"...da mítica colina de Monte Abraão não pode ser dissociado um dos
mais importantes carros em que já andei: o inesquecível Fiat 600D."
Anselmo Cavaleiro
- Entre o Quelhas, Monte Abraão e Mem Martins
Neste percurso de convívio no Quelhas e na profissão cabe aqui recordar a casa de Queluz, na colina de Monte Abraão, o novo lar do jovem casal, e verdadeiro quartel general, onde várias cadeiras foram preparadas até às duas e três da manhã.
Mas desta mítica colina de Monte Abraão não pode ser dissociado um dos mais importantes carros em que já andei: o inesquecível Fiat 600D. Transportava-nos todas as noites do Quelhas até Queluz, onde eu apanhava o comboio e seguia para casa, em Mem Martins.
Seguramente era o mais vistoso e importante carro da frota automóvel que em cada noite estacionava no Quelhas.
Este mesmo carro ficou também famoso pelas grandes viagens ao estrangeiro, que proporcionou ao casal Queirós. Numa dessas viagens em que, creio, o casal foi assaltado em Sevilha, fui chamado, por telefone, para enviar os meios financeiros necessários para o seu regresso. Outras viagens se seguiram por toda a Europa, até Moscovo, característica muito interessante e bem elucidativa do gosto do casal pelo turismo e pelo conhecimento de outros povos e países. Entretanto, o tempo de Económicas aproximava-se do fim. Não sei porquê mas recordo de forma particular o ano de 1973, o penúltimo do curso e o último da ditadura. Notava-se algo de diferente no ambiente social e político, com dissenções na superestrutura do regime e o agudizar das tensões quanto às saídas para o problema colonial. Aqui recordo o lançamento do livro do General Spínola, “Portugal e o Futuro” e a controvérsia que suscitou em diferentes sectores da sociedade portuguesa.
Tenho bem presente as horas que passámos a discutir o tema, e como as nossas posições eram bem diferentes: a minha mais alinhada com a via preconizada pelo General e a do Queirós claramente contrária a soluções do tipo neocolonial, fruto da sua maior consciência política. Curiosamente, passados estes anos, em função do sofrimento e destruição porque passaram aqueles povos e do que fizeram de Portugal - um protectorado à beira do abismo - continuo a pensar que tinha sido preferível a via do General para o acesso daqueles povos à independência. Com o ano de 1974 o Curso chegou ao fim. Económicas e o Quelhas ficaram para trás, iniciando-se uma nova fase da carreira profissional, enquanto ia acontecendo o processo de transformações sociais e políticas na sociedade portuguesa.
Não sei como é que o Armando Queirós avalia o Curso e a passagem pelo Quelhas.Nunca falámos sobre este assunto.
Da minha parte considero da maior importância na minha formação a passagem pelo Quelhas, mas não gostei muito do Curso. O meu desejo era ter seguido Economia noutro contexto, e não como estudante trabalhador, mas as circunstâncias da vida não o permitiram. O Curso foi muito acidentado, realizado num ambiente social e político propício à agitação estudantil e ao oportunismo, sendo claramente insuficientes as horas lectivas e de trabalho consagradas à generalidade das Cadeiras. O Programa de Curso e o Corpo Docente, globalmente considerado, ficaram aquem das expectativas, do meu ponto de vista.
Fica a recordação de alguns bons Professores e também de Colegas com quem partilhámos uma sã e agradável convivência e cujos nomes resistiram nas nossas memórias ao desgaste do tempo.
Recordo aqui o Lourenço Figueira (falecido há muitos anos), a Augusta e a Laurinda, o Augusto e a Rita, o Cipriano, o Conceição Santos e o António Loreto.
(continua)
Anselmo Cavaleiro
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