"O Armando obrigou-me a comer um bocado de fígado grelhado. Tive que o
comer com o nariz tapado pois aquele cheiro era insuportável."
Nuno
É com imenso prazer que escrevo algumas palavras sobre o Armando Queirós, pessoa que, independentemente ser membro da família, é um homem com grandes e excelentes qualidades e aproveito para lhe desejar um feliz aniversário.
Antigamente no relacionamento familiar não havia grande confiança pois a família via-se com pouca regularidade, devido à grande distância entre a capital e a região onde vivo, pois na altura eram no mínimo cinco horas de viagem.
Na maior parte das vezes víamo-nos durante o período de férias de verão, pois elas acabavam sempre com uma visita familiar na capital portuguesa. Nessa altura o nosso contacto era uma vez por ano, no máximo duas.
Já era de esperar que o jantar fosse em casa do Armando ou então nalgum sítio onde eu gostava, tipo feira Popular ou algum restaurante perto de escadas rolantes (o que eu gostava de andar naquela modernice!).
Mesmo assim com o Armando ainda íamos tendo algum contacto porque por vezes passávamos férias juntos. Lembro-me de Armação de Pera ou na sua casa de férias na Fuzeta.
Devido ao próprio desenvolvimento natural das coisas a distância foi-se encurtando e a família conseguiu juntar-se mais vezes, criando melhores relações.
Comecei a ir para Lisboa sozinho e então o expresso parava no Campo Pequeno. A única coisa que eu conhecia era a paragem do 47 para ir para Telheiras e acabar em casa do Armando.
Certo ano decidi pedir trabalho a Luís na Marktest, como fizera o meu irmão. Uma grande oportunidade para começar a conhecer Lisboa e ocupar algumas semanas das longas férias que antes tínhamos na escola.
Meti-me no expresso da Joalto e lá fui eu para Lisboa, direcção Campo Pequeno e apanhar o 47 para Telheiras.
Nesse ano o meu primeiro alojamento foi em casa do António e depois de chegar a casa do Armando foram-me por ao Lumiar.
No dia seguinte ia iniciar a minha árdua tarefe de trabalhar em Lisboa e então o António deu-me as indicações de como chegar à Marktest: “ Vais ali até ao Centro comercial do Lumiar e vês a paragem de autocarro. Apanhas o 1 ou o 36 para a Avenida da Liberdade, depois já te orientas”. E assim foi. Quando vi a paragem de autocarro fiquei ali à espera. Apareceu o 36 e lá fui eu à espera de chegar ao centro de Lisboa. Mas este autocarro só passava por sítios estranhos, que eu não conhecia e fui parar a um bairro esquisito, penso que era a Musgueira. Deixei-me estar e perguntei ao motorista se ia para o centro. Eu era mesmo saloio, consegui enganar-me do lado da paragem do autocarro.
Depois, passadas duas ou três semanas, fui viver para casa do Armando. Ali fazia a minha caminhada diária até ao Carrefour e nos fins de semana íamos para Montesouros onde ajudava na agricultura biológica que se praticava naquele quintal.
Um dia desses, no almoço, o Armando obrigou-me a comer um bocado de fígado grelhado. Tive que o comer com o nariz tapado pois aquele cheiro era insuportável.
Ele fez isto porque eu era um bocadinho esquisito com a comida e então o Armando dizia que ia fazer de mim um homem e iria chegar à Covilhã a comer de tudo. Quase que conseguiu.
Enfim, foi bom recordar estas histórias.
Havia ainda tanto para dizer sobre o Armando, mas depois digo-lhe pessoalmente que isto de escrever leva muito tempo.
É de louvar o esforço mantido pela família para que os laços vão sendo cada vez mais fortes e apertados e neste aspecto destaco a contribuição que o Armando tem dado neste sentido. Por fim, só tenho que agradecer por seres meu tio………..
Nuno Queiroz
Se obriguei alguém a comer fígado, o delito terá sido mesmo grande. Nunca aplicaria tamanho castigo por dá cá aquela palha.
ResponderEliminarPenso que hoje, já muito mais maduro, seria incapaz de tal crueldade.
Do Nuno, lembramos sempre o seu encanto pelas escadas rolantes e as suas milhentas anedotas que incluíam sempre um francês, um espanhol e um português.
Mas o que merece ficar registado é a sua subtileza para a apreciação da estética feminina.
Num almoço na Serra, com muita gente, o Nuno fixa bem o rosto da única senhora que ali era tratada por Dona, olha bem de frente e diz-lhe: “Tu tens cá uma bigodaça…” e repete para o caso de não ter ouvido: “Tu tens cá uma bigodaça…”
A senhora só dizia: “Este Nuno é tão engraçado”, o Norberto e a Maria Emília não sabiam onde se haviam de meter, eu e o Camacho fingíamos que tossíamos para conter o riso.
Não é que o Nuno, desta vez tinha razão.