sábado, 16 de junho de 2012

(2) A Minha Defesa - Destruiram o Meu Curriculo

"Só lhes faltou dizer que nos primeiros tempos trabalhei de borla e que o primeiro salário (também se dizia pré) era de 5 escudos por dia."
Armando


Espero que este não leia blogs
Todos sabiam que eu sou “do norte”, o que até dá um certo estatuto. Mas não precisavam de dizer, dando a conhecer a toda a gente, que venho lá duma terra que nem consta nos mapas ou, quando muito, só lá está uma pintinha, e que o curso de água que lhe deu o nome é um rio seco..

Mas não se ficaram por aqui. Quando dizia a alguém que tinha nascido na Casa da Varanda, uma casa que até deu nome a um jornal, via logo as pessoas a imaginarem-me, em pequeno, à janela de um solar beirão ou a brincar nos jardins anexos. Mostrada a fotografia e descrita a casa, ninguém diz nada mas pensam: “Afinal….”

Nem os da Escola Primária me pouparam. Como é que alguém ia descobrir que para conseguir fazer a quarta classe tive que suportar as bordoadas da D. Lia e aguentar aulas do nascer ao pôr-do-sol? E como se não chegasse, acrescentam ainda que nem um carrinho de corda tínhamos, só brincávamos à Chona, ao Beti, ao Picachão, ao Rilha…. Alguém minimamente civilizado, sabe o que isto é? Vá lá que não se lembraram de dizer que batemos numa colega porque nos denunciou à professora. Uma espécie de fura greves. (Agora que o crime já prescreveu já posso dizer: acho que fizemos bem)

A história da cabra também me incomodou um bocado. Ainda se fosse um rebanho, ainda vá que não vá, agora só uma cabra…Dizer que um indivíduo, em pequeno, foi pastor, já seria razão suficiente para o afastar de qualquer evento social. Quando, afinal, não passou de guardador de uma única cabra, o que é que se espera?

Os anos na Guarda “onde os pais tinham uma pensão” era o que toda a gente pensava e continuaria a pensar, não fossem uns “imprudentes” vir agora a alardear que afinal não passava de uma tasca, onde até ajudei a servir uns copos, nem sempre de boa vontade, diga-se.

Então quando chegamos à história do primeiro emprego, já não tenho dúvidas, estou aqui estou todo encarrapato. O assunto poderia ter sido abordado com outra dignidade; “foi convidado para integrar os quadros da Casa F. Gião, uma prestigiada firma da área da electrónica, onde conseguiu atingir cargos de alta responsabilidade na Divisão Comercial daquela empresa”. Assim, sim. Agora dizer:”foi para a Guarda e a D.Dores arranjou-lhe emprego, como marçano, no F. Gião”. Ao menos, ajudante de caixeiro, também não custava muito, era só uma pequena promoção.

Só lhes faltou dizer que nos primeiros tempos trabalhei de borla e que o primeiro salário (também se dizia pré) era de 5 escudos por dia. Para os que pensam que naquele tempo nem devia ser mau, digo-lhes que 5 escudos chegavam para duas sandes ou, mais ou menos, para três cafés.Não fosse o Ti Zé Queirós e a Ti Aida, lá teria que ir para o Centro comer e dormir, entregando os 5 escudos à D. Dores, como faziam os meus colegas que não tinham família na Guarda.

Armando
(segue)


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