terça-feira, 5 de junho de 2012

Nesta Casa não Há Nada Para Comer?

"nenhum de nós viu sinal de comida, mas como connosco estava sempre ou a Fátima ou o Armando, não podíamos comentar tal facto."
Moisés Covita e Alice


Talvez no verão do ano de 1967, não sei ao certo, descia eu com o António Queiroz a parte central da Av. Da Liberdade em Lisboa, quando o António me disse que no outro passeio da Avenida, perto da Cervejaria Ribadouro, seguia um irmão dele, o Armando, indicando-me quem era. Disse-lhe se não ia ter com ele, mas, logo, resposta pronta como é de seu jeito: agora não me apetece. Continuámos o passeio. O António já na altura era mesmo assim.

Foi naquele dia que conheci ao longe o Armando Queirós, vindo a privar com ele mais de perto quando foi viver para um quarto alugado na casa da D. Virgínia, sita na antiga Rua de Malpique nº12 R/chão Esq., ao Campo Grande, onde eu vivia no mesmo prédio no R/chão Dto., também em quarto alugado.

Entretanto fui cumprir o serviço militar obrigatório, em Mafra, Tancos, Açores e Angola e perdi-lhe um pouco o rasto, sabendo que tinha casado com a Fátima, tão querida por todos nós e foi viver para Queluz onde cheguei a ir uma ou duas vezes a casa dele. Já muitos anos volvidos e quando ainda habitava na sua primeira casa de Telheiras, encontrei-o com a Fátima, quando íamos votar na mesma assembleia, numas eleições legislativas, cuja data não posso precisar. Comigo ia a Alice e a Rita e António Queiroz, tendo-nos o Armando dito para irmos à noite a casa dele assistir às sondagens e resultado das eleições e petiscar qualquer coisa.

Aceitámos a oferta e antes das sete horas da tarde lá aparecemos todos em casa. Estivemos na sala e cozinha e nenhum de nós viu sinal de comida, mas como connosco estava sempre ou a Fátima ou o Armando, não podíamos comentar tal facto.

Sabido quem foi o partido vencedor, já não interessava mais estar tão perto da TV e então, a Fátima e Armando ausentaram-se por alguns momentos. Nós aproveitámos logo para comentar: querem ver que nesta casa não há nada para comer? - Eis senão quando, passados alguns instantes, nos chamam para a cozinha e como por ilusionismo, nunca vi em tão pouco tempo sair para a mesa tanta e tão variada comida, ou do forno do fogão ou do frigorífico ou da despensa.

Ficámos pasmados e só tivemos tempo de olhar uns para os outros e de pensar que afinal o comentário mordaz que tínhamos feito na sala, não tinha nenhuma razão de ser.

Este episódio agora contado, só serve para repor uma injustiça momentânea de um mau juízo de valor que fizemos sobre um casal que afinal é tão franco, como grande de alma.Espero contar mais um destes episódios quando a Patrícia e a Fátima me pedirem outra vez para escrever qualquer coisa no livro a publicar nos 100 anos do Armando.

Até lá, apraz-me registar que no almoço familiar que o António, o Luís e o Armando organizaram na última Quadra Natalícia, estive presente com a Alice, sentindo-me integrado naquela família, como se também de sangue a ela pertencesse.

Moisés Covita

1 comentário:

  1. “Este episódio agora contado, só serve para repor uma injustiça” diz o Moisés.
    De facto, a justiça em Portugal é lenta. Quantos anos passaram para esta reparação?
    De qualquer maneira é de louvar que tenha sido feita justiça, por iniciativa de um ilustre magistrado do Ministério Público, sem custas judiciais e sem necessidade da intervenção de um advogado.

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