quarta-feira, 13 de junho de 2012

Lições a uma Jovem Retornada

"disseste que, nas passadeiras,  quando o boneco estava vermelho podiam atravessar as mulheres e quando estava verde atravessavam os homens! eu pensei: “são bastante conservadores”!"
Luísa Queiroz


Quando recordo os primeiros tempos da nossa convivência quando vim de África, sem nunca antes de ela ter saído, sempre me vem um sorriso aos lábios e um certo prazer à memória! Após pouco tempo em São Pedro, o Armando e a Fátima convidaram-me para passar uns dias com eles na sua casa em Lisboa!

Comecei a sentir que a Europa e África apresentavam francas diferenças entre si!

Na altura já tinha sido informada que pelo facto de não deixar de ver casas durante uns bons Km, entre Lisboa e Santarém não significava que Lisboa não tivesse já ficado para trás e estivesse noutra cidade. Mas muito ainda tinha que aprender!

O Armando sempre solícito não deixou de esclarecer algumas das minhas dúvidas. Quando após uma semana em Lisboa, finalmente reparei que junto aos semáforos havia uns “bonecos de pessoas” que ora eram vermelhos ora eram verdes e perguntei para que serviam aquelas imagens, rapidamente, e com alarmismo me disseste que provavelmente andava a atravessar as passadeiras contra a lei, porque quando o boneco estava vermelho podiam atravessar as mulheres e quando estava verde atravessavam os homens! Estranhei esta separação entre homens e mulheres, mas pensei, “são bastante conservadores”!

Mas tu confiavas na minha capacidade de aprendizagem! Quando andávamos de carro por Lisboa por vezes dizias: – Se te deixar agora aqui, já consegues ir para casa sozinha! Nem te conto a quanto subia o meu ritmo cardíaco após essas afirmações.

E quando vi a praia da Costa da Caparica do local do restaurante do Barbas, nem queria querer que tantas pessoas pudessem caber naquele espaço de areia e água, nunca tal tinha visto, mas sei que também me deste uma boa explicação porque apesar de não me lembrar o que foi sempre que recordo essa imagem tenho vontade de rir (no meu inconsciente ainda persiste a tua explicação) doutra forma só poderia chorar, com saudades das praias da minha terra.

Mas também recordo muito bem a tua imagem com uma camisola velha com decote em “V”, no qual a Patrícia era metida com o corpo dentro e os bracitos fora do decote (um marsupial humano). Uma alegria para vós e para mim, só de apreciar o vosso prazer.

Mas tínhamos algo em comum! O amor pelos livros. Ainda me lembro de ler alguns dos teus nessa altura: Capitães da Areia, O Valente Soldado Chveik e mais alguns!

Obrigada Armando! Por tudo o que fizeste por mim e por esse teu sentido de humor único, que eu muito aprecio.
Luísa

2 comentários:

  1. Até aos meus 33 anos nem uma irmã, nem uma prima com o nome Queirós.
    Quando aparece uma jovem vinda do outro lado do mundo, onde até os automóveis andavam ao contrário e que de Portugal sabia o nome de todos os rios, serras e estações de caminho de ferro, mas não imaginava onde é que ficavam, é evidente que me senti na obrigação de lhe ensinar qualquer coisa.
    À primeira vista, via-se logo que não era loira e, portanto, a tarefa não ia ser difícil.
    Aprendeu de imediato que a não chamar “geleira” a um frigorífico e a não dizer “uma farm” em vez de uma quinta.
    Também lhe ensinei a andar na rua e, em especial a atravessar passadeiras. Estou convencido que terá aprendido bem, já que não me consta que tenha sido vítima de atropelamentos.
    Só não percebo porque é que lhe ficou na memória a forma como lhe ensinei a regra dos semáforos. Será que não me terei explicado bem?
    Sinto um peso na consciência se, por acaso, ficou com alguma dúvida.
    E como os anos não passam só para mim, a Luísa cresceu e agora já vê coisas que eu nunca conseguirei atingir.
    Como é que foi descobrir que no fundo do meu olho, bem lá no fundo, anda a crescer uma coisa a que chama catarata?
    E se calhar anda a crescer mesmo…

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  2. Donde se conclui que este Cândido tem o sentido de humor de um verdadeiro bandido.
    Bom era que ele se dispusesse a ensinar certas coisas ao Relvas!

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