segunda-feira, 11 de junho de 2012

Nâo Brinquem com a Terceira Idade!

"O que é preciso agora é agarrar o presente, encarar o futuro absorvendo um momento de cada vez"
António de Almeida


Corria o mês de Fevereiro do ano do Senhor de 1982, tínhamos menos 30 anos, mais cabelo e menos cãs. Enfim … outros e melhores tempos.

Cidade da Praia, hotel do Mar. Estirados nas cadeiras contemplávamos o movimento da praia, que se estendia à nossa frente, com aquele ventinho sempre a soprar na mesma direcção, colocando as árvores todas com a inclinação para o mesmo lado.

Igualmente íamos contemplando a azáfama que por trás de nós se desenvolvia no hotel, com todas aquelas mulatinhas achocolatadas seringando de um lado para o outro, a aprender a arte da restauração, sob a batuta de uma equipe francesa, de que fazia parte uma anafada francesa, mulheraça grande e gorda, a vender saúde, que de quando em quando, pela calada do crepúsculo, lá passava enroscando sob o seu forte braço um engenheiro português das Construções Técnicas. O nosso ar embevecido e com água a assomar ao canto (ou seria aos cantos…) da boca quando passava aquela linda mulatinha de cabelos loiros e olhos verdes, parecendo surgir do Éden. Não recordo o nome. A miúda era mesmo um espanto sobressaindo do resto do pessoal, pelo seu exotismo. Como será hoje passados estes 30 anos? Certamente que se transformou numa lontra rodeada de filhos. Terão igualmente olhos verdes e cabelo loiro?

Quando te chamávamos a atenção para aquela linda cabo-verdiana, tu invariavelmente respondias: “cuidado não brinquem com a terceira idade”. Tinhas 40 anos. Terceira idade! O tanas. Nem agora, com 70 anos, os cabelos mais ralos, mais brancos e a barriguinha a mostrar alguma protuberância.

Os fins de semana com os seus bailaricos de sábado à noite ao som dos Bolimundo ou dos Tubarões, connosco a apreciar o ar dançarino dos autóctones, ou ainda as idas aquele bar a céu aberto, onde se bebia whisky a 35$00 cabo-verdianos e, não raras vezes, a noite acabava com algum, do parco mobiliário existente, qual animal alado, voando pelo ar, encontrando, por vezes, alguma cabeça mais distraída, antes de cair no chão.

Os azafamados chineses, que agora se instalaram em África e querem comprar a Europa, tendo assentado arraias em Portugal, já naquele tempo andavam por terras de Cabo-Verde, na construção da Assembleia Popular.
 
Meu Caro Armando. Com ou sem terceira idade no horizonte, o passado é passado. O que é preciso agora é agarrar o presente, encarar o futuro absorvendo um momento de cada vez e, para não amocharmos muito, temos de pegar a troika pelos cornos … da desgraça, como o Tordo agarrou o touro, na cantiga do Ary.

Desejo-te um óptimo 70.º aniversário.

António de Almeida

1 comentário:

  1. Ao que uma pessoa chega.
    As voltas que o mundo dá.
    Há 30 anos dizia: “cuidado não brinquem com a terceira idade”.
    Agora, cheguei aos 70 e é uma brincadeira pegada. Basta ver os comentários que tenho feito neste blog. Mas não sou só eu, há por aí uns rapazes do meu tempo que também se têm divertido.
    Quando éramos novos, se víssemos os nossos pais a brincar, dizíamos que estavam gagás. Será que alguém agora diz o mesmo de nós?
    Nunca se sabe

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