grande.

Dada a proximidade da Universidade, na rua Malpique residiam alguns estudantes que frequentavam as diferentes faculdades. No primeiro andar do número 15, a residência mais conhecida era a “Casa da Fernanda” que oferecia albergue a 4 estudantes cuja mensalidade era de 500 escudos por habitação. O quarto individual que ficava ao cimo das escadas estava, muitas vezes noite dentro, ocupado por jogadores de Lerpa.

Esta rua foi, e ainda é, uma das ruas mais seguras de Lisboa. Na década de sessenta era residência permanente de “pides” que faziam do Borges o seu refeitório, e muitos deles ficaram amigos do seu proprietário. Hoje tem um polícia permanente à porta do número 2 que faz a segurança do ex-presidente Mário Soares. .

E foi nesta rua que um dia, na minha presença, o António Queirós anunciou solenemente que tinha arrendado uma casa na Estrada da Torre onde iria residir com o irmão Luís, com o Miguel e com o Barbas. Uma casa onde o António iria dar continuidade ao espirito e à cultura iniciada na Rua Malpique, e sobre a qual se poderão contar muitas histórias..

Como pinceladas de uma aguarela despretensiosa, deixo estes relatos ao aniversariante, desejando-lhe saúde e as maiores felicidades.

 Inácio

segunda-feira, 21 de maio de 2012

Do Sempre Amigo Goulart

 "70 anos de um exemplo impecável de um verdadeiro marido, pai e amigo."
Goulart






Os momentos mais altos na vida de uma família são aqueles em se recordam e celebram as datas marcadas pelos acontecimentos que mais contribuíram para a sua felicidade: os aniversários. E o que hoje celebramos são os 70 anos do meu velho amigo Queirós. 70 anos de um exemplo impecável de um verdadeiro marido, pai e amigo.

Hoje, embora longe, quero estar presente para compartilhar a alegria de todos vós. Um grande abraço com votos de muitas felicidades e muitos mais anos cheios de saúde.

Do sempre amigo Goulart

O Tempo em que as Crianças Eram Garotos...


 "...um sentido de humor profundamente apurado o que denota o prazer e a satisfação de viver."
Amílcar

Remexendo nas minhas memórias longínquos mal me recordo do Armando em S Pedro. Embora não pareça normal é a realidade...é que o Armando era na altura já um rapazito e eu um garoto. A propósito... em conversa argumentou um dia que em S Pedro, ao nosso tempo, não havia crianças...como assim?.. é que só havia garotos...

Já na Guarda inicia a sua vida de trabalho no Gião e decerto pensando ir mais além recomeça os estudos. É que a vida não era nada fácil naqueles tempos, ainda por cima com a espada da guerra em cima da cabeça. Lá foi passar uns tempos a Cabinda, por sinal bem perto onde o pai, José Queirós, tinha estado na ânsia de uma vida melhor.

Perderam-se os contactos frequentes. Vim a reencontrá-lo numa AG do Sindicato dos Bancários em 1973 (?). Lá falamos da agitação sindical que se vivia ao tempo.

Hoje não posso esquecer quando ele, convidado por uns amigos de Lisboa para um almoço em Santarém (que eu organizava) nos viemos a reencontrar com grande surpresa e satisfação de ambos.

Hoje os tempos são outros e vamos convivendo, e é com imenso prazer que reconheço um homem com elevado sentido cívico e cultural, pleno de princípios de vida e com um sentido de humor profundamente apurado o que denota o prazer e a satisfação de viver. Considero serem estes princípios que nos trazem alento e nos proporcionam um dia a dia pleno de satisfação e com capacidade para ultrapassar as adversidades que nos vão aparecendo diariamente.

Assim devem continuar...

Amílcar

O Ano em que Nasceste

"O significado do nome Armando: HOMEM DO EXÉRCITO. Ousadia, Espírito competitivo, Independência, Força de vontade, Originalidade."
Paula


1942. O mundo entrava no terceiro ano da mais devastadora guerra da História: uma Guerra Mundial, com os exércitos mais numerosos e mortíferos jamais vistos.

 Em Portugal vivia-se em paz, conseguida e controlada por uma ditadura que se aproximava da sua primeira década constitucional. Portugal vivia fechado e pobre, mas ainda neutral face à guerra. Internamente, enquanto o marechal Carmona era reeleito e iniciava o seu terceiro mandato, vivia-se entre a escassez do que entrava na boca e o controlo sobre o que dela saía.

Mas, em 1942, cinco anos antes de Roswell e das observações de Kenneth Arnold, também aconteceu o fantástico incidente batizado de ´A Batalha de Los Angeles` .

Um objeto voador não identificado apareceu sobre a cidade de Los Angeles em 25 de Fevereiro de 1942 (semanas após o ataque de Pearl Harbor), acionando todos os alertas de invasão aérea da região. Era um enorme objeto desconhecido e, com medo de que fosse alguma tecnologia dos japoneses, os vários canhões de luz do sistema de defesa da cidade focaram na suposta aeronave, e as baterias anti-aéreas despejaram mais de 2.000 projéteis de 5 kg, de grande efeito explosivo. As sirenes de ataque aéreo de todo a região soaram durante a noite inteira, deixando os moradores apavorados com uma possível invasão japonesa. Pelo menos seis pessoas morreram em consequência direta do ataque do exército ao UFO que, lenta e despreocupadamente, moveu-se na direção da praia de Long Beach até desaparecer completamente.

Agora, mais de 50 anos depois, Steven Lacey revive o caso utilizando as tecnologias disponíveis para lançar novas luzes sobre este mistério. Lacey limpou a imagem utilizando o Photoshop, ampliou-a, aplicou filtros de contraste e brilho até chegar à imagem, que mostra claramente a forma já conhecida pelos ufólogos de um disco voador clássico.

O termo robótica refere-se ao estudo e à utilização de robots, e foi pela primeira vez enunciado pelo cientista e escritor Isaac Asimov, em 1942, numa pequena história intitulada "Runaround".

No final de 1942, estreia o filme Casablanca, um ícone desse tempo, obra maior do cinema. Em Portugal, estreava a primeira longa-metragem de Manuel de Oliveira, Aniki Bobó, uma história sobre desentendimentos de crianças que espelha o mundo dos adultos, com uma mensagem de paz num mundo incendiado pelo conflito.

Talvez estes acontecimentos possam ainda não ter dado a verdadeira perceção de quanto tempo passou desde esses tempos idos de 1942.

Mas vejamos, por exemplo, nesse ano nasceram pelo mundo inteiro, entre muitas outras, grandes personalidades, tais como: Adriano Correia de Oliveira, António Lobo Antunes, Aracy Balabanian, Armando Teixeira Queirós, Bob Hoskins, Calvin Klein, Carlos Cruz, Caetano Veloso, Claude Miller, Daniela Bianchi, Eduardo Cartroga, Eduardo Marçal Grilo, Ernani Lopes, Eusébio da Silva Ferreira, Fradique de Menezes, Gareth Hunt, Gilberto Gil, Harrison Ford, Isabel Allende, Jimi Hendrix, João Mota, José Eduardo dos Santos, Kim Jong-il, Lauro António, Maria Adelaide Amaral, Mário Cabrita Gil, Martin Scorsese, Michael Crawford, Michael Blomberg, Miguel de Kent, Milton Nascimento, Muhammad Ali, Muammar al-Gaddafi, Paul McCartney, Raul Durão, Susana Vieira, Terry Jones, Vasco Lourenço, Vasco Graça Moura...

E por incrivel que pareça, o único que nasceu a 13 de Maio, foi Armando Teixeira Queirós, o economista, o filho, o irmão, o primo, o sobrinho, o marido, o cunhado, o tio, o pai, o avô e para muitos, simplesmente o grande amigo (amigalhaço), o brincalhão, etc., etc.

Mas qual a origem do nome Armando? TEUTÓNICO

E qual o significado do nome Armando: HOMEM DO EXÉRCITO. Ousadia, Espírito competitivo, Independência, Força de vontade, Originalidade.

Mas eu não conheci o Armando em 1942, mas sim em 1989.

Paula

domingo, 20 de maio de 2012

Um grande abraço da Tia Alice

"estou ver aquele rapazinho sempre bem comportadinho, sempre pronto a fazer o que eu e tua mãe pedíamos"
Alice

70 anos? Não posso acreditar pois na minha mente estou ver aquele rapazinho sempre bem comportadinho, sempre pronto a fazer o que eu e tua mãe pedíamos.

 Depois mais tarde já casado e com a Patrícia pequenina. Também nunca esquecerei a maneira como fomos recebidos em tua casa, por ti e pela Fátima. E com a Luísa lembras-te? Ela não conhecia Lisboa e tu sempre brincalhão espetavas-lhe cada mentira, e ela acreditava em tudo, nós desfazíamo-nos a rir. Bons tempos eramos todos mais novos.

Que a felicidade continue porque agora já tens o teu netinho, tens de continuar a contar-lhe essas anedotas, para quando ele for mais crescido se recordar como nós te recordamos. Com isto termino enviando-te muitos mais anos de vida com Paz e Alegria.

Tia Alice

A Paz da Inteligência

  "...tem convicções muito fortes (a de nunca ter usado gravata lá no banco é uma prova evidente!), é bom conversador e bom amigo."
Jacinto



Em 1956, eu, Jacinto, fiz o exame de admissão ao liceu no Liceu Nacional da Guarda, tendo depois pedido a transferência para o Liceu Nacional de Passos Manuel, em Lisboa, regressando novamente ao Liceu Nacional da Guarda em 1962, onde fiz o 7º ano nesse ano lectivo de 1962/1963.

Durante esse ano lectivo fui integrado num grupo constituído pelos Luíses Queirós, Veiga e Rodrigues e pelo Armindo Carvalheira o que me permitiu conhecer os pais do Luís Queirós, não tendo ideia de ter conhecido os irmãos, que, por serem mais velhos, eventualmente já não estariam na Guarda.

Com o 7º ano feito há o ingresso na Universidade, mas o grupo acaba por se dispersar devido às opções de curso e ao local da Universidade (Lisboa, Porto, Coimbra). De qualquer modo havia contactos entre nós com alguma assiduidade, até que, com o fim dos cursos , o serviço militar e a designada guerra colonial, a rapaziada perdeu um pouco os contactos (salvo uma ou outra excepção), agravando-se esta situação com o início da actividade profissional.

É após o 25 de Abril que a rapaziada se volta a encontrar com alguma assiduidade, graças, essencialmente, ao esforço do Luís Veiga, que nos mantém em contacto uns com os outros servindo de elo de ligação entre nós. Em determinado ano (não consigo lembrar qual) inicia-se um ciclo de “patuscadas” entre o grupo e respectivas famílias, alargadas a outros camaradas e amigos e que se realizam essencialmente em casa dos Luises (Veiga, Queirós, Rodrigues).

Tanto quanto me lembro é neste ciclo de patuscadas que conheço o Armando Queirós já com a sua Fátima e a sua Patrícia e uns anos a esta parte com o seu neto Daniel.

Toda esta conversa para quê?, apenas para justificar alguma gafe que no seguimento deste escrito venha a cometer. Por exemplo se eu disser que o Armando é um sacana, os leitores que o conhecem têm toda a liberdade de dizer que é só agora e é da idade, porque não era.

Acontece que há uns anos atrás mudei de casa e vim morar para perto do Armando o que tem permitido, agora, em que os dois temos o estatuto de “aposentado”, nos encontremos, sem ser só nas patuscadas, com alguma frequência: é a passear os netos (eu) e o neto Daniel(ele), é às compras , é na piscina.

É curioso como pessoas nascidas na Beira Alta lá para trás do sol posto, como habitualmente dizemos, depois de seguirem um circuito mais ou menos idêntico, escola e liceu na Beira (aldeia ou Guarda), universidade em locais diferenciados, estadas em África e não só, se vêem encontrar num pequeno canto desta Grande Lisboa! E provavelmente haverá mais pessoas nestas condições, o que me leva a pensar que este assunto devia merecer uma atenção especial a quem anda à procura de temas, que parece que já começam a escassear (os temas) para doutoramentos, pois não ficaria nada admirado se um doutoramento sobre este tema concluísse que a importação da batata diminuiria bastante se a malta das Beiras não se tivesse agasalhado tanto nestes cantos de Lisboa!

Agora que dizer do Armando, para além de lhe reconhecer uma excepcional aptidão para não usar gravata, aptidão que utiliza até ao extremo, negando-se mesmo a não a usar seja em que circunstância fôr, o Armando é um conversador nato e lembra sempre situações reais que se foram passando na sua vivência e que nos fazem pensar e muitas vezes nos levam a tirar conclusões para as situações que se vão vivendo. Pois em tempos actuais é difícil desenvolver uma conversa sem relacionar o estilo de vida actual, nossa, dos nossos filhos e dos nossos netos com o tipo de vida que nós tivemos e com o que tiveram os nossos pais e os nossos avós. Sendo o Armando uma pessoa sensata, com qualidades para analisar e sintetizar correctamente as situações reais, é sempre um prazer dialogar com ele e discutir a problemática do mundo actual, na qual nem sempre se conseguem vislumbrar horizontes com céu limpo, especialmente para as gerações dos nossos filhos e seguintes, sabe-se lá até quando. E esta preocupação não deixa de ser notória no Armando (aliás penso que o é em todos aqueles da nossa geração que temos filhos e netos) que vive intensamente a sua situação de Pai e Avô/Pai.

Mas não penso que o Armando seja uma pessoa angustiada. A sua inteligência ajuda-o a viver em paz, cumprindo metodicamente as tarefas correspondentes às suas obrigações familiares, fazendo os seus exercícios de manutenção na piscina, aproveitando a ida à padaria ou ao supermercado para dar os seus passeios a pé, optimizando o tempo e espairecendo o espírito (ou não tivesse ele sido um bancário, ao que consta, bastante eficiente, razão aliás porque estava, excepcionalmente, dispensado de usar gravata).

Claro que o Armando, como todo o jovem da sua idade vai passando por situações que necessitam ser medicamente controladas. Acontece que há uns dias atrás, quando o encontrava lá pela piscina, parecia-me mais introspectivo do que habitualmente, a sua expressão facial mostrava como que uma “pequena diminuição de juventude” que me andava a deixar intrigado/preocupado. É certo que ia fazer um cateterismo, mas pensava eu, qual o jovem da nossa idade que mais dia menos dia não vai fazer um cataterismo? Finalmente o Armando fez o cataterismo, tudo correu bem, felizmente e ele apareceu na piscina com ar rejuvenescido. Tudo não passava, afinal, de uma certa apreensão relativamente ao exame que ia fazer: É natural. É humano. Como diz o povo, quem tem cu tem medo!

Do que conheço do Armando, e em resumo, sou levado a concluir que é uma pessoa que vive intensamente a família, é muito metódico (embora, penso eu, que gosta de fazer as coisas quando lhe apetece, sem ser pressionado), tem um poder de análise muito realista das situações, tem convicções muito fortes (a de nunca ter usado gravata lá no banco é uma prova evidente!), é bom conversador e bom amigo.

Quanto aos defeitos, lamento não os vou listar senão nunca mais acabo isto e além disso eu não sou queixinhas, ponto final, parágrafo!

Não sei se, com estas minhas tretas, contribuo, um pouco que seja, para que aos vindouros, o Armando seja dado a conhecer, através do testemunho que a Fátima, a Patrícia e o Daniel lhe querem oferecer no seu aniversário e para o qual tive o prazer de ser convidado a dar um pequeno contributo. Mas fiz o possível (dentro do razoável, para a idade).

E termino desejando ao Armando e a toda a sua família as maiores felicidades e por muitos e bons anos. E quando digo bons anos é sem más companhias tipo aquele Alzeimer de que por aí se fala, que é tão malvado que até nos leva a fazer xixi fora do penico e outras coisas ainda menos ortodoxas.

Jacinto Saraiva Baptista