quarta-feira, 13 de junho de 2012

Vindima na Seramena

"fomos utópicos, idealizamos que era possível construir uma sociedade democrática, onde prevalecesse a justiça social. "
Eduardo João



Falar do meu amigo Armando Queirós é ao mesmo tempo um enorme prazer, mas também uma dificuldade. Não cabe num pequeno texto, como se pretende que seja esta minha breve intervenção, tudo quanto havia para dizer sobre este nosso particular amigo.

Conheci o Queirós em 1969 ou 1970, não posso precisar exactamente, também não recordo o local onde o conheci, provavelmente em Económicas ou no nosso Sindicato. Mas tenho a certeza de que já tinha ouvido falar no seu nome. Talvez através de um seu conterrâneo, filho da sua professora de instrução primária, que conheci, quando fui trabalhar para a Banca, ou, eventualmente, do nosso amigo “nabo acrílico” conhecidos dos tempos do Instituto Comercial de Lisboa, que falava do Queirós com grande admiração pelos seus vastos conhecimentos de matemática.

Não nos foi difícil consolidar uma amizade sólida, após nos conhecermos pessoalmente e contactarmos com frequência em Económicas, já na presença da nossa querida Fátima, ou no Banco onde trabalhamos durante muitos anos.

Temos origens semelhantes, nascemos em pequenas aldeias, embora distantes no espaço, ele na Beira Alta Raiana eu na Região Oeste. Somos filhos de famílias modestas, mas que, no entanto, nos transmitiram os ideais democráticos, a consciencialização política e o gosto pela aprendizagem e pelo conhecimento.

Vivemos intensamente o 25 de Abril de 1974, fomos utópicos, idealizamos que era possível construir uma sociedade democrática, onde prevalecesse a justiça social. Julgamos que essa sociedade estava já ali ao virar da esquina. Tivemos vitórias pessoais, discutimos algumas vezes esses pequenos êxitos e apesar da nossa frustração de vermos cada vez mais distante aquela sociedade que idealizávamos, foi um tempo muito gratificante, que valeu a pena viver. Embora na mesma empresa nunca trabalhamos juntos, mas encontrávamo-nos com frequência, almoçamos muitas vezes com outros amigos comuns e o tema das nossas conversas andava por norma à volta dos nossos ideais, como não podia deixar de ser.

Não poderei esquecer uma tarefa que desempenhávamos anualmente com outros amigos, diria quase uma “peregrinação”, a vindima na Seramena, um dia pleno de festa e de convívio, hoje impossível de repetir. Os anos passaram, perguntamos a nós próprios, como foi possível que o nosso País tenha chegado onde chegou? Preocupa-nos designadamente o futuro dos nossos netos. Mas estamos de consciência tranquila, porque em nada contribuímos para esta situação.

Resta-nos aproveitar o melhor possível, as nossas disponibilidades e o nosso tempo, embora dispersos podemos e devemos encontrar-mo-nos mais vezes para almoçar e conversar um bocado. “Recordar é Viver” Um grande abraço caro amigo Armando Queirós.

Eduardo João

1 comentário:

  1. O Eduardo João, como outros colegas do ISCEF e, ao mesmo tempo, do Banco também não se lembra onde me conheceu primeiro.
    Ouviu falar de mim ao filho do Prof. Luzia, meu professor da 1ª.classe. Ouviu também referências a um outro colega “que falava do Queirós com grande admiração pelos seus vastos conhecimentos de matemática”.
    Aqui vale a pena esclarecer que os meus conhecimentos não eram por aí além, simplesmente, em terra de cegos… a resolução de qualquer problema através duma simples equação do 1º. Grau, deixava esse colega de boca aberta.
    Eu também não me lembro quando nos encontrámos pela primeira vez.
    Mas o Eduardo João só se conhece verdadeiramente depois de ir à Seramena e contactar com a sua família, a Cila, os pais, a irmã, a tia Carolina, os vizinhos e os muitos amigos que por lá tem.
    A vindima na Seramena era, de facto, uma festa. Até, talvez mais festa do que vindima. Desde o convívio na vinha enquanto se apanhavam umas uvas, as sardinhas assadas com vides, o pisar das uvas e, a rematar, a ginjinha em casa da tia Carolina, era uma paródia pegada.
    Nessas alturas, o anfitrião esquecia o que o economista tinha aprendido nas sebentas, e não fazia contas para não ter que apurar o prejuízo que estes assalariados lhe davam.
    Todos sabíamos que o prazer de nos receber, superava o prejuízo que lhe dávamos

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