"Deixaram-me em pelota. Não precisavam de me ter feito isto."
Armando
Quando aqui há um mês me ofereceram um blog, a pretexto do meu 70º aniversário, fiquei todo contente. E o caso não era para menos, de repente vejo-me com um brinquedo na mão a que nem é preciso dar corda, alguém dá por nós, que é como quem diz; o blog é meu mas os outros é que escrevem.
Também fiquei entusiasmado ao admitir que todos iriam falar bem de mim. E não me enganei muito, tirando para aí um gentio que disse: “o gajo não presta” o balanço até é positivo.O pior foi o que estava para vir. Ninguém contava. Os administradores não o fizeram por mal, os amigos também não, mas o que é verdade é que ninguém mediu as consequências.
Eu que tinha uma versão das minhas origens e do meu passado, das minhas histórias e da descrição das minhas viagens, conforme o estatuto do interlocutor, agora que foi posto tudo a limpo só me resta meter a viola no saco e não aparecer mais à frente de ninguém.Deixaram-me completamente encarrapato, nu, encoiro, despido, em pelota, demplão. E só não digo descascado, porque não se utiliza no masculino. Formas do verbo descascar é só para mulheres e é quando são novas e boas.
E agora? Como é que vou passar o resto da vida em pelota? Ainda se tivesse para aí uns 40 ou 50 anos a menos, ainda vá que não vá. Quem é que vai ligar a um velho, encoiro?Não sei o que hei-de fazer. Já me lembrei de seguir as orientações governamentais e pisgar-me daqui para fora, mas também não resolve. Em qualquer canto do mundo, no lugar mais remoto, qualquer cidadão, através do Google, teria acesso à minha nudez.
Como é que os vizinhos, a empregada do café, os antigos colegas, os companheiros de viagens, os adeptos do Benfica, os confrades do Bucho, os consórcios de todos os clubes e associações de que faço parte e até os amigos dos meus amigos, vão olhar para mim a partir de agora?
E logo eu, que tudo fiz e inventei para ganhar um ar mais ou menos respeitável e que se ia consolidando à medida que a cabeça ficava mais branca. Era respeitado por toda a gente, para uns era o “Senhor Armando”, para outros o “Senhor Queirós” e os que não sabiam o meu nome diziam simplesmente “O Senhor”. E havia até quem, com nome ou sem nome, acrescentasse “Senhor Doutor”, como a tia Carolina da Seramena.
A partir de agora, em termos de tratamento, devo passar a ser conhecido simplesmente por: “O Armando”. E já me dou por satisfeito, se não me arranjarem alguma alcunha pejorativa, derivada de encarrapato, de demplão ou de encoiro ou, sabe-se lá, se não inventam outra pior. Há gente para tudo.
Não precisavam de me ter feito isto.
(Segue)
Saludos grandes para ti, Cãndido!
ResponderEliminarE para a Fátima, que é uma felizarda!
E para a Patrícia, que te tem como pai!
E para o Daniel, que ainda não sabe a sorte que lhe saiu!