"Pois bem, foi assim que os “ proscritos” da Av. Da República (eu, Queirós e Manuela Vicente) iniciamos um percurso de vida"
Sobral Dias
Estávamos no ano da graça de não sei quantos; já lá vão uns anos. Decorria ainda o século passado quando os estrategas do Banco decidiram remodelar a nossa Direcção. Nela pontuava gente muito qualificada mas não era esse o meu caso e, também por isso, mantive-me sempre distante desse processo. Quási todos os colegas foram rapidamente integrados noutros órgãos do Banco (suponho que de acordo com as suas competências e conveniências) e, quando olhei para o lado, vi-me fazendo parte de um trio que parecia ter peçonha (farto-me de rir, quando me lembro disto!). Os “proscritos”, além de mim próprio, eram o Dr. Armando Queirós e a Dra. Manuela Vicente (daqui para a frente, o Queirós e a Manuela Vicente).
Certo dia o Queirós quis saber se eu teria algum interesse preferencial no enquadramento em algum determinado departamento. A minha resposta foi, obviamente, a mesma que lhe daria hoje se as circunstâncias se repetissem: “ sou empregado do Banco e ao Banco incumbe saber onde eu sou mais preciso “. A curiosidade teve consequências porque me pediu para, na passagem pela Baixa, no meu regresso a casa, ir à Rua do Crucifixo falar com o Dr. Deus Vieira, responsável máximo pelo Planeamento, porque ele tinha interesse em falar comigo. Inteligente, já com grandes créditos de competência e responsabilidade, também directo e afável, recebeu-me bem.
Fiquei a saber que o Planeamento iria integrar e desenvolver o que de marketing (muito incipiente, diga-se) restava da nossa extinta (ou desmembrada) Direcção. Esse “apêndice “ iria ser liderado pelo Queirós e, entre ambos, já teriam acordado que precisariam de alguém com as competências que eu poderia desempenhar tendo em conta alguma experiência, supostamente, por mim adquirida durante a minha passagem de alguns anos pelas Informações Comerciais. Segundo eles, essas competências poderiam ajudar a “ espiolhar!” uma boa parte do que o Banco precisaria para desenvolver uma política de agressiva concorrência.
Estávamos numa altura em que as garras e a ambição do Eng.º Jardim Gonçalves pareciam querer “ abocanhar” tudo quanto era comércio bancário. O Dr. Deus Vieira não precisou de me prometer “mundos e fundos” para eu aceder ao convite. Pus uma única condição: não violaria os meus princípios éticos de respeito pela verdade para obtermos as informações que procurássemos. Algumas vezes me desrespeitei a mim próprio mas não me pesa na consciência a prática desviante de princípios básicos que prejudicasse fosse quem fosse e seja impeditivo de S. Pedro me franquear as portas do “Reino de Deus!”.
Pois bem, foi assim que os “ proscritos” da Av. Da República (eu, Queirós e Manuela Vicente) iniciamos um percurso de vida que, a partir do r/c da Rua do Crucifixo até ao 4º. Andar da Rua dos Sapateiros. Em boa verdade, a ascensão física aos andares superiores, correspondeu, quanto a mim, também ao valor e à importância que a nossa colaboração mereceu aos olhos de quem a recebeu. Humildemente, eu não passei do 2º andar. O desenvolvimento do nosso trabalho processou-se sempre harmoniosamente sempre no sentido de prevalecer o interesse do Banco e em obediência a quem em nós confiou.
Agora, à distância e tendo em conta o sucesso que, modestamente, fomos alcançando, pode parecer que esteve subjacente qualquer estratégia de tudo fazermos para nos afirmarmos, dizer que existíamos e que merecíamos ser considerados. Nada disso. Acontece até que é a primeira vez que me ocorre essa eventualidade. Já nos conhecíamos minimamente mas fomos desenvolvendo uma amizade às vezes “resmungada e rezingada” mas genuína e verdadeira. Parece estranho que personalidades tão diferentes se conjugassem tão bem sem nada abdicar de si próprios. Seria matéria de estudo para uma tese de mestrado em sociologia.
(continua)
Sobral Dias
O Sobral anda aprender umas palavras novas. Deve ser nas madrugadas, que passa na Internet. Os velhos já não precisam de dormir muito.
ResponderEliminarProscritos?
Na verdade nós éramos: “Feios, Porcos e Maus” que era o nome de um filme que andou por aí nessa época.
Como nos portámos bem, lá deixámos de ser Porcos e Maus.
Feios, é que se tornou vitalício.