sábado, 28 de julho de 2012

A caminho de Rio de Mel


"Como numa crónica de uma comezaina anunciada, sabemos antecipadamente que não vamos partir uma sardinha por dois"


Alguém contou, numa História de Vida: “Às vezes, havia uma sardinha para cada um, quando não, era partida por dois” Mais do que um relato pessoal é o estigma de uma geração.
Quem é que ainda não ouviu a estória da sardinha para dois? São ainda muitos os que a contam na primeira pessoa.
Os mais novos também já a repetem mas acrescentam: “No tempo do meu avôNo tempo do meu pai”. Outros tempos.

Também já lá vão os tempos que em S. Pedro do Rio Seco, o ti Belmiro chegava ao fim da tarde de Vilar Formoso, atrás de um burro que carregava uma caixa de sardinhas, tocava a corneta e era ver as mulheres de prato debaixo do avental para um quarteirão ou para meio quarteirão. Com o meio quarteirão sempre se ganhava meia sardinha. A aritmética tem destas coisas.

Foi nesses tempos, que numa excursão de S. Pedro, só um dos passeantes deu cabo, na Nazaré, de catorze sardinhas. Alarvice que não deixou de ser comentada com espanto por todo o povo e que ficou para as memórias da nossa geração.

Agora, que os tempos já são outros, no Escondidinho, em Lagos, o Gilberto anda de mesa em mesa de grelha na mão, deixando mais uma, até que se lhe diga: basta. Alguns, mais exibicionistas, deixam nas paredes inscrições com um nome e uma data, seguidos de 40…, 45…, 56… sardinhas.

É também o tempo de, neste preciso momento, 11h 30m do dia 28 de Julho, em Rio de Mel, o Luís Rodrigues estar já acender o carvão e a Emília a descascar umas batatas para pôr ao lume.
As sardinhas, vindas já hoje do mercado de Trancoso esperam pacientemente por um bando de malfeitores que pelas estradas e linhas de caminho de ferro confluem na sua direcção, ávidos de vê-las a pingar.
Como numa crónica de uma comezaina anunciada, sabemos antecipadamente que não vamos partir uma sardinha por dois, ninguém vai contar as cabeças que ficarão no prato, e nas paredes não ficarão assinalados os nossos desmandos gastronómicos.

Esta sardinhada é já um ritual com uma longa tradição e é um pretexto para um encontro, entre outros, de antigos companheiros de uma turma do Liceu da Guarda que mantêm, desde aí, uma sã relação de camaradagem.
A primeira vez, apareci como um outsider, à pendura do meu irmão Luís. Esta intromissão acabou por ser mais um elo para reforçar uma relação de amizade que já mantinha, de outras paragens, com o casal de Rio de Mel e que o próprio Luís Rodrigues considera, em texto anterior neste blog, como “ ...uma extensão natural derivada da ligação familiar”.
Neste mesmo blog escreveu o Luís “ Nas sardinhadas, em Rio de Mel só tive a sorte de o apanhar e à Fátima três vezes. Espero vê-lo por cá mais vezes” e a Emília confirmou: “Aqui em Rio de Mel apenas três vezes o Armando e a Fátima nos presentearam com a sua visita.

Como acreditamos na sinceridade do seu convite e porque temos muito prazer em participar neste convívio. (para além das sardinhas, claro.) aí vamos nós a caminho e quase a chegar.
Aumentamos espectacularmente, desta forma, o número das nossas presenças em 33,3%. Quantos governantes não gostariam de incrementos, desta ordem, em alguns indicadores?

Quanto a compromissos para os próximos anos, atingimos aquela idade em que os velhos costumam dizer “ se ainda cá andarmos.” Como somos optimistas quanto a esse ponto, preferimos pensar que lá estaremos se os “gaspares” (*) ainda o permitirem.


(*) O corrector de texto não gosta desta palavra e dá como alternativas: gaseares, gastares, aspares,    raspares, gaspeares
“Raspares”, não seria uma má alternativa ou até, ainda melhor: “Rapares

Sem comentários:

Enviar um comentário

Comente este post